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Fundo quer Kirchner
"amigável" com credor
DO ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY
O FMI (Fundo Monetário Internacional) advertiu o governo
argentino para que seja "amigável" ("friendly") com os seus credores, que não estão sendo pagos
desde a moratória decretada em
dezembro de 2001, pelo então
presidente Adolfo Rodríguez Saá.
A advertência foi feita em encontro entre o diretor-gerente do
Fundo, Horst Köhler, e o presidente argentino Néstor Kirchner.
A reação de Kirchner veio no
discurso que o presidente pronunciou pouco depois, na sessão
de encerramento da Cúpula Extraordinária das Américas: denunciou, mais uma vez, "pressões
e exigências" dos organismos internacionais, que "parecem não
entender nossa necessidade de
crescimento".
Cunhou em seguida uma frase
de efeito: "Dos mortos, não se pode cobrar [a dívida]".
Antes mesmo do discurso, o
presidente já havia dito a Köhler,
sobre a proposta de ser "amigável" com os credores: "Sem problemas, já estamos sendo amigáveis. Mas nossa proposta de redução de 75% no valor da dívida
continua absolutamente firme".
O choque com o FMI não impediu o governo argentino de anunciar que o presidente norte-americano George Walker Bush deu
ontem respaldo a Kirchner, durante encontro entre os dois governantes. Na versão retransmitida à mídia pela delegação argentina, Bush teria dito:
"Sei que há versões de que a Argentina não vai pagar sua dívida,
mas sei que é falatório e tenho plena confiança no compromisso assumido pelo governo argentino".
Mas, na delegação norte-americana, sem discordar dessa versão,
havia um dado adicional: Bush,
como Köhler, teria solicitado uma
linha mais flexível na negociação
com os credores.
Na semana passada, funcionários norte-americanos haviam
criticado Kirchner por sua suposta (ou real) esquerdização. O encontro de ontem serve para distender as relações, até porque Alberto Fernández, o chefe de gabinete de Kirchner, diz que "tanto
os Estados Unidos como a Argentina sabem da importância de
manter a melhor relação".
Mas, no discurso na sessão de
encerramento da Cúpula Extraordinária das Américas, o presidente argentino fez de fato um discurso esquerdista, com a mais clara
condenação do modelo que predominou na região durante os
anos 90.
Disse que "a abertura indiscriminada e as privatizações a qualquer preço" (a essência das políticas nos anos 90) criaram "um
modelo de injustiça, de concentração econômica e de quebra de
nossas economias".
Propôs "internalizar um novo
paradigma de desenvolvimento",
que tenha presente "a variável
distributiva", ao lado dos requisitos macroeconômicos.
(CR)
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