São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2004

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GUERRA CAMBIAL

Presidente do Fed afirma que mercado deve achar equilíbrio para a moeda; europeus querem ação do G7

Queda do dólar não assusta, diz Greenspan

DA REDAÇÃO

Alan Greenspan, o presidente do Federal Reserve (banco central americano), afirmou que não há evidências de que os EUA estejam enfrentando dificuldades para financiar o seu déficit em conta corrente. Greenspan mostrou-se pouco preocupado com o enfraquecimento do dólar, mas reconheceu que a alta do euro prejudica os exportadores europeus.
As declarações do presidente do Fed, feitas no Bundesbank (BC alemão), em Berlim, evidenciam a política americana de permitir a desvalorização de sua moeda. O dólar mais fraco colabora para o ajuste das contas do país, ao favorecer as exportações e desestimular as importações. O déficit americano se aproxima de US$ 500 bilhões ao ano, ou quase 5% do PIB (Produto Interno Bruto).
O tema promete dividir opiniões e aquecer o debate na reunião dos ministros da área econômica do G7 (os sete países mais industrializados do planeta), no mês que vem, na Flórida. Em uma disputa que lembrará a controvérsia acerca da Guerra do Iraque, estarão, de um lado, os EUA, e de outro, a Alemanha e a França.
Alemanha e França, as duas maiores economias da zona do euro, querem que o G7 aja para conter a volatilidade cambial. Mas os EUA opõem-se a qualquer ação que signifique valorização do dólar, especialmente às vésperas das eleições presidenciais.
O presidente do Fed chegou a dizer que, dada a impossibilidade de antecipar os efeitos de uma intervenção, o ideal é deixar que o mercado encontre o equilíbrio.
"Se nenhuma medida for tomada para ajustar o déficit em conta corrente [dos EUA], o mercado o fará", afirmou Greenspan durante o seminário organizado pelo Bundesbank. "Devemos ser cautelosos ao tentar alterar as forças que guiam o mercado em direção ao equilíbrio, porque, com as grandes mudanças que estão ocorrendo internacionalmente, nem todas por nós compreendidas, há o risco de que aconteçam eventos inesperados."
As declarações de Greenspan provocaram um certo constrangimento ao chanceler (primeiro-ministro) alemão, Gerhard Schröder, com quem o presidente do Fed esteve reunido. O premiê evitou fazer comentários e disse que a questão deveria ser tratada pelo Banco Central Europeu.
Há um ano, o euro estava cotado a pouco mais de US$ 1. Desde então, disparou quase 30%. Ontem, a moeda utilizada por 12 países europeus encerrou o dia sendo vendida a US$ 1,2767.
A economia da eurolândia, bastante dependente do mercado externo, está estagnada há três anos. Para autoridades do bloco, a valorização da moeda comprometerá as vendas ao exterior e, como consequência, abalará a ligeira retomada prevista para este ano.
Falando à Assembléia Nacional, em Paris, Francis Mer, o ministro francês das Finanças, afirmou que o encontro do G7 deverá dar a "mensagem correta ao mercado", segundo a qual "não é o euro que está forte, mas sim o dólar que está fraco demais".
Anteontem, Adolfo Urso, vice-ministro italiano da Indústria, havia dito que o "euro a US$ 1,30 significa a barreira de emergência para as exportações".
Também na segunda-feira, após um encontro de diretores de bancos centrais na Basiléia (Suíça), Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, afirmou que vê com preocupação a "brutal" e "excessiva volatilidade" no mercado cambial.
Trichet sofre pressão de autoridades da zona do euro para reduzir a taxa de juros, hoje em 2% ano ano. A taxa, o dobro da americana, é tida como um dos fatores para a valorização do euro.

Argentina e bolha
Após sua apresentação, Greenspan foi questionado sobre diversos temas, entre eles a bolha especulativa no mercado e a recuperação da Argentina.
Sobre a Argentina, disse as negociações do país deverão ser "difíceis", mas reconheceu que houve uma estabilização no país.
Para Greenspan, é pouco provável que ocorra uma crise mundial por causa de uma suposta nova bolha nos mercados. "É extremamente improvável."


Com "Financial Times" e agências internacionais


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