São Paulo, quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

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Banco do Brasil já passou pelo pior, diz Maranhão

Presidente demissionário da instituição afirma que grandes desafios foram resolvidos

Após dois anos no cargo, ele diz que a carteira de crédito do Banco do Brasil cresceu e melhorou de qualidade e que cumpriu sua missão


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"O pior já passou, agora é crescer com qualidade." A avaliação de Rossano Maranhão sobre o futuro do Banco do Brasil, após dois turbulentos anos no comando da instituição, tem um tom de desabafo. O envolvimento de funcionários do banco nos escândalos do valerioduto e na montagem do dossiê contra políticos tucanos na campanha eleitoral deste ano marcou sua gestão.
Na sua última semana como presidente da instituição, ele disse à Folha que os "grandes desafios do BB foram resolvidos", que considera ter cumprido um ciclo e, por isso, negociou sua saída com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Bastante tranqüilo, Maranhão evita falar sobre temas delicados como o processo de "despetização" do BB, que ele deixou pela metade. "Isso não é mais problema meu. Saio por razões única e exclusivamente pessoais", diz, e ressalta as conquistas obtidas. Leia, a seguir, trechos da entrevista.

 

FOLHA - Qual é o motivo da sua saída do Banco do Brasil?
ROSSANO MARANHÃO -
Fiz o que era fundamental. Lançamos um bônus perpétuo [título sem data de vencimento prevista] de US$ 500 milhões em janeiro, aderimos ao Novo Mercado [padrão de boa governança da Bolsa de Valores de São Paulo] e fizemos a oferta de US$ 1 bilhão em ações. Concluímos uma negociação salarial. Tudo isso trouxe o banco para um novo padrão de gestão e de liquidez das ações.

FOLHA - Mas tudo isso não é motivo para sair, é?
MARANHÃO -
Os grandes desafios foram resolvidos. Recebi o banco com as ações valendo R$ 28,50 [lote de mil] e deixo com R$ 64. Acho que cumpri um ciclo. Recebi convites para ir para a iniciativa privada. Há cerca de dois meses, consultei a Comissão de Ética e falei com o presidente [Lula]. Foi rigorosamente uma decisão pessoal. Quero dar mais atenção à família e à saúde.

FOLHA - O sr. vai trabalhar onde?
MARANHÃO -
Não é minha intenção ir para a concorrência. Tenho três convites -dois são de instituições financeiras e um de uma empresa. Não queria avançar nas negociações estando no cargo no BB. Não quero comentar nomes porque seria indelicado com as pessoas que me convidaram.

FOLHA - Apesar dos avanços citados, o processo de "despetização" do BB iniciado com a sua nomeação não terminou. O que atrapalhou?
MARANHÃO -
Isso não é mais problema meu. Saio por razões única e exclusivamente pessoais.

FOLHA - Não fica nenhuma frustração, nenhuma mágoa de relacionamento?
MARANHÃO -
Minha frustração é não estar em 2008, quando o BB completar dois séculos. Poucas instituições conseguem isso. Meu relacionamento com o Palocci [Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda] foi positivo e com o Mantega [Guido Mantega, atual ministro] também. Não sei a quem interessava fazer ilações sobre algum atrito. A convivência foi profissional.

FOLHA - Na discussão sobre utilizar os bancos oficiais para reduzir a taxa de juros do mercado, o BB não foi contra a posição do ministro Guido Mantega?
MARANHÃO -
É normal ter alguma divergência. Se todo mundo combinasse em tudo, a vida seria um horror.

FOLHA - E com o presidente Lula?
MARANHÃO -
Cumpri minha missão, e o presidente reconheceu meu trabalho. Tivemos bons resultados, a carteira de crédito do BB cresceu e melhorou de qualidade.

FOLHA - Qual é ponto vulnerável do BB, a ingerência política?
MARANHÃO -
O pior já passou. Agora é crescer com qualidade. Mais importante do que crises é ter resultados. Isso é o que permeia a posição dos investidores. Estamos com a ação valendo mais do que o dobro do que valia em 2004. E há espaço para valorizar mais.

FOLHA - Sua saída foi negociada assim que saiu o relatório parcial da auditoria sobre o ex-diretor de risco Expedido Veloso [que atuou na montagem do dossiê contra tucanos]...
MARANHÃO -
Isso foi pura coincidência.


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