São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Economista brasileiro "acusa" Soros e amigos

DA REPORTAGEM LOCAL

Relatório do American Express Bank chama a atenção até para países emergentes que ainda não enfrentam uma situação de risco, mas que poderão ter problemas no futuro. É o caso dos governos de China, Filipinas e Malásia, que, segundo o banco, terão, provavelmente, de absorver no futuro os custos de créditos podres concedidos por instituições privadas.
Isso indica que a preocupação com relações elevadas entre dívida pública e PIB de mercados emergentes é crescente. Mas as discussões sobre o assunto ainda são bastante polêmicas.
Segundo a diretora de mercados emergentes de uma importante instituição financeira em Londres, é comum que os problemas de países emergentes sejam generalizados. Isso reflete a falta de conhecimento das peculiaridades de cada país.
Recentemente, por exemplo, o tom enfático de análises que consideram inevitável uma reestruturação da dívida pública brasileira passou a ser alvo de discordância entre especialistas nacionais e estrangeiros.
O clímax dessas tensões aconteceu na semana passada, quando o ex-megainvestidor George Soros afirmou que o Brasil caminhava rumo à falência. Segundo Soros, o mercado está impondo taxas de juros altíssimas ao Brasil agora e isso dificilmente mudaria no curto prazo, não importa quem seja o próximo presidente eleito.
Soros não foi o único a prever a bancarrota. Outras estrelas da finança global fizeram recentemente afirmações similares.
No Brasil, o pensamento predominante foi bem sintetizado na última semana por Alexandre Schwartsman, economista-chefe da BBA Corretora, em um relatório intitulado "J'accuse" ("Acuso") -uma alusão a título homônimo de um artigo escrito pelo escritor francês Émile Zola, no século XIX, uma carta aberta ao presidente francês atacando a perseguição do Estado e de militares franceses contra um oficial judeu.
O texto de Schwartsman é uma resposta a comentários que, segundo ele, refletem desconhecimento total da situação de endividamento do governo brasileiro. Ele afirma que os riscos de calote da dívida externa são mínimos. Se mantido o superávit primário de 3,75% do PIB, as necessidades externas do setor público estão garantidas, praticamente, até 2004.
A dívida doméstica preocupa mais. Ainda assim, para o economista, há remotas chances de que o mercado imponha ao governo uma reestruturação forçada dessa dívida, concentrada quase inteiramente nas mãos de brasileiros.
Se enfrentar dificuldades para renovar essa dívida no mercado doméstico, o governo teria, na pior das hipóteses, de pagá-la e se endividar novamente em prazos mais curtos, até de um dia.
"Isso seria ruim porque levaria a pressões inflacionárias, mas os custos seriam muito menores que os de uma reestruturação", diz Schwartsman. (ÉRICA FRAGA)


Texto Anterior: Saiba mais: Volume diário de negócios chega a US$ 500 milhões
Próximo Texto: Em transe: Soros lucra na quebra do Brasil, diz analista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.