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CONJUNTURA
Economista vê como esgotado esforço para obtenção de superávit fiscal; mercado externo é a saída, afirma
País cresce se priorizar exterior, diz Fishlow
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
As intervenções críticas à globalização e às concepções liberais
que marcaram a política econômica brasileira nos últimos anos
dominaram o primeiro dia do seminário "Novos Rumos do Desenvolvimento no Mundo", promovido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O economista Albert Fishlow,
professor da Universidade de Columbia e consultor do Banco
Mundial, um dos principais defensores das teorias liberais que se
tornaram dominantes no mundo
nos anos 90, foi praticamente o
único entre os convidados de ontem a defender essas políticas.
Fishlow disse que os esforços
para a geração de superávits fiscais ajudaram o Brasil nesses anos
de controle da inflação, mas ressalvou que a partir de agora o país
precisa dar mais atenção ao comércio exterior e à geração de
poupança interna para conseguir
a retomada do desenvolvimento.
Em entrevista, ele admitiu que o
esforço de economia de recursos
pelo governo, expresso no superávit fiscal, está no limite. A uma
pergunta sobre se o superávit de
3,75% do PIB (Produto Interno
Bruto) previsto para 2003 era alto
ou baixo, respondeu: "Acho que,
falando em termos reais, ninguém está imaginando que seja
possível chegar a uma taxa
maior". Para este ano, o governo
acertou com o FMI que o superávit será de 3,88% do PIB.
Triturando pedra
O economista italiano Giovanni
Dosi, da Universidade de Pisa,
disse que a geração de novas tecnologias nos países em geral, que
ele considera um caminho importante para o desenvolvimento,
"não têm crescido com a globalização". Para ele, há razões teóricas para argumentar que o mundo globalizado tende mais à polarização [ricos e pobres" do que à
uniformização.
Dosi defendeu a adoção de políticas públicas pelos países que
queiram acelerar o desenvolvimento tecnológico e afirmou que
não há na história exemplo de
país que tenha sido bem-sucedido
sem a adoção dessas políticas. Ele
criticou a globalização financeira,
afirmando que sua utilidade é
questionável. "Mesmo triturando
pedra não se vê para que servem
esses mercados", disse.
O indiano Sanjaya Lall, professor da Universidade de Oxford,
defensor do investimento em novas tecnologias como caminho
para o desenvolvimento, disse
que os efeitos da globalização estão beneficiando apenas "10 ou 12
países".
Os brasileiros Hélio Jaguaribe e
Rubens Ricupero, que foram os
debatedores na parte da manhã,
botaram mais lenha na fogueira.
Jaguaribe disse que a administração do déficit nas contas externas
e o endividamento externo imobilizaram o país.
"A União não tem um centavo
para projetos prioritários", disse.
Ricupero criticou a política de superávits fiscais crescentes e disse
que o país precisa de políticas públicas de incentivos para se tornar
competitivo internacionalmente
Mais críticas
À tarde, quando a discussão foi sobre a agenda social e o combate
à pobreza, as críticas à globalização prosseguiram com os debatedores Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global (Washington - EUA);
Bernardo Kliksberg, diretor do Projeto Regional para a América
Latina das Nações Unidas, e Ignacio Ramonet, do "Monde Diplomatique" (França).
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