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ÓLEO DA DISCÓRDIA
ANP não comenta avaliação que circula na Petrobras de que agência estaria de olho na concorrência de agosto
Poço "inflado" poderia valorizar licitações
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Ao atropelar a Petrobras e divulgar a descoberta de óleo em Sergipe, a ANP (Agência Nacional do
Petróleo) teria como objetivo promover e despertar o interesse de
investidores para a sua rodada de
licitações, marcada para agosto. É
essa a avaliação que circula internamente na Petrobras, segundo a
Folha apurou.
Sem nenhuma grande descoberta nos últimos anos, o apetite
das petroleiras pelas áreas licitadas da ANP tem caído.
Anunciar uma megadescoberta
com reservas de 1,9 bilhão de barris ( 14,5% das reservas totais do
Brasil) de um óleo de excelente
qualidade -no caso, 46º API,
comparável aos melhores do
Oriente Médio- seria uma forma de a agência atrair novos investidores. Por isso, a ANP teria se
antecipado e feito o anúncio, mesmo sem ter a confirmação das reservas pela Petrobras.
A ANP informou ontem que
não iria comentar o assunto. Fez a
ressalva anteontem, em nota, que
nunca falou em reservas, mas em
estimativa preliminar do total de
óleo que havia no local da perfuração do poço da estatal (a 29 km
da costa de Sergipe).
É que nem todo petróleo que está no fundo do mar pode ser extraído. O volume "recuperável"
depende das condições geológicas e, em geral, varia de 20% a
30% do total.
No novo modelo que o PT quer
para as licitações, o valor pago pela concessão perde importância.
Passará a ter mais peso o quanto o
interessado se propõem em adquirir de bens e serviços da indústria nacional.
Quando soube da divulgação
feita pela ANP, na terça, o presidente da Petrobras, José Eduardo
Dutra, demonstrou profunda irritação. Dutra estava em Buenos
Aires, para reunião do conselho
da Perez Companc, controlada da
estatal. Ao voltar para o Rio, falou
por telefone com a ministra de
Minas e Energia, Dilma Rousseff.
Ela queria explicações detalhadas sobre como e quais dados foram repassados para a ANP. O
objetivo da ministra era identificar quem errou. Depois da conversa, teria chegado à conclusão
que foi a ANP.
O advogado especializado no
setor de petróleo e ex-procurador-geral da ANP Alfredo Rui
Barbosa defende a agência, apesar
de haver uma cláusula de confidencialidade prevista nos contratos de concessão durante a fase de
exploração (na qual estava o campo da Petrobras).
Afirma que o contrato prevê a
divulgação de informações confidenciais quando elas são importantes para o cumprimento da
missão da agência. No caso, cita o
dever legal da ANP de "fomentar
o mercado de petróleo".
Rui Barbosa também acredita
que a ANP tenha agido para promover suas licitações. "A agência
é uma fomentadora da atividade
econômica do setor e está às bicas
de lançar um nova rodada. Ao divulgar a descoberta de um óleo de
excelente qualidade, dá um recado positivo, um estímulo, aos investidores."
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