São Paulo, quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

As empresas que vão investir

Estudos indicam que líderes do investimento estão nos setores de produtos básicos; como fica o resto da indústria?

A SUPOSTA "desindustrialização" do Brasil é um dos temas exagerados da moda, tanto entre economistas críticos do governo como das idéias de seus confrades no mercado. Há críticos menos extravagantes, com ênfases e enfoques diferentes, entre economistas que vão da "esquerda" tucana a "heterodoxos" de Unicamp e UFRJ.
Economistas de Lula e do mercado estão bem mais otimistas sobre o investimento, industrial inclusive.
Ontem, economistas do Bradesco divulgaram levantamento extensivo de anúncios de investimento em 2006 -anúncios, ressalte-se, colhidos na imprensa, de planos de investir. Setores líderes: petróleo, energia elétrica, minérios e siderurgia (80% do investimento previsto).
Os dados batem com estimativas de Ernani Torres Filho e Fernando Puga, economistas do BNDES: petróleo e gás, mineração, siderurgia, papel, cana e álcool.
Nas estatísticas de investimento e produção, do IBGE, os setores líderes são ainda basicamente os mesmos. No caso da produção, porém, destacam-se também indústrias que dependem muito de bens importados, como a eletroeletrônica. O preço relativo de seus insumos está baixo, por causa do dólar.
As empresas mais animadas e mais capazes de investir têm traços comuns, nota o BNDES. Empregam muito capital e recursos naturais.
Seus preços vão muito bem no mercado mundial. Não dependem primordialmente do mercado doméstico. São empresas grandes e que se financiam a custo razoável no mercado externo. Parte do investimento se deve ainda à mudança global do endereço de certo tipo de fábricas do mundo rico para países como o Brasil, mais competitivos em papel, celulose, siderúrgicos etc. O sucesso exportador desses setores líderes no investimento e o do agronegócio ajuda a valorizar o real e avaria o restante da manufatura do país, que deixa de exportar ou perde espaço para importados.
Para alguns economistas, não há o que fazer a não ser reduzir custos, via aumentos de produtividade e/ou impostos menores (o que demanda corte de gastos públicos).
Outros avaliam que a política monetária está errada: o real está forte, e os juros, altos demais (embora alguns destes também critiquem os gastos públicos). Em maior ou menor grau, pregam mais intervenção no câmbio e acreditam que o Banco Central limita-se indevidamente a colocar a inflação na meta.
Todos acreditam que o incremento relevante do investimento no país está limitado por problemas estruturais: por falta de coordenação do governo ou por excesso de governo. Mas os setores líderes de investimento, apesar de poucos, são capazes de puxar consigo outras cadeias da indústria, encadeamento ainda pouco visível, porém. Ou podem simplesmente importar suas necessidades de capital e insumos.
Mas se sabe muito pouco de como o conjunto das empresas vai reagir a esse contexto de alta, ainda modesta, de investimento. O jogo não está jogado. Mudança estrutural, decerto, não virá tão cedo. Mas medidas progressivas para reduzir tributos e incentivos bem pensados na área de incremento tecnológico podem transformar parte do limão fiscal e cambial em alguma limonada.


vinit@uol.com.br

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