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BC deve renovar títulos
todo dia, diz ex-diretor
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O diretor do Itaú e ex-diretor do
Banco Central Sergio Werlang defende que o BC passe a rolar boa
parte da dívida interna no "overnight", ou seja, que os títulos da
dívida pública sejam renovados
diariamente. Para ele, a rolagem
da dívida interna não preocupa,
como "nunca preocupou no Brasil", mas desde que o BC aceite fazer esse encurtamento de prazo.
Em sua opinião, a redução dos
prazos deveria ser aplicada até
mesmo aos títulos cambiais (corrigidos pela variação do dólar),
com vencimentos de um mês ou
de uma semana.
Ele avalia que o espaço do BC
para cortar os juros diminuiu
muito devido à recente alta do dólar. "É muito provável que o BC
mantenha os juros [em 18,5% ao
ano"", disse.
Folha - A rolagem da dívida interna é preocupante?
Sergio Werlang - Nunca há preocupação com a rolagem da dívida
no Brasil, nunca houve. O que o
BC tem de fazer, e provavelmente
vai fazer, é encurtar o prazo da dívida. Em fevereiro de 1999 estava
em seis meses. Antes disso, o prazo médio era ainda menor, chegou a dois meses.
Folha - É possível que o BC tenha
de rolar LFTs (títulos corrigidos a
juros de mercado) como no "overnight" (com vencimento de um dia
para o outro)?
Werlang - Não tenho dúvida de
que uma parte terá de ser assim.
Não digo rolar todo o volume,
porque não é tudo que está vencendo, mas certamente boa parte.
Não vejo problema nenhum, não
há nenhuma contra-indicação, isso já foi feito no Brasil várias vezes. Acho apenas que não adianta
insistir num prazo médio grande,
e o BC está vendo isso e está diminuindo [o prazo".
Folha - O BC leiloou títulos com
prazo de vencimento neste ano,
mas não conseguiu vender tudo. Isso não é um forte indício de que o
BC tem hoje dificuldade para rolar
a dívida?
Werlang - Para mim, isso quer
dizer que o BC tem de encurtar
mais os prazos. Não conseguiu
vender tudo, isso significa que vai
ter de rolar o resto no curto prazo.
Folha - Se o BC encurtasse ainda
mais o prazo, teria vendido tudo?
Werlang - Pode encurtar até o
"overnight". Em períodos de estresse, é o que ele tem de fazer.
Folha - Rolar só LFTs no "overnight" ou o BC deveria fazer isso
também com outros papéis?
Werlang - Podem ser títulos
cambiais curtíssimos, de uma semana, de um mês.
Folha - Os bancos hoje estão com
recursos em caixa em excesso, mas
mesmo assim evitam títulos públicos. O BC deveria, por exemplo, aumentar a alíquota do recolhimento
compulsório (dinheiro retido no BC
sem remuneração)?
Werlang - O BC sempre pode
aumentar o compulsório, mas o
impacto é parecido com o aumento dos juros. O que o BC tem
de fazer hoje é encurtar o prazo
dos títulos, não aplicar taxas punitivas de remuneração ao capital
excedente dos bancos, e começar
a tomar dinheiro no "overnight".
Folha - O BC deveria intervir no
dólar agora?
Werlang - Acho que não tem de
intervir em hora nenhuma.
Folha - Para a reunião do Copom
deste mês, em sua opinião, ainda
há espaço para o corte dos juros?
Werlang - O espaço está diminuindo. Com a alta do dólar, haverá muito repasse para os preços. Ele ainda poderia baixar [os
juros", porque a tendência de inflação tem sido de baixa. Se houvesse uma certeza de que não haveria repasse da Petrobras para os
preços [dos combustíveis", o BC
poderia ter uma certa tranquilidade, mas provavelmente não terá
essa certeza. Então é muito provável que o BC mantenha os juros.
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