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OPINIÃO ECONÔMICA
O exagerado otimismo sobre a reforma tributária< /B>
MAILSON DA NÓBREGA
O entusiasmo dos empresários
sobre a proposta de reforma tributária do deputado Mussa Demes é saudável. Afinal, até bem
pouco tempo, muitos queriam a
idéia salvacionista, inviável e indesejável do imposto único.
Nos círculos mais bem informados havia prosperado a proposta da respeitável Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de
São Paulo, tecnicamente impecável, mas inaplicável ao Brasil.
A proposta da Fipe foi preparada sob encomenda da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp). Previa a tributação do consumo mediante
um Imposto de Vendas a Varejo
(IVV), de competência estadual,
nos moldes do "sales tax" dos
EUA.
A idéia do IVV virou bandeira
da Fiesp e da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O
grande interesse da indústria se
justificava. O imposto seria arrecadado exclusivamente na ponta do consumo, isto é, no comércio varejista.
Como membro do Conselho
Superior de Economia da Fiesp,
opus-me à proposta. Sustentei
que ela não considerava aspectos importantes da situação brasileira -que não cabe aqui discutir- e que seria liminarmente rejeitada pelos Estados e municípios.
A Fiesp e a CNI abandonaram
o projeto Fipe quando o então
secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente,
propôs a criação do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) em
substituição aos tributos sobre o
consumo e às incidências em
cascata.
Na verdade, o projeto Pedro
Parente atendia praticamente a
todas as aspirações daquelas entidades em torno de um sistema
tributário racional. Nada mais
razoável e inteligente do que ceder e apoiar algo parecido, de
autoria do governo.
Agora, com o projeto Mussa,
os industriais começam a acreditar que a sonhada e necessária
reforma tributária está mais
próxima. Alguns deles, também
exercendo mandato eletivo no
Congresso, têm ajudado a formar o clima otimista.
O deputado Mussa e o presidente da respectiva Comissão da
Câmara, deputado Germano
Rigotto, têm aumentado as esperanças. Afirmam que a reforma sai este ano. O presidente
FHC diz o mesmo. A carta de intenções apresentada ao FMI
também.
Com tais promessas, empresários e a CNI já vêem o novo sistema em vigor no próximo ano. É
como se fosse um simples aumento ou criação de impostos.
Bastaria obedecer ao princípio
da anualidade. O otimismo não
tem base na realidade.
A meu ver, o projeto do deputado Mussa é o melhor sobre o
tema já preparado no Congresso. Tenho algumas objeções, como, por exemplo, a ampliação
em dez anos do prazo dos incentivos fiscais na Amazônia Legal
e a vinculação de receitas para
um fundo de recuperação de estradas, mas elas não alteram
minha avaliação positiva do
projeto.
Não vejo, todavia, como justificar o otimismo. Em primeiro
lugar, ainda que aprovado este
ano, o que acho pouco provável,
somente entraria em vigor depois de instituídas as novas incidências tributárias.
O projeto trata dos princípios
de tributação. Promulgada a
emenda constitucional, será necessário aprovar uma lei complementar instituindo os novos
tributos.
Depois, há que rever o Código
Tributário Nacional e a legislação específica dos Estados e municípios. Em seguida, deverá ser
concedido um prazo razoável
aos contribuintes para treinar
pessoal e substituir sistemas eletrônicos, notas e livros fiscais.
As fases posteriores à emenda
deverão consumir entre um e
dois anos. O próprio deputado
Mussa prevê em seu projeto que
a vigência dos dispositivos que
tratam dos novos tributos entre
em vigor a partir de 2001.
Afora tudo isso, o projeto mexe
no principal tributo do país, o
ICMS, que pertence aos Estados
e responde por cerca de um
quarto da carga tributária. As
mudanças gerarão ganhos e perdas -que devem ser compensadas- entre os membros da Federação.
Há outras questões que precisam igualmente ser equacionadas e resolvidas, como a da preservação de graus de autonomia
dos Estados e municípios e de
mecanismos para a atração de
investimentos pelas regiões menos desenvolvidas.
As reações de autoridades estaduais ao projeto, longe de representar resistências indevidas,
como alguns disseram, são parte
integrante e legítima do processo. Ainda há intensa e complexa
negociação intrafederativa por
acontecer antes da aprovação
do projeto.
Nunca estivemos tão perto de
devolver a racionalidade ao sistema tributário, que a Constituição de 1988 ajudou a piorar.
Avançamos muito, mas ainda
não dá para pensar que a guerra
já foi ganha nem que isso acontecerá em 1999.
Mailson da Nóbrega, 57, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), sócio da Tendências Consultoria Integrada, escreve às sextas nesta coluna. E-mail: mailson@palavra.inf.br
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