São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Argentinos decidem manter limite a produtos brasileiros

Pedido do Brasil, de fim das restrições à entrada de diversos itens, não foi aceito

O Brasil argumenta que, devido ao controle das compras, as exportações brasileiras crescem menos do que as de outros países

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

O governo da Argentina se opôs ontem ao pedido do Brasil para pôr fim às restrições que limitam a entrada no país de uma lista de produtos brasileiros -entre eles calçados, têxteis e eletrodomésticos.
"A sinalização que recebemos é que o governo gostaria de continuar com os acordos de restrição [que estabelece cotas máximas de vendas brasileiras]", afirmou o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, após se reunir com o secretário de Indústria argentino, Miguel Peirano. A negociação será retomada em agosto, data da próximo encontro da Comissão de Monitoramento de Comércio.
No caso dos sapatos, contou Ramalho, o governo argentino fez uma contraproposta ao setor brasileiro, presente à reunião: continuar com o sistema de cotas, mas reajustar a quantidade máxima importada de acordo com a evolução da economia argentina no período.
O governo brasileiro foi à reunião munido de estatísticas que mostram que o controle das compras, pela Argentina, fez com que as exportações do Brasil ao país crescessem menos do que as de outras origens.
O mercado de sapatos tem o panorama mais desfavorável ao Brasil. Limitada até junho a uma cota anual de 13,5 milhões de pares, a venda de sapatos brasileiros à Argentina cresceu 0,1% (4.000 pares mais) na comparação entre os cinco primeiros meses de 2006 e o mesmo período de 2005.
Os calçados chineses, porém, entraram com força no vizinho no intervalo: 1,1 milhão de pares a mais -incremento de 91,4%. O Brasil, que em 2005 detinha 70% das importações totais, agora detém 53%. Em menor escala, a situação se repete para têxteis, onde a presença chinesa também aumentou, e para refrigeradores, fogões e máquinas de lavar.
"Não há justificativa para ter restrição ao Brasil quando as importações de outros países estão crescendo de uma maneira acentuada", disse Ramalho.
Segundo ele, o pressuposto dos acordos aceitos pela indústria brasileira era ajudar a indústria argentina e já foi cumprido. "No caso dos sapatos, a recuperação argentina aconteceu. Mas essa questão do desvio de comércio nos perturba muito, ao governo e aos exportadores brasileiros."
Ramalho argumentou que, sem as limitações, a indústria brasileira de sapatos tem competitividade para lutar pelo mercado argentino com os chineses.
Segundo o secretário, se o setor aceitar a proposta argentina de continuar com as cotas, o país vizinho deverá controlar a entrada de produtos de outros países. O instrumento usado seriam as licenças de importação concedidas pelo governo.


Texto Anterior: Papa-tudo: Condenação de Falk é mantida pela Justiça
Próximo Texto: Indústria cresceu menos em junho, afirma Mantega
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.