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Nanica, eólica tenta crescer com 1º leilão
Especialistas esperam que energia se firme como complemento limpo à hidráulica, mas cobram do governo política de longo prazo
Mercado estima que sejam
contratados amanhã, no 1º
pregão específico para eólicas,
2 GW, o que daria para
abastecer 8 mi de pessoas
NATÁLIA PAIVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com o primeiro leilão específico para a compra de energia
eólica, que será realizado amanhã, empresários, fabricantes e
especialistas esperam que a
energia gerada a partir do vento
se firme como um complemento limpo à hidráulica, principal
fonte energética do país. O objetivo do leilão é a compra, pelo
governo, de energia extra para
o sistema nacional interligado.
Mas, para que o setor decole,
avaliam ser necessária uma política de longo prazo por parte
do governo -ausência que ainda afeta investimentos em parques e fábricas, segundo eles.
O sucesso do leilão, que teve
339 projetos habilitados (10
GW), pode dobrar o faturamento do mercado, ao fazê-lo
movimentar mais de R$ 5 bilhões até 2012, diz Lauro Fiúza,
presidente da Abeeólica, associação do setor. O mercado prevê contratação de até 2 GW (o
que daria para abastecer cidade
com 8 milhões de habitantes).
Na semana passada, a menos
de sete dias do leilão e já no início da conferência do clima de
Copenhague, o governo isentou
os aerogeradores, permanentemente, do pagamento de IPI
-o que atingirá apenas duas fabricantes, as únicas no país.
"É uma sinalização excelente
para o setor, pois demonstra
preocupação do governo. Mas o
ideal é que a desoneração seja
em nível de cadeia", diz Tadeu
Matheus, da Wobben. A capacidade de produção da empresa
de aerogeradores é de 500 MW
por ano. "Mas poderá ser ampliada, caso haja sinalização de
políticas de Estado visando fornecimento constante e regular.
Produzimos muito menos que
a capacidade instalada." Avaliação semelhante faz a Abeeólica.
Só neste ano, foram inauguradas 15 usinas, aumentando a
capacidade eólica instalada para 602 MW -número aquém
da meta inicial do Proinfa, programa de fontes alternativas do
governo que, ao comprar 1.423
MW em 2004, deu o primeiro
empurrão para o setor.
O atraso do programa, cuja
meta inicial era 2006, ocorreu
porque foi preciso criar estrutura legal e confiança do investidor, diz Hamilton Moss, do
MME (Ministério de Minas e
Energia). As principais travas
foram a exigência de índice de
nacionalização dos projetos
(quando havia poucas fábricas),
atrasos em financiamentos e comercializações de licenças.
Vento complementa água
Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de
Pesquisa Energética), e Luiz
Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ e ex-presidente da
Eletrobrás, afinam o discurso a
favor da energia eólica como
bom complemento às hidrelétricas. É que os ventos são mais
intensos justamente no período em que chuvas escasseiam.
"Suponha que esteja ventando muito à noite, num horário
em que não se precisa de muita
energia. Você pode desligar algumas turbinas e deixar encher
os reservatórios, usando, no lugar, a eólica", diz Pinguelli.
Enquanto a maioria dos países precisa investir pesadamente em energia renovável
para cumprir suas metas de redução de emissões de carbono,
o Brasil, não. É que só 3% das
emissões brasileiras vêm da geração elétrica. E quase 87% da
matriz elétrica do país é renovável (a média mundial é 18%).
O problema é que essa matriz
limpa pode se "sujar", caso aumente a participação de combustíveis fósseis: no Plano Decenal de Expansão de Energia
2008-2017 da EPE, prevê-se
que as térmicas a óleo combustível passarão de 1,49% para
5,7%. Além de emitir CO2, são
caras, quando acionadas. Em
2007, o acionamento de 12 meses gerou gasto de R$ 2 bilhões.
Planejamento
Uma expectativa oficial em
longo prazo para o setor está no
Plano Nacional de Energia, o
PNE 2030, de 2005: estimava-se que, até lá, atingiria-se 4,6
GW. Hoje, o governo já espera
que essa meta seja atingida ao
menos dez anos antes.
Desde 2003, tramita na Câmara o projeto de lei 630, marco legal das fontes eólica e solar, que estabelece metas, desonerações, apoio ao desenvolvimento tecnológico, incentivo à
pequena geração. Mês passado,
foi aprovado em comissão especial e seguiu para o plenário.
Para "bombar" o setor, a
Abeeólica defende o planejamento de leilões anuais; a certeza da continuidade atrairia
investidores. "Tem de fazer leilão anual, mas forçar o preço
para baixo. Não é porque a eólica é boa que temos de pagar fortunas", diz Pinguelli. O preço
máximo hoje é de R$ 278 (contratos do Proinfa). No leilão, será de R$ 189. Na hidrelétrica,
varia de R$ 70 a R$ 100.
Tolmasquim, da EPE, diz que
"não há decisão formal", mas
há "tendência" de que haja outros leilões. Moss, do MME,
pondera que a fixação de leilão
anual melhoraria para o investidor, mas engessaria as possibilidades de reduzir custos.
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