São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002

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BC deve renovar títulos todo dia, diz ex-diretor

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor do Itaú e ex-diretor do Banco Central Sergio Werlang defende que o BC passe a rolar boa parte da dívida interna no "overnight", ou seja, que os títulos da dívida pública sejam renovados diariamente. Para ele, a rolagem da dívida interna não preocupa, como "nunca preocupou no Brasil", mas desde que o BC aceite fazer esse encurtamento de prazo.
Em sua opinião, a redução dos prazos deveria ser aplicada até mesmo aos títulos cambiais (corrigidos pela variação do dólar), com vencimentos de um mês ou de uma semana.
Ele avalia que o espaço do BC para cortar os juros diminuiu muito devido à recente alta do dólar. "É muito provável que o BC mantenha os juros [em 18,5% ao ano"", disse.

Folha - A rolagem da dívida interna é preocupante?
Sergio Werlang
- Nunca há preocupação com a rolagem da dívida no Brasil, nunca houve. O que o BC tem de fazer, e provavelmente vai fazer, é encurtar o prazo da dívida. Em fevereiro de 1999 estava em seis meses. Antes disso, o prazo médio era ainda menor, chegou a dois meses.

Folha - É possível que o BC tenha de rolar LFTs (títulos corrigidos a juros de mercado) como no "overnight" (com vencimento de um dia para o outro)?
Werlang
- Não tenho dúvida de que uma parte terá de ser assim. Não digo rolar todo o volume, porque não é tudo que está vencendo, mas certamente boa parte. Não vejo problema nenhum, não há nenhuma contra-indicação, isso já foi feito no Brasil várias vezes. Acho apenas que não adianta insistir num prazo médio grande, e o BC está vendo isso e está diminuindo [o prazo".

Folha - O BC leiloou títulos com prazo de vencimento neste ano, mas não conseguiu vender tudo. Isso não é um forte indício de que o BC tem hoje dificuldade para rolar a dívida?
Werlang
- Para mim, isso quer dizer que o BC tem de encurtar mais os prazos. Não conseguiu vender tudo, isso significa que vai ter de rolar o resto no curto prazo.

Folha - Se o BC encurtasse ainda mais o prazo, teria vendido tudo?
Werlang
- Pode encurtar até o "overnight". Em períodos de estresse, é o que ele tem de fazer.

Folha - Rolar só LFTs no "overnight" ou o BC deveria fazer isso também com outros papéis?
Werlang
- Podem ser títulos cambiais curtíssimos, de uma semana, de um mês.

Folha - Os bancos hoje estão com recursos em caixa em excesso, mas mesmo assim evitam títulos públicos. O BC deveria, por exemplo, aumentar a alíquota do recolhimento compulsório (dinheiro retido no BC sem remuneração)?
Werlang
- O BC sempre pode aumentar o compulsório, mas o impacto é parecido com o aumento dos juros. O que o BC tem de fazer hoje é encurtar o prazo dos títulos, não aplicar taxas punitivas de remuneração ao capital excedente dos bancos, e começar a tomar dinheiro no "overnight".

Folha - O BC deveria intervir no dólar agora?
Werlang
- Acho que não tem de intervir em hora nenhuma.

Folha - Para a reunião do Copom deste mês, em sua opinião, ainda há espaço para o corte dos juros?
Werlang
- O espaço está diminuindo. Com a alta do dólar, haverá muito repasse para os preços. Ele ainda poderia baixar [os juros", porque a tendência de inflação tem sido de baixa. Se houvesse uma certeza de que não haveria repasse da Petrobras para os preços [dos combustíveis", o BC poderia ter uma certa tranquilidade, mas provavelmente não terá essa certeza. Então é muito provável que o BC mantenha os juros.



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