São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 1998

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Acordo abre precedentes

da Reportagem Local

O recente acordo firmado entre a Volkswagen e os sindicatos de metalúrgicos do ABC e de Taubaté para evitar demissões pode influenciar futuras negociações coletivas entre empresas e trabalhadores.
Diante da ameaça de 7.500 demissões nas fábricas de São Bernardo e Taubaté da Volks, que empregam 26 mil trabalhadores, os dois sindicatos concordaram em reduzir a jornada de trabalho e o salário de parte dos empregados.
As duas entidades são filiadas à CUT, que sempre rejeitou a redução de salários.
A jornada de trabalho nas duas fábricas será reduzida para quatro dias por semana durante três semanas po mês. Na semana restante, a jornada será de cinco dias, como antes.
Os salários foram reduzidos em 15% (válido para 13% do efetivo, aqueles que ganham mais de R$ 2.416 por mês). A redução será parcialmente compensada pelo reajuste salarial de 2,98% e pela participação nos lucros e resultados.
Os funcionários que recebem até R$ 2.416 por mês terão o rendimento mensal garantido pela empresa.
As montadoras tentam reduzir os gastos com os benefícios sociais dos trabalhadores nas negociações coletivas e o acordo da Volks pode servir como novo argumento.
Os trabalhadores, no entanto, devem pedir o mesmo índice de reajuste salarial acordado com os metalúrgicos de Taubaté e São Bernardo.
Segundo o presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT, Paulo Sérgio Ribeiro Alves, as montadoras vão ter que repassar os 2,98% de reajuste salarial da Volks.
A data-base dos metalúrgicos é 1º de novembro, mas as negociações caminham lentamente.
"O sindicato das montadoras esperou sair o acordo da Volkswagen", disse o dirigente da CUT.
Também existe a expectativa de que o acordo influencie outros setores da indústria.
O negociador trabalhista das empresas de autopeças, Drausio Rangel, afirma que o ano de 98 foi marcado por um novo ciclo de negociações coletivas, onde prevaleceu a barganha.
"As empresas oferecem reajuste salarial, mas trocam pelo excesso de adicionais. O desemprego faz os sindicatos entenderem que o emprego é o bem maior a ser preservado", diz o negociador.
No setor de autopeças, o reajuste concedido foi de 2,5%, mas as reduções nos benefícios proporcionaram uma economia de 0,8% a 1%, em média, nos gastos de cada empresa com a folha de pagamento.
"É a verdadeira flexibilização do mercado de trabalho", conclui Rangel.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, o acordo do VW deve abrir precedentes, o que é positivo porque serviu para garantir empregos.
No entanto, afirma o dirigente, esse tipo de negociação é fruto de um momento específico. "Se a economia voltar a crescer novamente, muda o tom da negociação", diz o sindicalista. (MAURICIO ESPOSITO)



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