São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Relatório trimestral do Fundo afirma que crise econômica do país poderá afetar outros mercados emergentes

Pacote de US$ 30 bi não afastou temor de contágio, diz FMI

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Relatório divulgado ontem pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) conclui que o pacote de ajuda de US$ 30,4 bilhões ainda não melhorou o sentimento dos mercados com relação ao Brasil e teme que a crise econômica do país contagie outros mercados emergentes.
Análise trimestral do Fundo sobre a "Estabilidade Financeira Global" afirma que até países como o México, que antes resistia às turbulências da região, já começaram a sofrer contágio do Brasil. "Desde o fim de junho, a correlação do México com o Brasil aumentou fortemente", diz a análise do Fundo.
Segundo o documento, "os mercados aprovaram inicialmente o pacote maior que o esperado e a redução do piso das reservas, mas as preocupações dos investidores com relação à continuidade das reformas logo voltaram, à luz de comentários dos candidatos presidenciais sobre o programa de ajuda do Fundo.
Os efeitos positivos do programa sobre o Embi+ (índice que reflete o risco do mercado de dívida de países emergentes) se dissiparam rapidamente, e o real se enfraqueceu novamente para R$ 3,15 por dólar, embora tenha permanecido acima de seu patamar mais baixo". Ontem, a moeda dos EUA fechou cotada a R$ 3,126.
O relatório do FMI refere-se apenas ao primeiro semestre de 2002. No entanto um capítulo do documento atualiza a análise específica sobre o Brasil até 12 de agosto.

Linhas de crédito
Num contraponto ao pessimismo do documento, o porta-voz do FMI, Thomas Dawson, declarou ontem, numa de suas entrevistas regulares, que o pacote do FMI possibilitou, mais recentemente, a retomada das linhas de crédito privado a empresas brasileiras e uma melhora dos "spreads" dos títulos do país.
Segundo Dawson, o FMI não se decepcionou com o impacto dos mercados com relação ao programa e o Fundo ainda confia que a equipe econômica brasileira conseguirá lidar com essa "situação difícil".
Além de Dawson, o diretor do Departamento de Mercados de Capitais Internacionais do FMI, Gerd Hausler, autor do relatório divulgado ontem, disse em Londres estar "otimista" com relação ao desempenho da economia brasileira.
O documento estima que a aversão ao risco para governos e empresas de mercados emergentes permanece forte e que, devido à existência de vários canais de contágio, a evolução da economia brasileira será chave para determinar o comportamento de outros mercados emergentes.
"Um risco-chave é a possibilidade de os problemas de rolagem [de dívidas] enfrentados pelo Brasil se alastrarem para outros mercados. Há o risco de que os empréstimos bancários possam secar no Brasil e nos mercados emergentes em geral. A evolução da economia brasileira é crítica. Uma deterioração maior do sentimento com relação ao Brasil será provavelmente sentida de uma forma mais geral, especialmente se as preocupações com relação à continuidade política e à sustentabilidade da dívida se alastrarem para um número maior de países emergentes."
No entanto o FMI reconheceu que, até agosto, países emergentes na Ásia e na Europa se beneficiaram da fuga dos recursos que estavam sendo investidos na América Latina.


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