São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

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MERCADO TENSO
Países da região reconhecem que efeitos internos foram desastrosos, bem piores que os imaginados antes
Desvalorização da moeda fracassa na Ásia

de Tóquio

Depois de 11 meses do início da crise monetária na Ásia, as economias da região estão exibindo efeitos ainda piores que os imaginados pelos governos e pelo FMI no início do ano.
Destruídas pela fuga de capitais, pela falta de crédito e por uma crise social crescente, Coréia do Sul, Indonésia, Tailândia, Malásia e Hong Kong anunciaram nos últimos dias que suas economias encolheram numa proporção assustadora.
E reconheceram que a estratégia escolhida para sua recuperação -alavancar as exportações com um câmbio desvalorizado- não está dando certo.
O exemplo mais marcante é o da Coréia do Sul, onde até as estimativas anteriores, consideradas exageradamente pessimistas, revelaram-se exageradamente positivas.
O PIB (Produto Interno Bruto) coreano encolheu 3,8% no primeiro trimestre de 1998 (comparado com o mesmo período do ano passado), o pior resultado dos últimos 18 anos.
Até o dia em que o índice foi divulgado, o FMI e o governo do país projetavam para 1998 uma redução de 1% da economia. Estão revendo o número. O instituto de pesquisa da Samsung calcula que o PIB coreano sofrerá redução de 5% no ano, e o desemprego vá atingir 8%.
A balança comercial do país tem apresentado superávits comerciais nos últimos sete meses, mas as razões para esse resultado também não são saudáveis -resultam de uma queda de cerca de 40% nas importações, um efeito da desaceleração do consumo doméstico. Mesmo as exportações do país estão caindo. Em maio, ficaram 2,2% abaixo das apresentadas no mesmo mês do ano passado.
"Isso me preocupa porque a recuperação do país parece cada dia mais difícil", disse Hong Ki-seok, economista do Instituto Coreano de Desenvolvimento, ligado ao governo.
Para tentar elevar suas exportações, os coreanos reduziram ainda mais os preços de seus produtos eletrônicos. O resultado revelou-se irrisório para as exportações, mas devastador para a Tailândia, cujas vendas de eletrônicos despencaram em janeiro justamente por causa da competição da Coréia.
A economia da Malásia, a que cresceu mais rápido nos últimos dez anos em todo o mundo, teve uma redução do PIB de -1,8% no primeiro trimestre, o pior resultado desde 1980. O governo esperava crescer 1,7% em 1998 e já está revendo suas contas.
Hong Kong esperava ter um crescimento de 3,5% do PIB em 1998. No dia 29 passado, anunciou que houve uma redução de 2% nos três primeiros meses de 1998. Foi a primeira vez que a economia de Hong Kong encolheu nos últimos 13 anos. O secretário de Finanças da ilha, Donald Tsang, teve de reconhecer que não faria mais previsões para o ano. "Desisto", disse ele.
Os sinais indicam que no segundo trimestre o desempenho de Hong Kong irá ficar ainda pior.
O governo soltou um pacote para dar mais liquidez aos bancos (reduzindo a pressão sobre as taxas de juro) e para incentivar o turismo, cujo movimento caiu 25% no primeiro trimestre. Não adiantou muita coisa.
A crise em Hong Kong e o iene fraco afetam até a economia de Taiwan, imune desde o início da turbulência na Ásia. (MARCIO AITH)



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