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Fiesp teme mudança tributária em SP
Para Skaf, presidente da federação, cobrança de ICMS no início da cadeia pode resultar em concorrência desleal com SP
Ele diz ainda que viu com alívio a suspensão de debate de nova política industrial do governo federal porque o setor não foi consultado
FÁTIMA FERNANDES
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A mudança na forma de tributação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias)
que a Secretaria da Fazenda
paulista prepara para alguns
setores, na qual o imposto é recolhido na primeira etapa de fabricação do produto -isto é,
pela indústria-, deve ser feita
sem pressa, com prudência e
muita responsabilidade, na
opinião de Paulo Skaf, presidente da Fiesp e do Ciesp.
A partir de fevereiro, a Fazenda paulista decidiu alterar a
forma de tributação de ICMS
de quatro setores (bebidas alcoólicas, medicamentos, perfumaria e higiene pessoal). A cobrança do imposto será feita
pelo sistema de substituição
tributária, na qual o ICMS é cobrado no início da cadeia produtiva. A partir de março, outros nove setores passarão a ser
tributados dessa forma (alimentos, ração animal, limpeza,
fonográfico, material de construção, autopeças, pilhas e baterias, lâmpadas e papel).
"Não somos contra o sistema
de substituição tributária. Mas
é preciso estudar bem o valor
que será tributado o produto e
ter a certeza de que a indústria
não vai sofrer concorrência
desleal, já que a forma de tributação de ICMS será diferenciada da de outros Estados", diz
Skaf.
O aumento do IOF (Imposto
sobre Operações Financeiras) e
da CSLL (Contribuição Social
sobre Lucro Líquido) não altera a previsão da indústria para
este ano, segundo Skaf. Para
ele, a indústria de transformação tem condições de crescer
entre 5,3% e 5,5% em 2008.
O governo, porém, na sua
avaliação, precisa colaborar.
"Precisa gastar menos e bem,
implementar as reformas estruturais, fazer fluir os investimentos, reduzir mais os juros e
tornar a taxa de câmbio mais
favorável às exportações.
Leia a seguir os principais
trechos da entrevista com Paulo Skaf.
FOLHA - Quais são as perspectivas
para a indústria neste ano, considerando as medidas do governo para
compensar o fim da CPMF?
PAULO SKAF - O ano de 2007 começou com a indústria extrativa indo muito bem e a de transformação rateando. No final do
ano passado, a indústria de
transformação se recuperou.
Esperamos para 2007 um crescimento do PIB entre 5,2% e
5,3% e, para a indústria de
transformação, de 5,5%. Para
este ano, não haveria razões,
até o momento, para acreditar
que possa ser diferente. Ou seja, o país deve crescer uns 5% e
a indústria poderá crescer em
torno de 5,3% a 5,5%, em média. Alguns setores podem crescer mais, como o automobilístico, e outros, menos. E a indústria paulista estaria em linha
com a indústria brasileira.
FOLHA - Os empresários sempre reclamam que é difícil crescer no país
por conta das elevadas taxas de juros, dos altos impostos e da taxa de
câmbio desfavorável às exportações. Mesmo assim, a indústria foi
muito bem em 2007, o sr. não acha?
SKAF - Não é que os empresários reclamam. O fato é que o
Brasil teve crescimento medíocre por 20 anos. E, para o país, é
importante acelerar esse crescimento. E, se ele não ocorria,
não era culpa dos empresários,
das indústrias. Finalmente,
quando todo mundo valoriza a
necessidade de ter crescimento, o governo anuncia algumas
surpresas, com medidas para
compensar o fim da CPMF.
FOLHA - O sr., que liderou campanha
contra a CPMF, já esperava aumento
de tributos para compensá-la, como o
que ocorreu com o IOF e a CSLL?
SKAF - Não. Conseguimos mostrar que não haveria necessidade de aumentar impostos com
o fim da CPMF. A Constituição
Federal já previa o fim da
CPMF em 31 de dezembro de
2007. O governo, com certo
atrevimento, colocou por conta
dele no Orçamento de 2008,
que enviou ao Congresso, a previsão de R$ 39 bilhões de
CPMF. Só que isso já estava errado, já que não poderia prever
algo que a Constituição já dizia
que não iria existir. Diria que
não havia a menor necessidade
de criar imposto ou aumentar
alíquota de IOF. Não precisaria
de R$ 10 bilhões de aumento de
impostos. Se o governo já reconhece que pode absorver R$ 30
bilhões, poderia então absorver
também R$ 40 bilhões. Já era
previsto para 2008 um aumento de arrecadação de R$ 80 bilhões. Com o fim da CPMF, que
tirou R$ 40 bilhões de arrecadação, ainda teria R$ 40 bilhões
a mais de arrecadação.
