São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2001

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OPINIÃO ECONÔMICA
Consequências econômicas do terror

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

O ataque terrorista no coração do eixo Wall Street-Washington provocou um abalo brutal. Trata-se da primeira investida de grandes proporções no continente norte-americano desde a guerra anglo-americana de 1812-14, quando os ingleses chegaram a ocupar e incendiar Washington.
Quais serão as consequências para o mundo e o Brasil? Para países como o Brasil, o aspecto econômico é o mais relevante.
Como se sabe, o dramático episódio de anteontem ocorre num momento em que a economia dos EUA e de boa parte do resto do mundo já se encontra razoavelmente combalida. O Japão está em recessão ou muito próximo disso. A Europa e os EUA atravessam fase de estagnação ou crescimento muito lento.
Na periferia do sistema internacional, há diversas economias em recessão ou franca desaceleração. México, Argentina, Turquia, Taiwan e Cingapura estão em recessão. Brasil, Coréia do Sul, Malásia e Tailândia registram forte diminuição das suas taxas de expansão econômica. Poucos países importantes (China, Rússia e Índia, por exemplo) continuam crescendo de forma expressiva.
Evidentemente, ninguém pode prever com segurança os desdobramentos militares, políticos ou econômicos do ataque terrorista aos EUA. Parece claro, contudo, que os efeitos econômicos serão predominantemente negativos.
Os governos e bancos centrais dos países desenvolvidos teriam como contra-arrestar a tendência à recessão? Em princípio, sim. Porém o raio de manobra da política econômica nos principais países é, em geral, bastante limitado.
No Japão, as taxas de juro de curto prazo estão há algum tempo muito próximas de zero, o que limita o poder de fogo do banco central. E as dimensões gigantescas do déficit e da dívida do setor público japonês restringem sobremaneira o uso da política fiscal como instrumento de reativação da economia.
Na Europa, "o pacto de estabilidade e crescimento", imposto pela Alemanha como precondição para a criação do euro, restringe o uso contracíclico da política fiscal. E a política monetária tem sido conduzida de maneira relativamente rígida pelo Banco Central Europeu, que se mostra preocupado com a inflação, o valor externo do euro e a consolidação das suas ainda incipientes credenciais antiinflacionárias.
Era justamente nos EUA que muitos vislumbravam uma possibilidade maior de reativação econômica. O Federal Reserve vem reduzindo, sem inibições, as taxas de juro de curto prazo desde o início do ano. Aproveitando os bons resultados das contas públicas, o governo dos EUA conseguiu aprovar uma redução de impostos e pode, se for o caso, ampliar os gastos públicos para compensar uma retração econômica maior do que a esperada.
Até agora o nível da demanda interna nos EUA vinha sendo sustentado basicamente pelos consumidores. Qual será a sua reação ao choque desta semana? E como reagirão os investimentos privados, que já vinham acusando acentuada diminuição?
Ninguém sabe. Não raro, eventos espetaculares como o de anteontem têm efeitos menos duradouros e significativos do que sugerem previsões feitas no calor da hora. Mas o impacto será seguramente negativo.
Como fica o Brasil nisso tudo? A vulnerabilidade da economia brasileira, antes objeto de controvérsias acirradas, é hoje um lugar-comum. A taxa de crescimento das exportações brasileiras, em queda há vários meses, deve sofrer declínio adicional. O déficit de balanço de pagamentos em conta corrente alcançou quase US$ 28 bilhões nos 12 meses até julho, basicamente como resultado da pesada carga de pagamentos ao capital externo (juros, lucros, dividendos e outros). O seu financiamento, por meio de investimentos diretos estrangeiros ou outros capitais, ficará provavelmente ainda mais difícil.
A crise externa só traz uma vantagem. Dará ao governo brasileiro a oportunidade de atribuir à "recessão global" a culpa pelas desventuras da economia nacional.


Paulo Nogueira Batista Jr., 46, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas-SP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "A Economia como Ela é..." (Boitempo Editorial, 2ª edição: 2001).
E-mail - pnbjr@attglobal.net


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