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LUÍS NASSIF
Uma revolução no futebol
A pouca familiaridade da imprensa esportiva com temas econômicos e da imprensa econômica com temas esportivos e o
fato de na negociação estar envolvida a controvertida Traffic
impediram a real avaliação do
contrato firmado pelo Sport
Club Corinthians Paulista com
o fundo de investimentos norte-americano HMTF (Hicks, Muse,
Tate & Furst), do americano
Thomas Hicks. Trata-se de uma
revolução similar à inauguração do estádio do Maracanã,
em 1950. É o início efetivo de
uma era de profissionalismo no
futebol que parecia nunca mais
chegar.
O acordo entre o Corinthians
e a HMTF, já sob a égide da Lei
Pelé, muda completamente essa
relação e reescreve a história do
futebol brasileiro.
Antes dele, havia apenas acordos de patrocínio, muitas vezes
utilizados como modo de evasão de tributos. O mais conhecido dos acordos -do Palmeiras
com a Parmalat- acabava
criando um conflito de interesses insolúvel. À Parmalat interessava basicamente a visibilidade da sua marca. Por isso, tinha pleno interesse em reduzir o
máximo possível os custos de
transmissão pela televisão. E,
para ter sua marca veiculada,
ainda era obrigada a comprar
cotas de patrocínio. A parte do
leão acabava ficando com as televisões.
Agora mudou o jogo. O fundo
não quer patrocínio, mas ganhar dinheiro com o próprio futebol. Suas fontes de receita serão a arrecadação dos jogos, os
direitos de transmissão, a exploração da marca, em produtos licenciados e na venda de jogadores. E a ambição é dar visibilidade mundial aos seus parceiros
-tarefa fácil com o país de
maior tradição futebolística do
mundo.
Para tanto, o HMTF fez investimentos pesados para a realidade brasileira e pequenos para
a sua. De cara, pagou jóia de R$
7 milhões, depois outra tranche
de R$ 14 milhões. Além disso,
comprometeu-se a bancar pelos
próximos dez anos todo o custo
do departamento de futebol, incluindo divisões inferiores, em
um desembolso de R$ 2,5 milhões mensais.
Entre as demais propostas da
HMTF está a construção de um
estádio multiuso para 40 mil
pessoas, comportando de jogos
de futebol a bailes, que ao final
do contrato será doado ao clube.
Essa tendência praticamente está levando à desativação dos
grandes estádios -tipo Morumbi ou Maracanã-, que ficaram inviáveis com o advento
da televisão. Nos próximos meses, o simbólico estádio de Wembley será demolido para dar lugar a um estádio multiuso.
Contratações
No seu primeiro lance, o grupo americano investiu R$ 45
milhões na compra ou aluguel
de novos jogadores -mais do
que todos os demais clubes
paulistas juntos. Para conferir
estabilidade ao seu negócio, a
única exigência do fundo foi a
indicação do diretor de futebol, para livrar o negócio em si
de injunções políticas.
Com o dinheiro recebido, o
Corinthians está terminando
três centros de treinamento.
Além disso, receberá 15% do
que for faturado. Na venda de
jogadores revelados pelo Corinthians, o lucro será repartido meio a meio. Sobre a valorização de jogadores que eles adquirirem, recebe 15%.
O primeiro exemplo do estilo
HMTF se deu na negociação
dos direitos de televisionamento com a Skynet, da Globo
-canal pago. Enquanto os demais clubes negociavam em
bloco, aceitando luvas fixas, os
americanos pularam fora e
passaram a negociar em separado. No caso do pay-per-view
(em que cada telespectador
paga pelo direito de assistir ao
jogo), não aceitam mais luvas
genéricas, mas exigem percentuais sobre a venda para cada
telespectador.
O lance levou a Globo a sair
correndo, pagando luvas
adiantadas para os demais
clubes, antes que explodisse
um leilão oneroso.
Justiça
Pelo visto, a vereador paulista Maria Helena não merece
respeito político. Mas invadir
sua casa e ordenar sua prisão
porque foram encontradas armas por lá -que nada tinham
a ver com o objeto da investigação- é mais um lance dessa
inacreditável escalada de arbítrio que toma conta do país, ao
se conferir poder absoluto a
pessoas sem discernimento para fazer justiça. Agora, não
apenas procuradores, mas policiais se dão ao direito de definir o que é bem ou mal e sair
prendendo a torto e a direito.
Nem o fato de a vereadora
ser uma lídima representante
do submundo político que domina a cidade é desculpa para
tal arbitrariedade. O descuido
na demonstração de força acaba se repetindo na colheita de
provas. Nos últimos meses, cinco representações dos promotores paulistas contra a máfia
das Regionais foram rejeitadas
pelo Judiciário, por insuficiência de provas.
O Ministério Público, que
tem papel relevante a desempenhar no país, precisa urgentemente rever seus métodos.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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