São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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Estrangeiro e brasileiro divergem sobre a crise

DO "THE NEW YORK TIMES"

Os investidores de Wall Street, prejudicados pelas recentes perdas na Argentina e preocupados com o resultado final da eleição presidencial no Brasil, estão, mais uma vez, divergindo de seus pares brasileiros na avaliação da capacidade que o país tem de evitar uma crise financeira ainda maior.
As diferenças de opinião -acerca das chances de o Brasil dar um calote em sua dívida pública e do retorno da inflação- se tornaram maiores desde que o candidato de oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chegou ao segundo turno das eleições.
Analistas de Wall Street já imaginam situações catastróficas com uma fuga de capitais ainda maior no país, uma forte queda do real e a introdução de controles rigorosos sobre o capital estrangeiro.
"Se o controle de câmbio for adotado, as linhas de crédito estrangeiras entrarão em colapso, acarretando em uma onda de calotes de empresas e o fim do Plano Real", disse José Barrionuevo, diretor de estratégia em mercados emergentes do Barclay's Capital.
"Se Lula não se mostrar tão firme como precisará ser, a crise política subsequente provavelmente vai marcar o fim dele como presidente", disse Barrionuevo.
Apesar da incerteza acerca dos planos de Lula para a economia, donos de grandes bancos brasileiros pedem calma ao mercado.
"Lula não é um revolucionário", disse Roberto Setúbal, presidente do Itaú, em um encontro recente com investidores nos EUA.
A reação de analistas brasileiros às previsões de George Soros sobre o país foi atípica. Soros disse em Londres nesta semana que a chance de o Brasil ter que reestruturar sua dívida "ultrapassa os 50%". Essa possibilidade foi refutada veementemente pelos brasileiros. "Não concordo com nenhuma das palavras desse cidadão", disse Luiz Carlos Costa Rego, economista-chefe do Banco Sul América.
Essa não é a primeira vez que a divergência é grande entre investidores estrangeiros e brasileiros com relação às perspectivas para o país. Muitos analistas internacionais, notadamente os do Deutsche Bank, foram criticados pela mídia brasileira após soltar análises pessimistas a respeito dos fundamentos do país no período turbulento que veio após a decisão brasileira de liberar o câmbio, no início de 1999.
Mais tarde, o Deutsche Bank precisou emitir um comunicado público reafirmando sua confiança no Brasil depois que uma boa recuperação econômica e o apoio internacional às políticas do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, permitiram que o governo rapidamente recuperasse seu crédito no mercado.
A Goldman Sachs parece ter se contido depois que seus estrategistas elaboraram, em um relatório do início do ano, um "lulômetro" para medir os riscos associados à chance de Lula se tornar presidente. Desde então, Paulo Leme, diretor de pesquisa em mercados emergentes da instituição, tem apresentado análises sobre a economia brasileira relativamente balanceadas.



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