São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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INDÚSTRIA

Empresas passam a fabricar produtos antes importados; setores ganham com desvalorização e escapam da crise industrial

Dólar caro faz país fabricar robô e químicos

Eduardo Knapp/Folha Imagem
DM Robótica, localizada em Diadema (SP), vende máquinas 15% mais baratas que as estrangeiras


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Num galpão de pouco mais de 1.100 metros quadrados em Diadema (SP), onde seis pessoas trabalham, a DM Robótica passou a fabricar recentemente robôs para máquinas injetoras de plásticos.
Vende o produto para os clientes da maior empresa de equipamentos pesados do Brasil, a Romi. Com isso, os clientes não precisam mais comprar robôs no exterior. A DM, 100% nacional, vende o produto com preço 15% inferior ao semelhante americano.
Na Bahia, a multinacional Monsanto -uma gigante perto da DM, com receita anual de US$ 5,4 bilhões e 1.600 empregados- começou a fabricar há alguns meses insumos para o seu herbicida no país. Deixará de importar, com isso, US$ 100 milhões em matéria-prima anualmente. "Até setembro, a economia foi de US$ 80 milhões", diz Rodrigo Almeida, diretor de assuntos corporativos da Monsanto.
Casos de substituição de importação que não viraram tentativas fracassadas -foram implantados há pouco tempo e já dão retorno- pipocam principalmente nos Estados de São Paulo, Amazonas e Bahia, segundo levantamento do Ministério da Fazenda.
São, em parte, favorecidos pela atual escalada do dólar de origem especulativa e que ocorre desde maio. Foram também beneficiados pela desvalorização do real em 1999. Toda vez que a moeda brasileira perde valor, os importados encarecem.
Com isso, o país envia mais itens ao exterior e compra menos de fora. Para preencher esse buraco criado com a queda nas importações, empresas no país colocam a linha de produção para funcionar -o que ajuda o saldo da balança comercial brasileira.
De janeiro a setembro, as importações brasileiras estão em franco declínio -queda de 17,3% em relação a igual período de 2001. As exportações caem menos, 1,9%. No mês passado, o superávit da balança quase encostou em US$ 2,5 bilhões, recorde na história comercial brasileira.

Poliéster e torno nacional
Os números são obtidos, em parte, devido a ações isoladas de empresas. Para deixar de importar cerca de US$ 20 milhões por ano, a Rohm and Haas, por exemplo, fabricante de produtos químicos, investiu, desde abril, US$ 15 milhões para fabricar poliéster em São Paulo.
Também em São Paulo, nos centros de desenvolvimento de produtos da Indústria Romi, dois maquinários (semelhantes aos da Alemanha, EUA e Ásia) estão em fase de teste para futura venda. O torno vertical e um novo modelo de centro de usinagem foram desenvolvidos aqui e já há uma lista de potenciais compradores na mão da companhia.
O desenvolvimento do projeto durou um ano. Logo, não surgiu por causa da crise cambial em 1999 e das recentes disparadas do dólar. Monsanto, DM e Rohm and Haas dizem o mesmo.
"É óbvio que o câmbio é relevante e é excelente que o dólar esteja nesse patamar para as exportações. Mas ninguém faz nada com o olho no câmbio", diz Hiçao Misawa, diretor da Romi. "Uma empresa que faz planejamento com base em posições futuras do dólar está fadada ao fracasso", afirma Almeida, da Monsanto.
Ou seja, o vaivém das moedas ajuda de forma momentânea a alavancar as exportações. Mas isso não chega a ser um fator determinante num negócio.

Matéria-prima externa
Até porque há um problema a ser enfrentado. Se uma companhia consegue fabricar o que antes ela importava, provavelmente ela ainda terá de trazer do exterior os insumos para essa fabricação -caso a matéria-prima não seja encontrada no Brasil.
É aí que a situação complica. Isso impede que o processo de substituição de importações no país seja completamente livre de um aumento nas compras lá fora, afirmam os economistas.
Há exemplos: a Novartis, fabricante dos medicamentos Cataflan e do Voltaren, gastará no Brasil cerca de R$ 50 milhões até o final de 2003. Para fabricar neste ano medicamentos genéricos nacionais, ela aplicou R$ 20 milhões na unidade de Taboão da Serra (SP). Mas vai ter de trazer insumos de fora. Isso porque o setor farmacêutico é altamente dependente de matéria-prima externa, não fabricada no país.
A boa notícia é que alguns itens produzidos aqui, nesse processo de substituição de importações recente, já se transformaram em mercadoria para exportação.
Neste ano, a Monsanto terá uma receita de US$ 50 milhões só com exportações de seu herbicida em pó, fabricado em São José dos Campos (SP) -e que passou a ser produzido neste ano com insumos nacionais. Do interior de São Paulo é enviado para México, Bélgica, Equador, Canadá, EUA, Ásia, entre outros países.



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