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MERCADO
Argentinos querem acelerar projeto de criação de Bolsa comum do Mercosul
Bolsa argentina sofre de inanição
VANESSA ADACHI
de Buenos Aires
O anúncio de que o espanhol
Banco Santander pretende fechar
o capital de sua filial argentina
Banco Río, feito na semana passada, representou mais um duro
golpe contra a já enfraquecida
Bolsa de Valores de Buenos Aires
e reacendeu no país a discussão
sobre a criação de uma Bolsa comum do Mercosul (bloco que
reúne Brasil, Argentina, Uruguai
e Paraguai).
Nos últimos meses, o mercado
argentino tem perdido várias de
suas ações mais negociadas. O
movimento é consequência da
onda de fusões e aquisições no
país.
A multinacional que compra
uma companhia local faz duas
operações logo após o negócio.
Em princípio faz uma oferta pelos
papéis que estão nas mãos dos
acionistas minoritários.
O passo seguinte consiste em fechar o capital da empresa e retirá-la da Bolsa de Valores de Buenos
Aires.
Tudo começou no ano passado,
quando a petrolífera espanhola
Repsol comprou a YPF. Até então, a petrolífera argentina era a líder do pregão portenho. Outra
petrolífera, a Perez Companc, vai
começar a negociar suas ações em
Nova York, o que roubará um
pouco mais de volume da praça
local.
A lista foi engrossada nas últimas semanas pela Telefónica, espanhola, que anunciou uma
agressiva operação de recompra
de ações de suas subsidiárias da
América Latina.
"O mercado está cada vez menor", disse Adrián Calabrio, analista do ABN-Amro Bank.
As matrizes muitas vezes decidem negociar suas próprias ações
na Bolsa local, em substituição,
mas seus papéis não chegam a alcançar o volume que tinham suas
filiais. Isso já ocorreu com a Repsol e poderá ocorrer com o Santander agora.
Volume pequeno
Com um volume diário atual ao
redor de US$ 20 milhões, a Bolsa
de Buenos Aires é apenas um
pouco maior do que a Bolsa do
Rio de Janeiro, que recentemente
iniciou um processo de fusão com
a Bolsa de Valores de São Paulo
para garantir sua continuidade.
A crise local não vem de hoje.
Segundo um levantamento da
consultoria Economática, o volume negociado caiu pela metade
nos últimos anos. Em 92, a Bolsa
negociou US$ 15,4 bilhões e no
ano passado, o volume foi de apenas US$ 7,4 bilhões.
Os investidores locais fazem coro, advertindo que a Bolsa tem de
tomar uma atitude rapidamente
para reverter essa tendência, antes que não sobre nada para negociar.
Os dirigentes da instituição reconhecem o problema. "A globalização tem atingido todas as Bolsas no mundo e estamos em contato com as autoridades de outras
Bolsas locais, como a Bovespa, sobre a situação das nossas empresas que estão sendo absorvidas
por estrangeiras", disse à Folha
José Cirillo, secretário-geral da
Bolsa de Buenos Aires.
Cirillo defende que as Bolsas da
região unam forças para sobreviver no novo cenário. "É preciso
avançar no projeto sobre a Bolsa
do Mercosul".
Segundo ele, os dirigentes dos
mercados argentino e brasileiro
estão de acordo quanto a esse objetivo e as conversas estão em estágio avançado. "Os dirigentes estão cada vez mais voltados para
isso."
O projeto em estudo, segundo
ele, é ter as ações de companhias
de ambos países listadas nos dois
mercados e os sistemas integrados.
"O problema é que há legislações que travam esse projeto",
disse ele, citando como exemplo
as regras de transferência de recursos dos dois países e a diferença cambial.
Internet
Enquanto o projeto da Bolsa regional não decola, a Bolsa de Buenos Aires aposta no projeto de negociação de ações pela Internet
que será inaugurado em março
para aumentar o volume de negócios.
"Qualquer um que tenha um
computador poderá acompanhar
a Bolsa e fazer contato com seu
corretor em tempo real", afirmou
Cirillo. O projeto é semelhante ao
já implementado pela Bolsa de
Valores de São Paulo.
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