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EM TRANSE
Moeda americana vai a R$ 3,15; Banco Central deve voltar ao mercado e vai fornecer crédito externo para empresas
Disparada do dólar recomeça, BC vai intervir
ANA PAULA RAGAZZI
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A contínua falta de dólares no
mercado e a incerteza política levaram a mais um dia de forte desvalorização do real. Mas a alta do
dólar fez com que o Banco Central
desse início a uma ofensiva, por
ora apenas verbal, para conter a
retomada da crise cambial. O BC
pode voltar a vender dólares e,
mais importante, vai empregar
parte das reservas internacionais
para fornecer crédito às empresas
brasileiras, que tiveram as portas
fechadas no exterior.
Ontem o dólar subiu 4,47%, para R$ 3,155. O risco-país subiu
10,8%, para 2.221 pontos.
A conclusão do acordo entre o
Brasil e o FMI não solucionou o
problema mais urgente do mercado: a falta de liquidez.
Como o crédito internacional
para empresas brasileiras está
quase zerado, devido à incerteza
política no país e à aversão ao risco dos investidores globais, as
empresas compram dólares para
quitar seus débitos.
A tensão aumentou na semana
passada, quando o Banco Central
anunciou que deixaria de oferecer
sua ração diária de US$ 50 milhões. A partir de então, o mercado passou a pressionar o dólar como uma forma de testar o BC e de
ver qual será a forma de atuação
da instituição -se continuará
vendendo dólares, em que momentos e em quais quantidades.
O presidente do BC, Armínio
Fraga, afirmou ontem que a venda diária de dólares pode voltar,
mas de "maneira menos programada". Segundo ele, o BC poderia
voltar a vender certa quantidade
de dólares por dia, durante certo
tempo, mas não formalizaria a
decisão -não a comunicaria oficialmente ao mercado.
"A minha idéia é dar mais liquidez ao mercado do que a gente vinha dando antes. A idéia de suspender a intervenção diária de
US$ 50 milhões foi minha, não é
do FMI. Foi tomada com a visão
de que vivemos um momento de
alta volatilidade, de insegurança.
Isso leva um tempo para passar, e
nesse ambiente seria melhor ter
flexibilidade", disse. O BC vendeu
dólares ao mercado em quantia
não revelada ontem.
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, afirmou ontem que o governo trabalha na solução do problema da falta de crédito para as
empresas brasileiras, mas que não
haveria uma "resolução dramática de um dia para o outro". "A retomada será gradual."
"Nós estamos estudando algumas formas de fazermos uma intervenção pontual, financiando linhas, oferecendo linhas de comércio, fazendo algum tipo de leilão voltado exclusivamente para
essa necessidade. O BNDES vem
trabalhando com o BID [Banco
Interamericano de Desenvolvimento", com o financiamento em
dólar que o BID forneceria", disse.
Malan disse que a possibilidade
de utilização dos recursos do BID
e do Bird (Banco Mundial) para
novas linhas de crédito ainda está
em discussão. Pelo que já foi acertado, mas ainda precisa de aprovação da diretoria do BID, haverá
um empréstimo de US$ 1 bilhão
para o BNDES ampliar os financiamentos aos exportadores.
Dívida pública vencendo
Um outro fator a pressionar o
dólar ontem foi o início da rolagem de US$ 2,5 bilhões em títulos
cambiais que vencem na próxima
quinta. O resultado não foi dos
melhores. O mercado aceitou
apenas 1,3 mil dos 2,1 mil contratos oferecidos com prazo de vencimento em novembro. Nem
mesmo a taxa de 33,7% anuais
que o BC pagou foi o suficiente
para convencer os investidores.
Os contratos que tiveram venda
integral foram de curtíssimo prazo, com vencimento em 2 de setembro, à taxa de 27,96%, e em 20
de setembro, à taxa de 31,08%.
Com a operação, o BC conseguiu rolar apenas US$ 600 mil.
"O resultado mostra a forte demanda para ter dólares em mão",
afirma Pedro Thomazoni, do
Lloyds TSB. "Nem se cogita aceitar um papel de prazo mais longo,
que englobe o risco eleitoral."
Com a Sucursal de Brasília
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