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TRABALHO
Indicador de produtividade, salário e câmbio é positivo, mas resposta na exportação esbarra na crise mundial
Custo da mão-de-obra na indústria cai 10%
GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação
A competitividade da indústria
brasileira, medida pelo custo da
mão-de-obra, conseguiu superar
neste ano o nível de 1994, o primeiro ano do Plano Real. Só entre 1997
e 1998, o custo caiu 10,1%.
A conclusão é dos economistas
Regis Bonelli (Ipea) e Renato Fonseca (CNI), em trabalho sobre custo unitário da mão-de-obra na indústria, indicador composto por
dados sobre produtividade, salário
e câmbio.
Para um índice 100 em 1990, o
ULC (de "unit labor costs") chegou a 96,1 no ano de estréia do
Real, se elevando nos dois anos seguintes para 113,9 e 113,7. O crescimento do índice mostra perda de
competitividade.
Em 1997 o ULC já havia caído para 104,7. Dados até agosto revelam
que em 1998 o indicador recuou
para 94,1. Em 1993, ano anterior ao
Real, o ULC estava em 92,7.
Visto assim, isoladamente, o
ULC indicaria que a indústria brasileira está em condições de ganhar
mercados por todo o mundo, impulsionando as exportações.
Acontece que os demais países,
concorrentes do Brasil, tem seus
respectivos ULCs. Como aqui, o
quadro da competitividade industrial não é estático lá fora. Além
disso, há outros fatores que influenciam a disputa por mercados.
Fonseca diz que o ULC dos EUA
e de países europeus tem mantido
certa estabilidade. Mais recentemente, o Brasil até melhorou sua
posição relativa quanto à Europa,
devido à componente cambial.
O dólar, ao qual o real está atrelado, embora não tenha paridade estrita, se desvalorizou diante das
principais moedas européias -e
também em relação ao iene.
O maior problema, observa o
economista, é que depois das crises asiática e russa a demanda
mundial se retraiu muito, afetando
as exportações brasileiras. Os produtos asiáticos, por sua vez, ganharam competitividade com a
forte desvalorização cambial, não
anulada pela inflação interna.
²
Ganhos de produtividade
A melhoria da competitividade
da indústria brasileira foi puxada
pelos ganhos de produtividade. Os
demais componentes do ULC, salário e câmbio, seguraram o avanço desse indicador, só melhorando
a partir de 1997.
Não é de hoje que a produtividade da indústria brasileira vem crescendo, num ritmo sem precedentes, segundo os autores do trabalho. Paradoxalmente, afirmam, o
país perdeu competitividade em
relação a vários países desde 91/92.
No entender de Fonseca e Bonelli, os ganhos de produtividade foram anulados pelo crescimento do
custo da mão-de-obra. Entre 1990
e 1996, a produtividade avançou
61,9%, mas o salário médio em dólares cresceu 84%, e o salário real,
75,5%.
Isso não significa que o trabalhador na indústria passou a nadar
em dinheiro. O salário real a que se
referem os autores foi deflacionado pelo IPA-industrial. Mede o salário do ponto de vista do empregador, e não do poder de compra
do operário. Aqui, o salário real relevante é o deflacionado por índices de preços ao consumidor.
Para medir competitividade, entretanto, o que importa é o salário
em relação ao preço da indústria,
refletido no IPA setorial.
A perda de competitividade da
indústria brasileira, segundo Bonelli e Fonseca, não se relacionou
apenas à valorização do real diante
do dólar. O salário também avançou bem mais que os preços da indústria.
No mesmo período de 1990 a
1996, enquanto o salário deflacionado pelo IPA-industrial crescia
75,5%, o real apresentava uma valorização de 4,6% diante do dólar
(deflacionado pelo mesmo índice).
De 1990 a 1998, o maior crescimento do custo unitário da mão-de-obra (18,6%) ocorreu em 1995,
quando o salário real cresceu
13,9% e a valorização cambial alcançou 7,5%. No mesmo ano, a
produtividade subiu 3,8%, e o salário médio em dólares, 23,1%.
Depois de 1996 o ULC da indústria brasileira passou a cair de forma crescente (ver tabela), indicando melhoria na competitividade.
Entre 1997 e 1998 (média até
agosto), quando o ULC recuou
10,1%, o índice da produtividade
continuou a avançar (9%), ao passo que o salário médio em dólares
caiu 2%, o salário real cresceu 3,1%
e a desvalorização cambial (em termos reais) atingiu 5,2%.
O custo unitário da mão-de-obra
da indústria brasileira, portanto,
evolui favoravelmente. O ritmo de
crescimento da produtividade
caiu, mas, em compensação, os
componentes de salário e câmbio
deixaram de atuar na contramão.
O do salário, diz o economista, pode melhorar ainda mais com a flexibilização dos encargos trabalhistas.
Um sinal da maior competitividade, no entender de Fonseca, está
no aumento das exportações de
manufaturados brasileiros para a
Europa e EUA este ano. De janeiro
a setembro, o crescimento foi de
26% e 12,5%, respectivamente.
Mas, segundo ele, isso não vai resolver o problema do déficit comercial do país, pelo menos até o
ano que vem. A estratégia gradualista da política econômica do governo FHC tropeçou justamente
onde não deveria tropeçar. "Infelizmente, entramos numa crise
mundial", afirma Fonseca.
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