São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SETOR FINANCEIRO

Selic cai dez pontos, mas ganho das 4 maiores instituições sobe 11,4%

Bancos aumentam lucros mesmo com queda de juros

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do corte de dez pontos percentuais na taxa básica de juros, a Selic, quatro dos maiores bancos privados do país -Bradesco, Itaú, Unibanco e Santander Banespa- conseguiram aumentar seus lucros, suas receitas e mantiveram praticamente intocada a rentabilidade média no primeiro semestre do ano.
O lucro líquido desses bancos aumentou 11,4% de janeiro a junho em comparação com igual período de 2003, totalizando R$ 4,5 bilhões. A rentabilidade média anualizada sofreu pequeno recuo: de 23,6% sobre o patrimônio líquido, em junho do ano passado, para 22,9% neste ano.
No entanto, com exceção do Santander Banespa, os demais tiveram aumento de rentabilidade no período. "O Banespa distorce a amostra, pois nos dois últimos anos ele vinha se reestruturando e estava com uma rentabilidade fora do padrão", diz Gustavo Pedreira, analista da ABM Consulting, que fez o levantamento para a Folha.
No primeiro semestre de 2003, o Santander Banespa obteve rentabilidade anualizada de 50,2%. Neste ano, foi o banco mais rentável, com ganho de 32,8% sobre o patrimônio líquido. Em segundo lugar, veio o Itaú, com 28,5%.
Os resultados desses bancos superam o registrado por grandes instituições internacionais, como o holandês ABN Amro (24%) e o americano Bank Of America (23%) no ano passado. Esses dois bancos foram campeões de rentabilidade numa amostra de oito bancos europeus e americanos levantada pela ABM Consulting.
Outro levantamento feito nos balanços semestrais de 14 bancos brasileiros, pela EFC -Engenheiros Financeiros e Consultores-, mostra que a rentabilidade média do setor foi de 22,1%, superando a registrada no primeiro semestre de 2003 (de 21,8%). Os dados incluem instituições heterogêneas: bancos de pequeno porte, de atacado e de varejo.

Estratégia
A reativação da economia permitiu aos quatro grandes bancos aumentar suas operações no primeiro semestre do ano. Em conseqüência, suas receitas cresceram 38,2%, totalizando R$ 41,1 bilhões. "Tanto as operações com títulos públicos como as operações de crédito cresceram no primeiro semestre", diz Pedreira.
Segundo o analista, mesmo com a queda da Selic, os grandes bancos expandiram em 20% suas receitas com títulos e valores mobiliários no período. Para isso, tiveram que operar mais com papéis do governo, ganhando no volume -a carteira de títulos aumentou 22,4% no período.
"As operações com títulos públicos ainda são muito rentáveis, pois a taxa de juro real do país ainda é a segunda maior do mundo -só perde para a da Turquia", diz Pedreira.
O novo gás da economia também permitiu aos grandes bancos pôr em prática uma estratégia voltada para a expansão das operações de crédito. O foco foram os segmentos nos quais a rentabilidade é maior -como empréstimos às pessoas físicas e pequenas e médias empresas-, o que ajudou a encorpar os resultados.
A boa notícia é que por conta do aumento da competição na área de crédito o "spread" bancário caiu. Segundo a ABM Consulting, a taxa média de "spread" dos quatro bancos recuou de 71% no primeiro semestre do ano passado para 49% em junho deste ano. "Spread" é a diferença entre o que os bancos pagam para captar recursos no mercado e o que cobram nos empréstimos.
Os grandes bancos também se beneficiaram do aumento de receitas de serviços (tarifas): em junho de 2003 elas totalizavam R$ 6,3 bilhões e, neste ano, chegaram a R$ 7,6 bilhões.


Texto Anterior: Luís Nassif: É a política, estúpido
Próximo Texto: Resultado da CEF cai 27% com Selic menor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.