São Paulo, domingo, 13 de novembro de 2005

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INFRA-ESTRUTURA

Pela primeira vez, banco de fomento prioriza transporte ferroviário e libera R$ 724 milhões neste ano

BNDES investe mais em ferrovia que rodovia

LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO

Neste ano, pela primeira vez, os recursos do BNDES para financiar investimentos na área de transportes de carga serão maiores no setor ferroviário do que no rodoviário. Mais do que uma mudança de prioridades restrita ao banco de fomento da economia brasileira, o fato reflete a crescente importância dos trens para o país.
A abertura da economia e o crescimento das exportações de modo continuado, com o avanço das fronteiras agrícolas -para a produção da soja, por exemplo- , vêm indicando a necessidade de uma malha ferroviária mais extensa e eficiente.
Assim, até o final deste ano o BNDES terá liberado R$ 724 milhões para projetos ferroviários. Os investimentos no setor rodoviário receberão apenas R$ 224 milhões -menos de um terço daquele valor. Até 2004 acontecia o contrário. No ano passado, por exemplo, as rodovias tiveram R$ 292 milhões do banco, três vezes os R$ 98 milhões destinados às ferrovias.
A projeção do BNDES até 2010 também indica a velocidade maior nos 28.445 quilômetros de trilhos nacionais. Dos projetos previstos, os investimentos totais nas ferrovias somam cerca de R$ 2,5 bilhões por ano, ao passo que os das rodovias terão em torno de R$ 2 bilhões anualmente.

Participação de 44%
De acordo com o Ministério dos Transportes, a participação das ferrovias na matriz de transportes brasileira é de 24%. O ideal seria que o percentual chegasse pelo menos a 44%, próximo do de países de grandes dimensões como o Canadá, mas ainda distante dos 81% na Rússia.
"As ferrovias, com malhas antigas e inadequadas, precisam avançar para que haja coerência com as mudanças na dinâmica da economia brasileira. Os desafios que estão colocados nos levam à convicção de que devemos trabalhar na expansão da malha ferroviária", afirma o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio de Oliveira Passos, lembrando que, desde a Segunda Guerra Mundial, os principais investimentos têm sido no setor rodoviário.
O chefe do Departamento de Transporte e Logística do BNDES, Rômulo Martins, concorda que as ferrovias vêm a reboque do crescimento do país. Ele diz que o movimento "é o reflexo da China". "Se vamos vender mais para o mundo, temos de investir em ferrovias."
Martins explica que a grande vantagem da ferrovia é, sobretudo, o acesso mais fácil aos portos. "De caminhão não dá mais, devido às filas nos portos." Além disso, quando melhora o custo da logística, a fronteira agrícola avança mais para o interior dos Estados e mais pessoas se agregam ao mercado de trabalho.

"Roubando" cargas
A entrada de concessionárias privadas no setor -que até 1996 era operado por uma estatal- foi o primeiro passo no processo de retomada e crescimento da importância das ferrovias.
"O Brasil está em pleno boom do sistema ferroviário. O que está acontecendo é um marco. Desde a privatização, a participação das ferrovias na matriz de transporte saiu de cerca de 5% para mais de 20%. As ferrovias estão não só alcançando novas fronteiras agrícolas, como "roubando" carga de caminhões", afirma Martins.
O avanço foi propiciado pela participação das concessionárias, que, de 1997 a 2004, investiram R$ 6 bilhões e têm projeções ambiciosas para os próximos anos.
A América Latina Logística (ALL), por exemplo, que opera no Sul do país, vai investir, só neste ano, R$ 180 milhões, direcionados para a modernização da malha e o aprimoramento de serviços aos clientes. Para 2006 estão previstos pelo menos R$ 260 milhões em investimentos.
O bom momento do setor fez com que a ALL alcançasse lucro líquido de R$ 150 milhões no ano passado. De 1997 a 2004, a receita da empresa cresceu 30%.
"Hoje a ferrovia é uma opção para o país. Antes não era", afirma Bernardo Hees, presidente da ALL, uma das empresas com linha de crédito no BNDES.


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