São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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FIM DE FESTA

Produção de soja e milho supera estimativas e bate recorde; preço da oleaginosa cai e é o menor em dois anos

EUA colhem supersafra e prejudicam Brasil

Robert Sullivan - 27.abr.04/France Presse
Colheita de laranjas na Flórida; furacão causou a quebra na safra


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Os Estados Unidos vão colher uma supersafra agrícola neste ano. É o que confirmou ontem o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA). A euforia dos produtores norte-americanos vai se transformar em perda de sono para os agricultores brasileiros.
Os números divulgados ontem são impressionantes e superam qualquer estimativa anterior. A colheita de milho deve atingir 295 milhões de toneladas, superando em 14,8% a anterior, enquanto a de soja sobe para 84,6 milhões, com avanço de 26,6% sobre a de 2003/4. Ambas são recordes.
A reação do mercado a esses números foi imediata. A soja recuou para os menores preços em dois anos, e o contrato de maio fechou a US$ 5,36 por bushel (27,2 kg). Em outras palavras, esse é o preço que os brasileiros devem receber, já que maio é o período que a safra nacional vai para o mercado.
Aplicada a taxa de câmbio atual a esse preço do mercado futuro referente a maio, a saca de soja recua para US$ 7,6 (R$ 21,5) em Sorriso (MT). O custo de produção na região é de US$ 8,6 (R$ 24,3).
Ou seja, o produtor vai desembolsar R$ 2,80 por saca para cobrir o prejuízo. "Produzir soja a esse preço ficou inviável", diz o analista Fernando Muraro, da Agência Rural. A esse patamar de preços, o agricultor que tiver uma produtividade abaixo de 60 sacas por hectare (e a média é de 50 sacas) não fecha as contas.
Se a queda de preços no mercado internacional complica a saúde financeira dos brasileiros, o mesmo não ocorre com os norte-americanos. Devido a essa redução nos valores de comercialização, eles passam a receber os preços de garantia do Tesouro dos EUA, que nada mais são do que uma boa dose de subsídio. Já os brasileiros são remunerados pelos preços de mercado.
A queda de preços das commodities é um caminho sem volta, pelo menos no curto prazo. A supersafra nos EUA repõe os estoques mundiais de grãos que, baixos, estavam forçando a alta.
Os estoques de soja nos EUA, que eram de 3 milhões de toneladas, vão a 11 milhões, e, os mundiais, a 59,3 milhões. A situação não é diferente para o milho. Os estoques mundiais sobem para 101 milhões de toneladas, acima dos 88 milhões deste ano.
O Usda divulgou ainda aumentos nas safra de trigo e de algodão, mas recuo na de laranja.


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