São Paulo, sexta, 13 de novembro de 1998

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PREÇOS
Queda de 0,22% na primeira quadrissemana do mês surpreende a Fipe, que agora já espera menos 1% para 98
Economia 'parada' traz deflação de volta

MAURO ZAFALON
da Redação

Quando se esperava que as taxas de deflação ficassem ausentes dos índices que medem preços neste último bimestre de 98, elas reaparecem com ímpeto ainda maior do que antes. É o que mostram os dados divulgados ontem pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Após fechar outubro com pequeno aumento de 0,02%, os preços voltaram a cair fortemente na primeira quadrissemana deste mês no município de São Paulo. A queda foi de 0,22% e surpreendeu até o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da instituição, Heron do Carmo, que esperava taxa positiva de pelo menos 0,15% para o período.
A queda foi generalizada (exceção feita a saúde e educação) e o que aconteceu está totalmente fora da tendência esperada, diz Heron do Carmo. Segundo ele, esses dados preocupam muito.
Os índices de preços são sempre mais ágeis para captar as tendências da situação econômica, explica o economista. Se eles já estão refletindo um quadro de retração econômica, é possível prever quedas ainda maiores da atividade e do emprego neste final de ano.

Novo cenário
Essa taxa de deflação dá um novo cenário para os próximos meses. A Fipe, que esperava taxa de inflação (alta de preços) de 0,4% para este mês, agora não descarta uma nova taxa de deflação (queda de preços).
Heron do Carmo refez também sua previsão de taxa para 98, que antes era de queda de 0,5%. Agora, o economista prevê redução de pelo menos 1% neste ano.
Quanto aos juros, Heron do Carmo diz que o Banco Central foi conservador na redução da Tban (Taxa de Assistência do BC), mas que o importante serão as novas taxas do overnight. Se o over não refletir redução maior, as dificuldades econômicas tendem a se aprofundar, mesmo com a assinatura do acordo com o FMI, diz ele.
A taxa negativa de 0,22% da primeira quadrissemana deste mês registrou várias surpresas, que refletem bem o arrocho monetário, diz o economista da Fipe. Uma delas foi a volta das quedas de preços no setor de vestuário, contrariando todas as tendências para este período do ano.
Nos últimos 30 dias até 7 deste mês, os preços de vestuário recuaram 0,43%. Em outubro, após 12 semanas em queda, o setor tinha voltado a registrar alta (0,17%). Alimentos industrializados e bens duráveis de consumo também caíram além da expectativa, puxando o índice para baixo.
Outro fator importante para a taxa de deflação foram os combustíveis, que estão em queda no índice da Fipe há 18 semanas.
Para Heron do Carmo, essas quedas contínuas de preços refletem a forte desova de estoque pelas empresas e a acirrada concorrência por que passa a economia.
Os dois setores que vêm registrando pequenas altas de preços em São Paulo são saúde e educação, com 0,17% e 0,15%, respectivamente.
No caso da saúde, o aumento é devido aos remédios e produtos farmacêuticos, uma vez que as consultas médicas estão em queda.



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