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VINICIUS TORRES FREIRE
As empresas que vão investir
Estudos indicam que líderes do investimento estão nos setores de produtos básicos; como fica o resto da indústria?
A SUPOSTA "desindustrialização" do Brasil é um dos temas
exagerados da moda, tanto
entre economistas críticos do governo como das idéias de seus confrades no mercado. Há críticos menos
extravagantes, com ênfases e enfoques diferentes, entre economistas
que vão da "esquerda" tucana a "heterodoxos" de Unicamp e UFRJ.
Economistas de Lula e do mercado
estão bem mais otimistas sobre o investimento, industrial inclusive.
Ontem, economistas do Bradesco
divulgaram levantamento extensivo
de anúncios de investimento em
2006 -anúncios, ressalte-se, colhidos na imprensa, de planos de investir. Setores líderes: petróleo, energia
elétrica, minérios e siderurgia (80%
do investimento previsto).
Os dados batem com estimativas
de Ernani Torres Filho e Fernando
Puga, economistas do BNDES: petróleo e gás, mineração, siderurgia,
papel, cana e álcool.
Nas estatísticas de investimento e
produção, do IBGE, os setores líderes são ainda basicamente os mesmos. No caso da produção, porém,
destacam-se também indústrias que
dependem muito de bens importados, como a eletroeletrônica. O preço relativo de seus insumos está baixo, por causa do dólar.
As empresas mais animadas e
mais capazes de investir têm traços
comuns, nota o BNDES. Empregam
muito capital e recursos naturais.
Seus preços vão muito bem no mercado mundial. Não dependem primordialmente do mercado doméstico. São empresas grandes e que se
financiam a custo razoável no mercado externo. Parte do investimento
se deve ainda à mudança global do
endereço de certo tipo de fábricas do
mundo rico para países como o Brasil, mais competitivos em papel, celulose, siderúrgicos etc.
O sucesso exportador desses setores líderes no investimento e o do
agronegócio ajuda a valorizar o real
e avaria o restante da manufatura do
país, que deixa de exportar ou perde
espaço para importados.
Para alguns economistas, não há o
que fazer a não ser reduzir custos,
via aumentos de produtividade e/ou
impostos menores (o que demanda
corte de gastos públicos).
Outros avaliam que a política monetária está errada: o real está forte,
e os juros, altos demais (embora alguns destes também critiquem os
gastos públicos). Em maior ou menor grau, pregam mais intervenção
no câmbio e acreditam que o Banco
Central limita-se indevidamente a
colocar a inflação na meta.
Todos acreditam que o incremento relevante do investimento no país
está limitado por problemas estruturais: por falta de coordenação do
governo ou por excesso de governo.
Mas os setores líderes de investimento, apesar de poucos, são capazes de puxar consigo outras cadeias
da indústria, encadeamento ainda
pouco visível, porém. Ou podem
simplesmente importar suas necessidades de capital e insumos.
Mas se sabe muito pouco de como
o conjunto das empresas vai reagir a
esse contexto de alta, ainda modesta, de investimento. O jogo não está
jogado. Mudança estrutural, decerto, não virá tão cedo. Mas medidas
progressivas para reduzir tributos e
incentivos bem pensados na área de
incremento tecnológico podem
transformar parte do limão fiscal e
cambial em alguma limonada.
vinit@uol.com.br
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