São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

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ANÁLISE
Depressão mundial volta a preocupar

GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas

A maior diferença entre a nova onda de tremores asiáticos e os episódios anteriores está na identificação do epicentro. Agora, Japão e China são as maiores preocupações. Antes, a tendência parecia restrita aos tigres de várias gerações (da Tailândia à Coréia do Sul, passando pela Indonésia e Malásia).
O Japão é a segunda maior economia do mundo. A China, o principal receptor de investimentos estrangeiros. Crises mais profundas nessas economias podem afetar diretamente as condições no centro do sistema, os EUA e, em menor grau, a União Européia. Em resumo, aumentam as chances da crise regional tornar-se global.
Mas uma crise global não apareceria necessariamente sob a forma de uma catástrofe instantânea. A correção para baixo em Bolsas dos EUA e da UE, por exemplo, pode ocorrer de modo gradual, na medida em que o crescimento mundial cai.
Há um círculo vicioso em operação. A queda no crescimento asiático afeta o desempenho de empresas européias e norte-americanas. O aumento das importações e a queda de exportações nos EUA e na UE também contribuem para uma redução no crescimento econômico.
Num segundo momento, é o crescimento menor nos EUA que passa a prejudicar as empresas japonesas, chinesas e outras da região. O principal problema pode ser menos o de uma súbita correção nas principais Bolsas do mundo e mais o de uma depressão em escala global. Projeções especializadas já apontam para a redução do crescimento norte-americano para uma taxa, ao final de 1998, inferior a 2%.
Nesse contexto, os pacotes de estímulo à economia que os governos ocidentais cobram dos japoneses podem ser apenas uma gota num oceano de tendências negativas mais amplas. Simplesmente a dívida privada acumulada é grande demais e de retorno muito duvidoso.
O caso chinês é semelhante. Além da queda nas vendas externas, o sistema financeiro chinês está enredado em dívidas de retorno duvidoso, o que também limita o alcance de políticas voltadas à expansão da economia doméstica. Nas últimas semanas, aumentaram as apostas contra a taxa de câmbio, seja na China, seja em Hong Hong.
Não há solução interna ou regional viável, na China ou no Japão. E o crescimento no centro do sistema econômico mundial está em franca desaceleração.
Para os mais pessimistas, agora só mesmo um milagre pode evitar uma nova depressão mundial na virada do milênio.



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