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OPINIÃO ECONÔMICA
Consequências econômicas do terror
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O ataque terrorista no coração do eixo Wall Street-Washington provocou um abalo
brutal. Trata-se da primeira investida de grandes proporções no
continente norte-americano desde a guerra anglo-americana de
1812-14, quando os ingleses chegaram a ocupar e incendiar Washington.
Quais serão as consequências
para o mundo e o Brasil? Para
países como o Brasil, o aspecto
econômico é o mais relevante.
Como se sabe, o dramático episódio de anteontem ocorre num
momento em que a economia dos
EUA e de boa parte do resto do
mundo já se encontra razoavelmente combalida. O Japão está
em recessão ou muito próximo
disso. A Europa e os EUA atravessam fase de estagnação ou crescimento muito lento.
Na periferia do sistema internacional, há diversas economias em
recessão ou franca desaceleração.
México, Argentina, Turquia, Taiwan e Cingapura estão em recessão. Brasil, Coréia do Sul, Malásia e Tailândia registram forte diminuição das suas taxas de expansão econômica. Poucos países
importantes (China, Rússia e Índia, por exemplo) continuam
crescendo de forma expressiva.
Evidentemente, ninguém pode
prever com segurança os desdobramentos militares, políticos ou
econômicos do ataque terrorista
aos EUA. Parece claro, contudo,
que os efeitos econômicos serão
predominantemente negativos.
Os governos e bancos centrais
dos países desenvolvidos teriam
como contra-arrestar a tendência
à recessão? Em princípio, sim. Porém o raio de manobra da política econômica nos principais países é, em geral, bastante limitado.
No Japão, as taxas de juro de
curto prazo estão há algum tempo muito próximas de zero, o que
limita o poder de fogo do banco
central. E as dimensões gigantescas do déficit e da dívida do setor
público japonês restringem sobremaneira o uso da política fiscal
como instrumento de reativação
da economia.
Na Europa, "o pacto de estabilidade e crescimento", imposto pela
Alemanha como precondição para a criação do euro, restringe o
uso contracíclico da política fiscal. E a política monetária tem sido conduzida de maneira relativamente rígida pelo Banco Central Europeu, que se mostra preocupado com a inflação, o valor
externo do euro e a consolidação
das suas ainda incipientes credenciais antiinflacionárias.
Era justamente nos EUA que
muitos vislumbravam uma possibilidade maior de reativação econômica. O Federal Reserve vem
reduzindo, sem inibições, as taxas
de juro de curto prazo desde o início do ano. Aproveitando os bons
resultados das contas públicas, o
governo dos EUA conseguiu aprovar uma redução de impostos e
pode, se for o caso, ampliar os gastos públicos para compensar uma
retração econômica maior do que
a esperada.
Até agora o nível da demanda
interna nos EUA vinha sendo sustentado basicamente pelos consumidores. Qual será a sua reação
ao choque desta semana? E como
reagirão os investimentos privados, que já vinham acusando
acentuada diminuição?
Ninguém sabe. Não raro, eventos espetaculares como o de anteontem têm efeitos menos duradouros e significativos do que sugerem previsões feitas no calor da
hora. Mas o impacto será seguramente negativo.
Como fica o Brasil nisso tudo? A
vulnerabilidade da economia
brasileira, antes objeto de controvérsias acirradas, é hoje um lugar-comum. A taxa de crescimento das exportações brasileiras, em
queda há vários meses, deve sofrer declínio adicional. O déficit
de balanço de pagamentos em
conta corrente alcançou quase
US$ 28 bilhões nos 12 meses até
julho, basicamente como resultado da pesada carga de pagamentos ao capital externo (juros, lucros, dividendos e outros). O seu
financiamento, por meio de investimentos diretos estrangeiros
ou outros capitais, ficará provavelmente ainda mais difícil.
A crise externa só traz uma
vantagem. Dará ao governo brasileiro a oportunidade de atribuir
à "recessão global" a culpa pelas
desventuras da economia nacional.
Paulo Nogueira Batista Jr., 46, economista e professor da Fundação Getúlio
Vargas-SP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "A Economia
como Ela é..." (Boitempo Editorial, 2ª edição: 2001).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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