São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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POLÍTICA MONETÁRIA
Taxa praticada no over cai de 42,75% para 39,50% ontem e 39% hoje; previsão é de queda gradual
BC mostra cautela ao baixar os juros

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

Um dia após ter baixado o teto dos juros, o Banco Central atuou ontem de maneira cautelosa e, na prática, reduziu a taxa para um nível mais elevado do que o antecipado pelo mercado financeiro.
No over, o mercado por um dia, a taxa ficou em 39,50% ao ano (anteontem, o BC havia tomado dinheiro emprestado a 42,75%). A taxa sinalizada para hoje é de 39%.
Na interpretação do mercado, o BC vai reduzir a taxa Selic, média dos juros do over nos negócios com títulos públicos, em 0,5 ponto percentual ao dia.
"O BC fez a opção conservadora. Os juros básicos vão cair, mas aos poucos", diz André Penalva, do Banco Patrimônio. Ao cortar os juros gradualmente, o BC evita ter de passar pelo constrangimento de subir as taxas de novo neste ano.
Se o governo tiver problemas com a aprovação das medidas do ajuste fiscal no Congresso, se o cenário externo piorar, se os dólares voltarem a sair com força do país ou se o acordo com o FMI atrasar, o BC ainda tem a opção de segurar os juros do over.
A maior parte dos investidores apostava que o BC cortaria os juros Selic de forma brusca, para patamares entre 35% e 38% ao ano. Anteontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) baixou a Tban, o teto dos juros do over, de 49,75% ao ano para 42,25% ao ano.
Quando o BC atuou no over pegando emprestado a taxas de 40% ao ano, às 9h15 de ontem, o nervosismo tomou conta do mercado financeiro. Às 9h43, a mesa do BC atuou no over novamente e pegou empréstimo dos bancos a 39,50%. Às 9h57, o BC fez outra operação semelhante, tomadora de recursos, a taxas de 39,50% ao ano.
O mercado só se acalmou quando o BC realizou uma operação a termo, para hoje, emprestando aos bancos a 39% ao ano.
Mesmo assim, na Bolsa de Mercadorias & Futuros, os mercados passaram a projetar taxas de 37,80% ao ano para novembro, contra 35,75% anteontem. Para dezembro, no entanto, as taxas projetadas caíram, de 31,25% ao ano para 30,24%.
Se o governo mantiver o ritmo de queda nos juros, as taxas Selic do over passarão para os patamares de 33,5% a 34% no final do mês. Na próxima reunião do Copom, no dia 16 de dezembro, passam para 28% ao ano.
Também para subir os juros do over até 42,75%, o BC foi praticando altas graduais, de 0,1 ponto percentual ao dia. O BC elevou as taxas para conter a fuga de dólares por causa da crise de credibilidade decorrente da moratória russa, em meados de agosto.
Nas operações de crédito, os juros estavam elevadíssimos, mesmo antes da crise russa, e não devem cair tão já. As taxas embutem uma folga para cobrir perdas com a inadimplência.
Empréstimos para capital de giro de empresas custam, em média, cerca de 70% ao ano. Cheque especial e cartão de crédito têm, tradicionalmente, os juros mais altos do mercado, acima de 200% ao ano.



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