São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

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Fundo quer Kirchner "amigável" com credor

DO ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY

O FMI (Fundo Monetário Internacional) advertiu o governo argentino para que seja "amigável" ("friendly") com os seus credores, que não estão sendo pagos desde a moratória decretada em dezembro de 2001, pelo então presidente Adolfo Rodríguez Saá.
A advertência foi feita em encontro entre o diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler, e o presidente argentino Néstor Kirchner.
A reação de Kirchner veio no discurso que o presidente pronunciou pouco depois, na sessão de encerramento da Cúpula Extraordinária das Américas: denunciou, mais uma vez, "pressões e exigências" dos organismos internacionais, que "parecem não entender nossa necessidade de crescimento".
Cunhou em seguida uma frase de efeito: "Dos mortos, não se pode cobrar [a dívida]".
Antes mesmo do discurso, o presidente já havia dito a Köhler, sobre a proposta de ser "amigável" com os credores: "Sem problemas, já estamos sendo amigáveis. Mas nossa proposta de redução de 75% no valor da dívida continua absolutamente firme".
O choque com o FMI não impediu o governo argentino de anunciar que o presidente norte-americano George Walker Bush deu ontem respaldo a Kirchner, durante encontro entre os dois governantes. Na versão retransmitida à mídia pela delegação argentina, Bush teria dito:
"Sei que há versões de que a Argentina não vai pagar sua dívida, mas sei que é falatório e tenho plena confiança no compromisso assumido pelo governo argentino".
Mas, na delegação norte-americana, sem discordar dessa versão, havia um dado adicional: Bush, como Köhler, teria solicitado uma linha mais flexível na negociação com os credores.
Na semana passada, funcionários norte-americanos haviam criticado Kirchner por sua suposta (ou real) esquerdização. O encontro de ontem serve para distender as relações, até porque Alberto Fernández, o chefe de gabinete de Kirchner, diz que "tanto os Estados Unidos como a Argentina sabem da importância de manter a melhor relação".
Mas, no discurso na sessão de encerramento da Cúpula Extraordinária das Américas, o presidente argentino fez de fato um discurso esquerdista, com a mais clara condenação do modelo que predominou na região durante os anos 90.
Disse que "a abertura indiscriminada e as privatizações a qualquer preço" (a essência das políticas nos anos 90) criaram "um modelo de injustiça, de concentração econômica e de quebra de nossas economias".
Propôs "internalizar um novo paradigma de desenvolvimento", que tenha presente "a variável distributiva", ao lado dos requisitos macroeconômicos. (CR)


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