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LUÍS NASSIF
É a política, estúpido
Ficou famosa a frase do
assessor de Bill Clinton
sobre a campanha eleitoral
norte-americana, alertando
para o tema que no final prevalece. Vale o inverso para a
mudança do modelo econômico e para o novo salto que o
país experimentará nas próximas décadas: é a política,
estúpido!
Sem consenso nacional, batalhado no campo das idéias e
dos conceitos, sem a adesão
dos diversos setores que compõem a sociedade, não se
avançará mais do que guerras retóricas.
Não se está mais no país dos
tenentes nem dos generais.
Tampouco no país do populismo ou de outros momentos
da história nos quais um grupo detinha uma idéia e a
transformava em bandeira
salvadora.
Nas últimas semanas, procurei traçar um quadro das
potencialidades que o país
acumulou nessas décadas
perdidas, como idéias inovadoras avançaram em várias
frentes, a maneira como o
país se sofisticou. Falta agora
a arrumação política, que é o
ponto crucial.
Os diversos centros de pensamento inovador pouco conversam entre si. Grandes corporações, elite acadêmica,
APLs, economistas desenvolvimentistas, diplomacia, área
militar etc. O "estalo de Vieira" que precipitará o processo
de crescimento se dará no momento em que todos se olharem e se verem partes de um
mesmo corpo, somando e trocando competências -aprimoramento da gestão, busca
da inovação, investimento em
educação e saúde, ousadia diplomática, integração física
do continente, parceria com
as subsidiárias de multinacionais.
É dessa visão integral de
país que emerge o sentimento
de nacionalidade capaz de
empurrá-lo em direção ao futuro, com todas as peças funcionando simultaneamente.
É por isso que o conceito de
pacto faz todo o sentido. E
pacto implica relações prévias
civilizadas no campo político.
Há valores que não podem ser
desrespeitados, menos ainda
pelos que são poder, como a
impessoalidade no trato da
coisa pública, o respeito aos
direitos individuais, à liberdade de imprensa.
E há que cuidar da retórica.
Na política, valem os atos e
valem as declarações. A guerra das idéias se dá em um círculo restrito de pessoas.
Quando as velhas idéias são
superadas, gradativamente
as novas idéias começam a
conquistar círculos maiores,
até chegar ao último estágio
-o dos cultivadores de clichês. Hoje os chamados "desenvolvimentistas" no governo são muito mais atacados
pelo desperdício da retórica
do que pelas idéias.
Como toda guerra de idéias,
as vitoriosas se impõem sobre
as moribundas, o que estimula o espírito aguerrido que povoa as grandes discussões públicas. Mas, se se perder de
vista a idéia do pacto, se se
permitir que os embates eleitorais criem um racha, se se
passar a sensação de que
idéias serão colocadas a serviço de interesses partidários ou
conspiratórios, será mais uma
oportunidade perdida e a reedição das polarizações políticas do passado.
O país já tem as condições
para a virada. Mas só conseguirá desatar esse nó górdio o
governante que conseguir
pairar acima das paixões partidárias.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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