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OPINIÃO ECONÔMICA
Lula, Duda e Chávez
GESNER OLIVEIRA
Aumentou a gravidade da
crise política nesta semana.
Apesar da maior volatilidade
dos indicadores de curto prazo, a
situação econômica permanece
estável. No médio prazo, a economia sofrerá por conta do efeito
negativo da incerteza sobre o investimento. No curto prazo, ninguém sabe qual é o ponto crítico
a partir do qual as dificuldades
políticas afetam de forma mais
aguda e imediata as variáveis financeiras. Isso depende de uma
guinada na política econômica,
o que continua sendo um evento
pouco provável.
Conforme vislumbrado há um
mês nesta coluna, há três cenários possíveis para a crise política: 1) uma virada política do governo Lula; 2) uma crise institucional aberta; 3) um desgaste
crescente da atual administração, levando à antecipação, na
prática, do período de campanha
presidencial.
A percepção de que a crise política piorou nos últimos dias se
reflete nas probabilidades que as
pessoas atribuem a cada um dos
cenários mencionados. O discurso do presidente Lula ontem não
correspondeu às expectativas de
quem aposta em uma virada política do atual governo. Há algumas semanas, talvez fosse o tom
adequado. Dada a dimensão
atual da crise, pareceu insuficiente.
O cenário de virada do governo
requer três elementos. Primeiro,
uma explicação clara acerca das
irregularidades que vêm sendo
descobertas e um leque concreto
de providências para que as raízes do problema sejam extraídas
de uma vez por todas. Segundo,
um choque de governança no
partido da situação, o PT, aliado
à formação de uma nova base
aliada. Terceiro, uma agenda
clara de prioridades para o restante do mandato.
O discurso presidencial está
distante desses pontos. O presidente parece alheio à realidade
dos fatos. Isso diminui a probabilidade que se atribui a um cenário de recuperação do governo. A queda do índice de aprovação e da competitividade eleitoral do presidente reforçaram a
percepção de fragilidade do governo. A política econômica não
vai mudar por conta desse fato,
mas aumentam as chances de
derrotas, como na votação do salário mínimo no Senado, elevando o grau de desgaste, volatilidade e incerteza.
Analistas mais pessimistas revisaram para cima, de forma um
tanto quanto exagerada e precipitada, a probabilidade de ocorrência de um cenário de crise institucional. Isso se deveu ao depoimento de Duda Mendonça na
CPI dos Correios, aliado à entrevista à revista "Época" do presidente do PL, Valdemar Costa
Neto. As novas revelações aumentaram as especulações em
torno de um possível processo de
impeachment. Mas tal possibilidade continua sendo remota
diante do caráter especulativo
das evidências existentes até o
momento, do ainda elevado índice de aprovação do governo e
da provável melhora do desempenho da renda real nos próximos meses.
Uma crise institucional que resultasse em um processo de impeachment representaria naturalmente uma ameaça de guinada na política econômica. Note-se que o problema reside na "guinada" da política econômica, e
não em seu aperfeiçoamento.
Uma mudança seria bem-vinda
em vários aspectos, especialmente no tocante à taxa de juros.
Para acentuar o lado pitoresco
da crise, a visita de Hugo Chávez
não poderia deixar de estimular
especulações acerca de uma possível guinada chavista do governo Lula. O risco de um cenário
desse tipo é mínimo, mas é o tipo
da visita inconveniente na atual
conjuntura.
A conclusão de mais uma semana agitada é a de que, apesar
do aumento de volatilidade, o
cenário de continuidade do governo, ainda que submetido a
desgaste crescente, é o mais provável. É uma avaliação otimista?
Não. Basta lembrar a preciosa
oportunidade de crescimento
sustentado do país que está sendo desperdiçada.
Gesner Oliveira, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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