São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Moeda americana vai a R$ 3,15; Banco Central deve voltar ao mercado e vai fornecer crédito externo para empresas

Disparada do dólar recomeça, BC vai intervir

ANA PAULA RAGAZZI
FABRICIO VIEIRA

DA REPORTAGEM LOCAL

A contínua falta de dólares no mercado e a incerteza política levaram a mais um dia de forte desvalorização do real. Mas a alta do dólar fez com que o Banco Central desse início a uma ofensiva, por ora apenas verbal, para conter a retomada da crise cambial. O BC pode voltar a vender dólares e, mais importante, vai empregar parte das reservas internacionais para fornecer crédito às empresas brasileiras, que tiveram as portas fechadas no exterior.
Ontem o dólar subiu 4,47%, para R$ 3,155. O risco-país subiu 10,8%, para 2.221 pontos.
A conclusão do acordo entre o Brasil e o FMI não solucionou o problema mais urgente do mercado: a falta de liquidez.
Como o crédito internacional para empresas brasileiras está quase zerado, devido à incerteza política no país e à aversão ao risco dos investidores globais, as empresas compram dólares para quitar seus débitos.
A tensão aumentou na semana passada, quando o Banco Central anunciou que deixaria de oferecer sua ração diária de US$ 50 milhões. A partir de então, o mercado passou a pressionar o dólar como uma forma de testar o BC e de ver qual será a forma de atuação da instituição -se continuará vendendo dólares, em que momentos e em quais quantidades.
O presidente do BC, Armínio Fraga, afirmou ontem que a venda diária de dólares pode voltar, mas de "maneira menos programada". Segundo ele, o BC poderia voltar a vender certa quantidade de dólares por dia, durante certo tempo, mas não formalizaria a decisão -não a comunicaria oficialmente ao mercado.
"A minha idéia é dar mais liquidez ao mercado do que a gente vinha dando antes. A idéia de suspender a intervenção diária de US$ 50 milhões foi minha, não é do FMI. Foi tomada com a visão de que vivemos um momento de alta volatilidade, de insegurança. Isso leva um tempo para passar, e nesse ambiente seria melhor ter flexibilidade", disse. O BC vendeu dólares ao mercado em quantia não revelada ontem.
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, afirmou ontem que o governo trabalha na solução do problema da falta de crédito para as empresas brasileiras, mas que não haveria uma "resolução dramática de um dia para o outro". "A retomada será gradual."
"Nós estamos estudando algumas formas de fazermos uma intervenção pontual, financiando linhas, oferecendo linhas de comércio, fazendo algum tipo de leilão voltado exclusivamente para essa necessidade. O BNDES vem trabalhando com o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento", com o financiamento em dólar que o BID forneceria", disse.
Malan disse que a possibilidade de utilização dos recursos do BID e do Bird (Banco Mundial) para novas linhas de crédito ainda está em discussão. Pelo que já foi acertado, mas ainda precisa de aprovação da diretoria do BID, haverá um empréstimo de US$ 1 bilhão para o BNDES ampliar os financiamentos aos exportadores.

Dívida pública vencendo
Um outro fator a pressionar o dólar ontem foi o início da rolagem de US$ 2,5 bilhões em títulos cambiais que vencem na próxima quinta. O resultado não foi dos melhores. O mercado aceitou apenas 1,3 mil dos 2,1 mil contratos oferecidos com prazo de vencimento em novembro. Nem mesmo a taxa de 33,7% anuais que o BC pagou foi o suficiente para convencer os investidores.
Os contratos que tiveram venda integral foram de curtíssimo prazo, com vencimento em 2 de setembro, à taxa de 27,96%, e em 20 de setembro, à taxa de 31,08%.
Com a operação, o BC conseguiu rolar apenas US$ 600 mil.
"O resultado mostra a forte demanda para ter dólares em mão", afirma Pedro Thomazoni, do Lloyds TSB. "Nem se cogita aceitar um papel de prazo mais longo, que englobe o risco eleitoral."


Com a Sucursal de Brasília

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