São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO TENSO
Produção cai, economia não dá sinais de reação e iene continua a se desvalorizar; Bolsas voltam a cair
Japão tem primeira recessão desde 75

Associated Press
Operador da Bolsa de Tóquio massageia colega em dia em que o governo japonês anunciou que o país está em recessão; iene sofre desvalorização


MARCIO AITH
de Tóquio

O Japão, país que tem a segunda maior economia do mundo, está oficialmente em recessão.
A Agência de Planejamento Econômico do Japão, subordinada ao governo, divulgou ontem que o PIB (Produto Interno Bruto) do país caiu 1,3% em termos nominais de janeiro a março deste ano, em relação ao trimestre anterior, projetando queda de 5,3% considerando o dado anualizado.
Segundo a definição internacional, há recessão quando o PIB de um determinado país diminui durante dois trimestres seguidos. A economia japonesa já havia encolhido 1,5% nos últimos três meses do ano passado, considerando dados anualizados.
O anúncio teve um significado adicional. No Japão, o ano fiscal começa em abril de um ano e se encerra em março do ano seguinte. Portanto, o dado do primeiro trimestre de 1998 encerra o cálculo do ano fiscal de 1997/1998, fechando com uma queda de 0,7%.
É a primeira vez desde o ano fiscal 1974/1975 que a economia do Japão entra em recessão.
"Eu não estou querendo reduzir a importância do número que acabo de divulgar, mas ainda acho que, com as medidas necessárias, é possível atingir a meta de crescimento para esse ano", disse Shimpei Nukaya, vice-ministro da agência governamental que calculou o dado.
Nukaya referiu-se à meta de 1,9% de crescimento do Japão, definida pelo governo do primeiro ministro Ryutaro Hashimoto e cada vez mais irrealizável.
Refletindo o anúncio de recessão no Japão, o iene voltou a cair, fechando a 144,5 por dólar no mercado de câmbio japonês, o mais baixo valor dos últimos oito anos. A Bolsa coreana caiu 8%.
Todas as Bolsas da região perderam na semana, uma das mais turbulentas do ano: Coréia caiu 11,5%; Tailândia, 12,2%; Hong Kong, 7,6%; e Cingapura, 6%.
O Japão consome 60% da produção asiática e a crise econômica do país -principalmente seu reflexo na cotação do iene- está destruindo a recuperação dos países afetados pela crise cambial e financeira de 1997.

Juro de 0,5% ao ano
Dividida pela primeira vez desde o início da crise asiática, a diretoria do Banco Central do Japão decidiu manter a política monetária do país. Depois de uma reunião de oito horas, os nove diretores decidiram, por maioria de votos, manter as taxas de juros do país em 0,5% ao ano, as mais baixas da história. A decisão quase sempre é por unanimidade.
A situação dos juros japoneses é estranha para um observador ocidental. Uma das medidas mais conhecidas para reativar a economia de um país é reduzir suas taxas de juro. No caso japonês, país no qual elas já são excessivamente baixas, mas mesmo assim a população tem um dos maiores índices de poupança do mundo, vários especialistas estão propondo elevar os juros para dar mais dinheiro aos consumidores.

EUA
Hashimoto visita os Estados Unidos logo depois das eleições em julho. O mercado espera que ao menos até lá o governo tome iniciativas para intervir no mercado de câmbio.
Uma declaração de ontem do secretário do Tesouro norte-americano, Robert Rubin, levou os investidores a concluir que os EUA não irão intervir no mercado, deixando o Japão sozinho para resolver seus problemas. Rubin afirmou que o Japão só irá sair da crise estimulando sua economia.
"O sinal de Rubin foi claro. O iene vai continuar a cair. Os EUA parecem que vão tolerar um iene mais fraco", disse Bronwyn Curtis, economista da Nomura, a maior corretora japonesa.
Em abril, o governo japonês divulgou o maior pacote de estímulo à sua economia em toda a história. Cerca de US$ 150 bilhões, ou 2% de seu PIB, serão gastos em obras e na reestruturação de bancos.
Apesar de seu valor, o pacote não está mudando o ânimo no país, e o primeiro-ministro enfrenta uma oposição cada vez mais forte. Ontem, Hashimoto sobreviveu ao requerimento de três partidos oposicionistas que haviam pedido um voto de não-confiança contra o governo por causa da crise econômica.
Hashimoto manteve-se no poder porque seu partido tem maioria no Parlamento. Em julho haverá eleições para renovar a Casa Alta, uma espécie de Senado Federal. As eleições não são decisivas, mas darão um retrato da popularidade de Hashimoto.
Segundo pesquisas, o índice de aprovação de seu governo é o mais baixo desde que virou primeiro-ministro, no início de 1996.




Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.