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INFRA-ESTRUTURA
Pela primeira vez, banco de fomento prioriza transporte ferroviário e libera R$ 724 milhões neste ano
BNDES investe mais em ferrovia que rodovia
LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO
Neste ano, pela primeira vez, os
recursos do BNDES para financiar investimentos na área de
transportes de carga serão maiores no setor ferroviário do que no
rodoviário. Mais do que uma mudança de prioridades restrita ao
banco de fomento da economia
brasileira, o fato reflete a crescente
importância dos trens para o país.
A abertura da economia e o
crescimento das exportações de
modo continuado, com o avanço
das fronteiras agrícolas -para a
produção da soja, por exemplo-
, vêm indicando a necessidade de
uma malha ferroviária mais extensa e eficiente.
Assim, até o final deste ano o
BNDES terá liberado R$ 724 milhões para projetos ferroviários.
Os investimentos no setor rodoviário receberão apenas R$ 224
milhões -menos de um terço daquele valor. Até 2004 acontecia o
contrário. No ano passado, por
exemplo, as rodovias tiveram R$
292 milhões do banco, três vezes
os R$ 98 milhões destinados às
ferrovias.
A projeção do BNDES até 2010
também indica a velocidade
maior nos 28.445 quilômetros de
trilhos nacionais. Dos projetos
previstos, os investimentos totais
nas ferrovias somam cerca de R$
2,5 bilhões por ano, ao passo que
os das rodovias terão em torno de
R$ 2 bilhões anualmente.
Participação de 44%
De acordo com o Ministério dos
Transportes, a participação das
ferrovias na matriz de transportes
brasileira é de 24%. O ideal seria
que o percentual chegasse pelo
menos a 44%, próximo do de países de grandes dimensões como o
Canadá, mas ainda distante dos
81% na Rússia.
"As ferrovias, com malhas antigas e inadequadas, precisam
avançar para que haja coerência
com as mudanças na dinâmica da
economia brasileira. Os desafios
que estão colocados nos levam à
convicção de que devemos trabalhar na expansão da malha ferroviária", afirma o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio de Oliveira Passos, lembrando que, desde a Segunda Guerra Mundial, os principais investimentos têm sido no
setor rodoviário.
O chefe do Departamento de
Transporte e Logística do
BNDES, Rômulo Martins, concorda que as ferrovias vêm a reboque do crescimento do país. Ele
diz que o movimento "é o reflexo
da China". "Se vamos vender
mais para o mundo, temos de investir em ferrovias."
Martins explica que a grande
vantagem da ferrovia é, sobretudo, o acesso mais fácil aos portos.
"De caminhão não dá mais, devido às filas nos portos." Além disso, quando melhora o custo da logística, a fronteira agrícola avança
mais para o interior dos Estados e
mais pessoas se agregam ao mercado de trabalho.
"Roubando" cargas
A entrada de concessionárias
privadas no setor -que até 1996
era operado por uma estatal- foi
o primeiro passo no processo de
retomada e crescimento da importância das ferrovias.
"O Brasil está em pleno boom
do sistema ferroviário. O que está
acontecendo é um marco. Desde a
privatização, a participação das
ferrovias na matriz de transporte
saiu de cerca de 5% para mais de
20%. As ferrovias estão não só alcançando novas fronteiras agrícolas, como "roubando" carga de
caminhões", afirma Martins.
O avanço foi propiciado pela
participação das concessionárias,
que, de 1997 a 2004, investiram R$
6 bilhões e têm projeções ambiciosas para os próximos anos.
A América Latina Logística
(ALL), por exemplo, que opera no
Sul do país, vai investir, só neste
ano, R$ 180 milhões, direcionados
para a modernização da malha e o
aprimoramento de serviços aos
clientes. Para 2006 estão previstos
pelo menos R$ 260 milhões em
investimentos.
O bom momento do setor fez
com que a ALL alcançasse lucro
líquido de R$ 150 milhões no ano
passado. De 1997 a 2004, a receita
da empresa cresceu 30%.
"Hoje a ferrovia é uma opção
para o país. Antes não era", afirma Bernardo Hees, presidente da
ALL, uma das empresas com linha de crédito no BNDES.
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