FOLHA - O sr. acha que essas medidas e outras que poderão vir podem
reduzir o consumo e o crescimento
da indústria neste ano?
SKAF - É um pouco cedo para
falar sobre isso. De qualquer
forma, é lógico que quando você onera o crédito, você inibe a
compra a prazo. Ouvi dizer que
as medidas foram tomadas para reduzir o consumo. Não
acredito nisso. O objetivo foi
arrecadar mais R$ 10 bilhões.
FOLHA - A Fazenda paulista quer
mudar o sistema de tributação de alguns setores, como o de bebidas e o
de medicamentos, para evitar a sonegação fiscal. O que a indústria
paulista acha disso?
SKAF - Não somos contra a
substituição tributária [tributação de ICMS no início da cadeia produtiva], mas existem
duas preocupações. A primeira
é que o índice de valor agregado
tem de ser calibrado. Por exemplo, se um setor tem um valor
agregado de X e o Estado considera que é 3X, pode inviabilizar
esse setor. A outra preocupação
é que, como a mudança de tributação será feita só em São
Paulo, se não houver forte fiscalização, as indústrias paulistas podem ter de enfrentar concorrência desleal de indústrias
de fora do Estado que não recolheram todo o imposto da cadeia de uma vez. Qual a ferramenta eficiente que o governo
vai oferecer para não expor a
indústria paulista a uma competição desleal, uma vez que a
tributação em São Paulo será
diferente da de outros Estados?
FOLHA - As indústrias dos setores
[bebidas, medicamentos, perfumaria e higiene pessoal] que terão mudança na tributação em fevereiro já
estão preparadas para recolhimento
do imposto da cadeia?
SKAF - Já havia discussão com
esses quatro setores há alguns
meses. Agora, recomendo que,
no caso de outros setores, o governo não deva ter pressa para
implantar a nova forma de tributação. Já combinamos com o
governo que vamos ter um fórum permanente de discussão
na Fiesp sobre isso. O sistema
pode ser implantado, mas com
prudência e responsabilidade.
Não existe necessidade de ser
estabelecido com tanta pressa.
FOLHA - Com o fim da CPMF, o governo adiou planos para a nova política industrial prevista para este ano. O que acha disso?
SKAF - Ainda bem que foi adiada. Deixa eu explicar. O que
quero dizer é que política industrial não deve ser feita a
portas fechadas por um governo, deve ser feita com a indústria. E não houve discussão
com a indústria para elaborar
uma política industrial, que
tem de ter o envolvimento das
áreas tecnológica e de educação. Você não tem desenvolvimento industrial se não tiver
formação profissional. Uma
política industrial tem de ser
para o país, não para a Fiesp.
FOLHA - Quais são os desafios para o
setor industrial neste ano?
SKAF - O país precisa fazer as
reformas estruturais, as reformas tributária e trabalhista, e
fazer os investimentos em infra-estrutura fluírem. Olha o
grande problema que temos
nos aeroportos. O Brasil precisa se modernizar, se desburocratizar. O governo precisa cuidar dos seus gastos, fazer o máximo com o mínimo possível.
Chegamos à conclusão, depois
de elaborar várias propostas,
que o governo precisa primeiro
cortar a receita, que vai obrigar
ao corte de gastos. Agora isso
tem de ser feito com responsabilidade. Os juros no país também estão entre os mais altos
do mundo e podem cair ainda
mais. O fim da CPMF já possibilitaria uma redução dos juros
para manter a taxa efetiva. Se o
governo mantiver a taxa na
próxima reunião do Copom,
significa que aumentou a taxa.
FOLHA - O sr. tem aspiração política?
SKAF - O dia em que sair da
Fiesp pode ser que eu vá para o
meio empresarial, não sei, mas
não penso nisso hoje. Agora, o
futuro não sabemos, vamos
deixar para o destino.
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