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OPINIÃO ECONÔMICA
Complexo de inferioridade
BENJAMIN STEINBRUCH
Não sou psiquiatra e nem
entendido na matéria, mas
sei que um discípulo de Freud, Alfred Adler, criou a denominação
"complexo de inferioridade" no
início do século passado. Na definição de Adler, esse sentimento é
um estado neurótico que tem por
fundamento uma sensação de insuficiência e incapacidade para
enfrentar a vida e seus problemas.
Adler afirmava, por exemplo,
que todas as crianças são profundamente afetadas por sentimento
de inferioridade, por causa de seu
tamanho e da falta de poder.
Mas, para a criança, esse complexo é positivo, porque desperta nela o desejo de crescer e de ficar forte como os adultos.
O Brasil deve estar vivendo ainda a sua fase infantil, porque
muitos brasileiros são duramente
afetados pelo complexo de inferioridade. Preferem o produto
importado ao nacional, curvam-se à cultura estrangeira, usam termos em inglês sem nenhum pudor e aceitam como verdadeiros
comentários sobre o Brasil independentemente da origem, desde
que venham do exterior.
Em quase todos os ramos, o brasileiro parece ter vergonha dele
mesmo, exceto no futebol. Aliás,
até no futebol o complexo de inferioridade tem prosperado ultimamente. O Brasil foi finalista nas
Copas de 1994 e de 1998, mas, apesar disso, os brasileiros não se
convenceram de que poderíamos
ter a melhor seleção do mundo na
Copa deste ano. Só aqui não se
acreditava na seleção. No seu incrível complexo de inferioridade,
o brasileiro não conseguia enxergar as virtudes de atacantes como
Ronaldo e Rivaldo e considerava
nossa defesa como uma das piores
do mundo. Bastou começar a Copa do Japão/Coréia para que o
mundo todo indicasse o Brasil como favorito. Só aqui continuaram as críticas e o complexo de
inferioridade.
Durante a Copa, um amigo
americano encantou-se com o Hino Nacional brasileiro e a bandeira verde-e-amarela. A pedido dele, providenciei uma versão do hino em inglês e algumas explicações sobre o significado das cores
da bandeira. Ele ficou admirado
com o que leu. "Puxa, vocês têm
uma forma diferente de serem patriotas. Cantam a beleza e a natureza muito mais do que as guerras e as conquistas."
Confesso que nunca havia pensado nisso. É claro que devemos
ser críticos. O país não pode avançar sem isso e temos problemas
demais para resolver, principalmente na área social. Mas isso
não pode nos levar ao cultivo de
um doentio complexo de inferioridade, que nega valor a algumas
qualidades e vantagens incontestáveis: sexta população mundial,
nona economia, grande produção
de alimentos, auto-suficiência em
quase tudo e capacidade tecnológica e gerencial em muitos setores
industriais altamente competitivos, que nos permitem participar
em pé de igualdade com grandes
corporações do mundo globalizado.
O complexo de inferioridade
impede o brasileiro até mesmo de
acreditar em coisas positivas que
vê e lê sobre o Brasil, suas empresas e sua gente. Incrédulo e asfixiado por um turbilhão de notícias ruins, quando surge um fato
favorável ele o considera bom demais para ser verdade e se agarra
na falsa convicção de que há alguma coisa por trás de tudo, já
que o rato não pode ser mais forte
do que o gato. Começa, então, a
procurar chifre em cabeça de cavalo. Adler, o discípulo de Freud,
explica.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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