São Paulo, segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

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Fundos ligados a juros têm recuo histórico

Com queda na taxa Selic, fundos DI e de renda fixa têm menor participação no mercado de fundos da história do país

Eles fecharam 2007 com menos de 50% dos recursos aplicados; analistas recomendam cautela ao mudar de investimento

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fundos que acompanham a movimentação das taxas de juros voltaram a sofrer em 2007 pesados saques de recursos, como já havia ocorrido em 2006. Esse movimento fez com que tanto os fundos DI quanto os de renda fixa atingissem suas mais baixas participações da história no mercado - juntos têm menos de 50% do total aplicado pelos investidores.
Os fundos de renda fixa, que ainda se mantêm como a maior categoria de investimentos do mercado, representam hoje 30,83% do total aplicado pelos brasileiros. Criada em 1984, essa categoria chegou a responder por 96,81% de todo o mercado em 1992. Mas desde 2005, quando contava com 40,7% da indústria de fundos, só vêm perdendo aplicadores.
Os fundos DI, que contavam com 33,61% das aplicações totais do mercado em 1999, encerraram 2007 representando só 15,29% da indústria.
O processo de queda da taxa básica de juros da economia, a Selic, verificado nos últimos anos, somado às seqüências de valorizações conquistadas pela Bovespa, fez com que os investidores passassem a aceitar correr maiores riscos para tentar manter ou aumentar a rentabilidade oferecida no mercado para suas economias.
Em 2007, os fundos DI tiveram o pior resultado dentre todas as categorias, com captação negativa de R$ 16,33 bilhões. Os fundos de renda fixa tiveram resgates líquidos de R$ 7,46 bilhões no período. Os dados são da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
Enquanto isso, o mercado de fundos como um todo conseguiu captação líquida (diferença entre aplicações e resgates) de R$ 44,77 bilhões em 2007. Ou seja, em um ano de forte entrada de recursos no mercado de fundos, os que seguem os juros perderam aplicações.
"Houve uma migração dos recursos dos investidores no ano", afirma a consultora de investimentos Márcia Dessen, da Bankrisk. "O investidor quer tentar manter os ganhos que tinha antes. Acho importante o brasileiro começar a testar investimentos de maior risco para ter uma rentabilidade mais interessante. Mas têm de fazer essas mudanças com responsabilidade", avalia a consultora.
Os fundos de renda fixa aplicam no mínimo 80% de sua carteira em títulos públicos federais ou ativos com baixo risco de crédito, sendo boa parte desses papéis com taxas prefixadas (definidas na hora em que são negociados).
No caso dos fundos DI, investem ao menos 95% do valor de sua carteira em títulos ou operações que busquem acompanhar as variações do CDI ou da taxa básica Selic. O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é uma espécie de aplicação negociada apenas entre os bancos, normalmente pelo prazo de um dia, que pagam juros.
Para 2008, as menores chances de a Selic cair e as projeções menos otimistas para a Bolsa podem ajudar a dar algum impulso aos fundos que seguem as taxas de juros. O que nenhum analista pode prever é se as migrações de recursos seguirão.
Além da queda da taxa básica Selic -que saiu de 18% no começo de 2006 para os atuais 11,25% ao ano-, a incidência de IR (Imposto de Renda) sobre o ganho das aplicações, além das taxas de administração, têm pesado na hora de o investidor decidir o que fazer com suas economias.
"O investidor brasileiro ainda acha que juros abaixo de duas casas é ruim. Mas tem de estar atento também ao tamanho da inflação para avaliar o retorno das aplicações", afirma Fábio Colombo, administrador de investimentos.
O IPCA encerrou o ano com inflação acumulada de 4,46%.
Não é possível dizer com exatidão qual foi o destino dos recursos que saíram dos fundos de renda fixa e DI. Mas fato é que os fundos de ações e multimercados receberam forte aporte de recursos novos no ano passado.
A poupança também foi muito procurada pelos aplicadores em 2007, computando captação líquida de R$ 33,4 bilhões, segundo o Banco Central.
Os fundos de renda fixa pagaram uma média de 12,3% no ano passado, e os DI, 11,8%, segundo cálculos da Anbid.
A caderneta de poupança deu rentabilidade de 7,70% em 2007. Mas sobre o retorno da poupança não incidem nem IR nem taxa de administração.


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