São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 2002

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CONJUNTURA

Economista vê como esgotado esforço para obtenção de superávit fiscal; mercado externo é a saída, afirma

País cresce se priorizar exterior, diz Fishlow

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

As intervenções críticas à globalização e às concepções liberais que marcaram a política econômica brasileira nos últimos anos dominaram o primeiro dia do seminário "Novos Rumos do Desenvolvimento no Mundo", promovido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O economista Albert Fishlow, professor da Universidade de Columbia e consultor do Banco Mundial, um dos principais defensores das teorias liberais que se tornaram dominantes no mundo nos anos 90, foi praticamente o único entre os convidados de ontem a defender essas políticas.
Fishlow disse que os esforços para a geração de superávits fiscais ajudaram o Brasil nesses anos de controle da inflação, mas ressalvou que a partir de agora o país precisa dar mais atenção ao comércio exterior e à geração de poupança interna para conseguir a retomada do desenvolvimento.
Em entrevista, ele admitiu que o esforço de economia de recursos pelo governo, expresso no superávit fiscal, está no limite. A uma pergunta sobre se o superávit de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) previsto para 2003 era alto ou baixo, respondeu: "Acho que, falando em termos reais, ninguém está imaginando que seja possível chegar a uma taxa maior". Para este ano, o governo acertou com o FMI que o superávit será de 3,88% do PIB.

Triturando pedra
O economista italiano Giovanni Dosi, da Universidade de Pisa, disse que a geração de novas tecnologias nos países em geral, que ele considera um caminho importante para o desenvolvimento, "não têm crescido com a globalização". Para ele, há razões teóricas para argumentar que o mundo globalizado tende mais à polarização [ricos e pobres" do que à uniformização.
Dosi defendeu a adoção de políticas públicas pelos países que queiram acelerar o desenvolvimento tecnológico e afirmou que não há na história exemplo de país que tenha sido bem-sucedido sem a adoção dessas políticas. Ele criticou a globalização financeira, afirmando que sua utilidade é questionável. "Mesmo triturando pedra não se vê para que servem esses mercados", disse.
O indiano Sanjaya Lall, professor da Universidade de Oxford, defensor do investimento em novas tecnologias como caminho para o desenvolvimento, disse que os efeitos da globalização estão beneficiando apenas "10 ou 12 países".
Os brasileiros Hélio Jaguaribe e Rubens Ricupero, que foram os debatedores na parte da manhã, botaram mais lenha na fogueira. Jaguaribe disse que a administração do déficit nas contas externas e o endividamento externo imobilizaram o país.
"A União não tem um centavo para projetos prioritários", disse. Ricupero criticou a política de superávits fiscais crescentes e disse que o país precisa de políticas públicas de incentivos para se tornar competitivo internacionalmente

Mais críticas
À tarde, quando a discussão foi sobre a agenda social e o combate à pobreza, as críticas à globalização prosseguiram com os debatedores Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global (Washington - EUA); Bernardo Kliksberg, diretor do Projeto Regional para a América Latina das Nações Unidas, e Ignacio Ramonet, do "Monde Diplomatique" (França).


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