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ANÁLISE
Presidente do Fed engole as próprias palavras
DO "FINANCIAL TIMES"
Admitir que estava errado nunca foi um dos hábitos de Alan
Greenspan e ele certamente não
pronunciou um mea culpa ontem. Mas, em seu depoimento ao
Comitê Orçamentário da Câmara
dos Deputados dos EUA, o presidente do Federal Reserve (Fed, o
banco central norte-americano)
decidiu pintar um quadro mais
sóbrio do orçamento governamental e da economia do país do
que vinha sendo o caso.
Em contraste com seu recente
esforço de proteção ao seu legado
na política monetária, Greenspan
não tentou sugerir que suas observações anteriores quanto às
projeções orçamentárias estavam
certas. Ele deixou claro que a situação orçamentária dos EUA está agora muito pior, tanto em curto quanto em longo prazo, do que
acreditava no ano passado.
Em janeiro de 2001, Greenspan
provocou controvérsias ao defender os cortes de impostos propostos pelo governo Bush. Naquele
momento, e usando projeções
"cautelosas" para os futuros superávits orçamentários, ele estava
mais preocupado com a possibilidade de que o governo pagasse a
dívida nacional rápido demais. "A
questão importante é o custo potencialmente crescente de liquidar papéis do Tesouro que ainda
são comerciáveis", explicou.
Agora, o presidente do Fed aceita a previsão do Serviço Orçamentário do Congresso de que os
déficits persistirão ao menos até
2005, que a maior parte dessa deterioração é permanente e não foi
causada por uma desaceleração
temporária da economia. Como a
maior parte dos analistas, ele
acreditava que os mercados de
ações não cairiam tanto nem pelo
tempo quanto caíram, afetando a
arrecadação do imposto sobre ganhos de capital e do Imposto de
Renda relacionado aos bônus vinculados a preços de ações.
Dessas esperanças desfeitas
quanto ao Orçamento, surge uma
advertência. Greenspan instou o
Congresso para que evitasse "voltar ao clima fiscal dos déficits
grandes e contínuos, que acarretaria o risco de uma volta a uma
era de altas taxas de juros, baixos
níveis de investimento e crescimento mais lento da produtividade". Mas, apesar disso, Greenspan
rejeitou qualquer sugestão de que
os cortes de impostos que elogiou
em 2001, especialmente os que
ainda não entraram em vigor, deveriam ser revogados.
E, quanto à economia, vale o
mesmo critério aplicado aos impostos. Greenspan está disposto a
aceitar que as perspectivas são provavelmente piores do que ele sugeriu alguns meses atrás, mas hesita em aceitar responsabilidade pela decepção econômica. Solicitado a comentar sobre sua projeção, feita em julho, de crescimento de entre 3,5% e 3,75% em 2002, com estimativa mais otimista para 2003, ele disse apenas: "Eu presumiria que, se fôssemos reavaliar esses números agora, eles
seriam um pouco inferiores".
Greenspan presta um desserviço ao continuar a admitir que o
mundo mudou, que suas análises e projeções anteriores estavam erradas, mas que as políticas adotadas não podem ser criticadas. Se você nega a possibilidade de erros passados em suas políticas, torna-se muito mais difícil fazer o julgamento correto agora.
Tradução de Paulo Migliacci
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