São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2004

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O VÔO DA ÁGUIA

Balança fecha 2003 com saldo negativo de US$ 489 bi, impulsionada pela alta do PIB; dólar fraco não surte efeito

Crescimento eleva déficit comercial dos EUA

DA REDAÇÃO

O déficit comercial norte-americano cresceu mais do que o esperado em dezembro e levou o resultado de 2003 a um rombo recorde de US$ 489,4 bilhões, valor equivalente ao PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e 17,1% acima do que foi registrado no ano anterior -que já havia sido o maior da história.
De acordo com o Departamento de Comércio dos EUA, a balança com o exterior fechou negativa em US$ 42,5 bilhões no último mês de 2003, acima dos US$ 40 bilhões previstos por analistas e 11% a mais do que em novembro.
Foi o segundo maior déficit para um mês em 2003, atrás apenas do de março -US$ 42,95 bilhões.
Em 2003 como um todo, as importações somaram US$ 1,508 trilhão (alta de 8,3% em relação ao ano anterior), e as exportações, US$ 1,019 trilhão (4,6%). Como percentagem do PIB, o déficit subiu de 4% (2002) para 4,5%.
O desempenho no mês foi impulsionado pela alta das importações, conseqüência da recuperação econômica, segundo analistas. Elas cresceram 3% em dezembro, para US$ 132,8 bilhões.
Já as exportações, a despeito da desvalorização contínua do dólar ante as principais moedas do mundo -que torna os produtos norte-americanos mais baratos no exterior-, mantiveram-se estáveis em relação a novembro, com queda de US$ 200 milhões, para US$ 90,4 bilhões.
"O dado sugere que o declínio que temos visto no valor do dólar nos últimos dois anos não tem gerado impacto. Sugere que a moeda norte-americana ainda precisa cair mais para ajudar a reduzir o déficit", afirmou Gray Thayer, economista-chefe da consultoria AG Edwards & Sons.
Essa noção já havia sido reforçada durante a semana com o discurso de Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve (o banco central dos EUA), na quarta-feira, no Congresso. Na ocasião, ele negou preocupação com o enfraquecimento do dólar e os efeitos sobre a economia do país.
No entanto fez uma ponderação: disse que, embora, até o momento, o déficit em conta corrente [transações com o exterior] tenha sido financiado com pouca dificuldade, ainda existem perigos. "A maior ameaça para a flexibilidade [do ajuste da balança comercial] é o protecionismo, que é um perigo visível hoje", afirmou.
Ontem, o euro fechou a US$ 1,2742 em Nova York, perto da cotação recorde. No início do ano passado, a moeda européia valia US$ 1,045.

Conseqüências
Se ainda não afeta a balança comercial, a queda do dólar já começa a mexer com os preços. Segundo um relatório divulgado pelo Departamento de Trabalho, os preços dos importados subiram 1,3% em janeiro, a maior alta desde fevereiro de 2003. A maior influência foi o petróleo (+6,2%).
O déficit maior com o exterior deve afetar ainda as previsões para o crescimento da economia no quarto trimestre -para um valor mais baixo. Em janeiro, o governo anunciou que uma primeira estimativa apontava variação do PIB de 4% de outubro a dezembro.
"Nós revisamos nossa previsão de crescimento no quarto trimestre de 4% para 3,2%. O comércio é responsável por meio ponto percentual dessa redução", afirmou o chefe de pesquisas econômicas do J.P. Morgan, Bruce Kasman.

Confiança cai
Outro indicador divulgado ontem também causou apreensão quanto à economia. O índice de confiança do consumidor medido pela Universidade de Michigan caiu, surpreendentemente, para 93,1 pontos em fevereiro, contra 103,8 no mês passado.
Analistas esperavam uma queda de meio ponto percentual.
"É algo inexplicável. Uma queda de dez pontos no índice do consumidor é significativa e sugere que há um pessimismo entre os consumidores que não existia havia um mês", avaliou Chris Low, economista-chefe da consultoria FTN Financial, em Nova York.
"Suspeito que tenha relação com os últimos surpreendentemente fracos relatórios de trabalho divulgados", acrescentou.
Nos últimos dias, o governo divulgou que foram criados 112 mil postos de trabalho em janeiro, abaixo das estimativas dos analistas, e que os pedidos de seguro-desemprego subiram pela segunda semana seguida.
Influenciadas pelo déficit comercial e pela confiança do consumidor, as Bolsas norte-americanas fecharam em baixa. O índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, perdeu 0,62%, e o Nasdaq (com as ações das empresas de alta tecnologia), 0,97%.


Com agências internacionais e o "New York Times"


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