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LUÍS NASSIF
Um ano depois
Um ano depois do anúncio da
"banda cambial exógena" e da
implosão da política cambial anterior, nenhuma das expectativas
catastróficas se confirmou. Queda
do PIB de mais de 6%, inflação de
mais de 60% ao ano, desorganização da economia, nada ocorreu. Pelo contrário, inicia-se o
ano 2000 com o país ainda machucado pelos desmandos anteriores, mas com a melhor perspectiva em muitos anos.
Instados a explicar os erros de
previsão, economistas que transformaram política cambial em
matéria de fé safaram-se com o
álibi da maioria -se todo mundo errou, ninguém errou.
O episódio merece considerações um pouco mais aprofundadas do que a mera busca de álibis
ou de culpados. Sua importância
reside no fato de ter representado
o canto de cisne de uma das politizações mais nefastas que vitimou o país no período: a manipulação do conhecimento econômico como forma de exercício de poder, por parte de grupos acadêmicos encastelados no governo ou
em consultorias.
Infelizmente, ainda não significou uma reavaliação do jornalismo econômico, em relação à importância da diversificação de
fontes, para não se apresentarem
visões parciais da realidade.
O processo de formação de consenso sobre a política cambial anterior foi prova inequívoca do
subdesenvolvimento intelectual
que caracteriza ainda o país. A
defesa intransigente do câmbio
permitiu a um conjunto de consultores e de autoridades públicas
conquistar um espaço hegemônico na mídia, inicialmente pela facilidade de acesso a essas fontes
-as chamadas fontes em permanente disponibilidade.
Quando os fatos começaram a
demonstrar a loucura de se prosseguir com a política anterior,
passou-se a recorrer a slogans vazios de sentido. O absurdo maior
era o argumento de que não se
poderia reduzir os juros enquanto não se tivesse superávit fiscal
-quando a própria manutenção
da política de juros inviabilizava
qualquer ajuste futuro.
O pior foi o fundamentalismo
que cercava as discussões. Qualquer pessoa que questionasse o
nível de juros ou a manutenção
do câmbio era jogada na vala comum dos "inimigos do ajuste fiscal". O patrulhamento chegou ao
auge com um famoso artigo onde
se tentava caracterizar todas as
críticas contra a política cambial
e monetária como provindas do
"arco do atraso".
Esqueceu-se completamente da
análise da realidade, da utilização de princípios básicos de prudência financeira. Qualquer executivo financeiro, de posse do histórico do balanço de pagamentos
e do aumento da dívida pública,
concluiria pela impossibilidade
de manutenção do modelo.
No dia em que assumiu o Banco
Central, Francisco Lopes fez uma
declaração de pouca repercussão
na época: o BC, ou pelo menos ele,
jamais contara com os US$ 40 bilhões de reservas de "hot money"
-cuja manutenção implicou um
custo pesadíssimo para o país.
Mas, como a cobertura girava
sempre em torno de meia dúzia
de fontes, passava-se para a opinião pública que a defesa do câmbio era verdade científica. Esse
movimento inibiu o aparecimento de posições contrárias, pelo
acomodamento de muitos analistas de preferir errar junto com a
maioria, do que arriscar-se em
raia própria.
O preço para o país foi fantasticamente elevado. Não apenas pelos passivos criados, mas por ter
atrasado em vários anos a retomada do desenvolvimento e a
atração de capitais para atividades produtivas -justamente no
período das mais velozes transformações da história.
É difícil saber se as lições foram
aprendidas. Mas, se o país aprendesse com facilidade, há muito teria deixado de lado o subdesenvolvimento.
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