São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2000


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MERCADO
Argentinos querem acelerar projeto de criação de Bolsa comum do Mercosul
Bolsa argentina sofre de inanição

VANESSA ADACHI
de Buenos Aires

O anúncio de que o espanhol Banco Santander pretende fechar o capital de sua filial argentina Banco Río, feito na semana passada, representou mais um duro golpe contra a já enfraquecida Bolsa de Valores de Buenos Aires e reacendeu no país a discussão sobre a criação de uma Bolsa comum do Mercosul (bloco que reúne Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
Nos últimos meses, o mercado argentino tem perdido várias de suas ações mais negociadas. O movimento é consequência da onda de fusões e aquisições no país.
A multinacional que compra uma companhia local faz duas operações logo após o negócio. Em princípio faz uma oferta pelos papéis que estão nas mãos dos acionistas minoritários.
O passo seguinte consiste em fechar o capital da empresa e retirá-la da Bolsa de Valores de Buenos Aires.
Tudo começou no ano passado, quando a petrolífera espanhola Repsol comprou a YPF. Até então, a petrolífera argentina era a líder do pregão portenho. Outra petrolífera, a Perez Companc, vai começar a negociar suas ações em Nova York, o que roubará um pouco mais de volume da praça local.
A lista foi engrossada nas últimas semanas pela Telefónica, espanhola, que anunciou uma agressiva operação de recompra de ações de suas subsidiárias da América Latina.
"O mercado está cada vez menor", disse Adrián Calabrio, analista do ABN-Amro Bank.
As matrizes muitas vezes decidem negociar suas próprias ações na Bolsa local, em substituição, mas seus papéis não chegam a alcançar o volume que tinham suas filiais. Isso já ocorreu com a Repsol e poderá ocorrer com o Santander agora.

Volume pequeno
Com um volume diário atual ao redor de US$ 20 milhões, a Bolsa de Buenos Aires é apenas um pouco maior do que a Bolsa do Rio de Janeiro, que recentemente iniciou um processo de fusão com a Bolsa de Valores de São Paulo para garantir sua continuidade.
A crise local não vem de hoje. Segundo um levantamento da consultoria Economática, o volume negociado caiu pela metade nos últimos anos. Em 92, a Bolsa negociou US$ 15,4 bilhões e no ano passado, o volume foi de apenas US$ 7,4 bilhões.
Os investidores locais fazem coro, advertindo que a Bolsa tem de tomar uma atitude rapidamente para reverter essa tendência, antes que não sobre nada para negociar.
Os dirigentes da instituição reconhecem o problema. "A globalização tem atingido todas as Bolsas no mundo e estamos em contato com as autoridades de outras Bolsas locais, como a Bovespa, sobre a situação das nossas empresas que estão sendo absorvidas por estrangeiras", disse à Folha José Cirillo, secretário-geral da Bolsa de Buenos Aires.
Cirillo defende que as Bolsas da região unam forças para sobreviver no novo cenário. "É preciso avançar no projeto sobre a Bolsa do Mercosul".
Segundo ele, os dirigentes dos mercados argentino e brasileiro estão de acordo quanto a esse objetivo e as conversas estão em estágio avançado. "Os dirigentes estão cada vez mais voltados para isso."
O projeto em estudo, segundo ele, é ter as ações de companhias de ambos países listadas nos dois mercados e os sistemas integrados.
"O problema é que há legislações que travam esse projeto", disse ele, citando como exemplo as regras de transferência de recursos dos dois países e a diferença cambial.

Internet
Enquanto o projeto da Bolsa regional não decola, a Bolsa de Buenos Aires aposta no projeto de negociação de ações pela Internet que será inaugurado em março para aumentar o volume de negócios.
"Qualquer um que tenha um computador poderá acompanhar a Bolsa e fazer contato com seu corretor em tempo real", afirmou Cirillo. O projeto é semelhante ao já implementado pela Bolsa de Valores de São Paulo.


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