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ÁGUIA EM PANE
Cenário pessimista traçado pelo FMI para 2002 se confirma neste ano, com mais perdas; guerra pode piorar situação
EUA adiam pouso forçado, mas estrago cresce
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A temida aterrissagem forçada
("hard landing") da economia
americana, esperada por muitos
economistas em 2001, não se concretizou no ano passado, mas começa a se confirmar neste ano.
Vários indicadores econômicos
dos EUA estão piores agora do
que o previsto no cenário mais
pessimista traçado pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional)
dois anos atrás, no auge do debate
sobre um "hard" ou um "soft landing" (pouso suave).
Se a guerra do Iraque realmente
ocorrer, o quadro para a economia mundial pode ficar pior.
Em 2001, no cenário de aterrissagem forçada, o Fundo estimou
que o dólar se desvalorizaria 20%
em relação ao euro de forma
abrupta. Isso ocorreria, fundamentalmente, por conta de um
grande déficit em conta corrente
(diferença entre todas as trocas
comerciais e financeiras de uma
economia com os demais países).
"Historicamente, a experiência
sugere que déficits em conta corrente do tamanho atualmente
existente nos EUA não se sustentam por muito tempo e que um
ajuste é geralmente acompanhado por significativa depreciação
[da moeda"", escreveu o FMI no
relatório de Perspectivas Econômicas Globais de maio de 2001.
De lá para cá o déficit em conta
corrente se deteriorou ainda mais
e atingiu 4,25% do PIB (Produto
Interno Bruto) no ano passado.
Com receio de que o déficit não
se sustentasse, muitos investidores saíram de ativos em dólar e
migraram para o euro. Muito
provavelmente, o resultado foi
pior do que o Fundo poderia imaginar naquela ocasião. Nos últimos 12 meses, a moeda dos EUA
perdeu 25% do valor em relação
ao euro.
Ante uma perspectiva de queda
do dólar, na época, de 20%, o
Fundo estimou o impacto sobre o
crescimento da economia global e
de vários países e regiões separadamente.
Em um período de cinco anos,
de 2001 a 2005, haveria uma perda
de 3,3 pontos percentuais sobre o
PIB global. Se durante esses anos
o potencial de crescimento da
economia mundial fosse de 10%
(num cenário sem desvalorização
do dólar), na estimativa do Fundo
o crescimento cairia para 6,7%.
Somente neste ano, o crescimento global estaria comprometido em 0,8 ponto, e o americano,
em 1,2, segundo o FMI.
Para 2003, de acordo com o representante do Fundo no Brasil,
Rogério Zandamela, a instituição
tem duas projeções para o crescimento mundial -um com os
efeitos da guerra do Iraque e outro sem. No segundo, o mundo
cresceria entre 3% e 3,5%. Se a
guerra estourar, poderia haver
uma diminuição do crescimento
de 0,5 a 1,5 ponto percentual.
No quadro pessimista do FMI,
as Bolsas americanas também sofreriam bastante. Em 2002, a queda no preço das ações seria de
14,9%. Neste ano, haveria perdas
adicionais de 12,1%. No acumulado em 12 meses encerrados no dia
12 deste mês, o Dow Jones, da Bolsa de Nova York, acumulava perdas de 28%, praticamente a queda
somada dos dois anos.
Nem mesmo o efeito benéfico
que desvalorizações da moeda
costumam gerar -saldo crescente da balança comercial- os EUA
têm verificado. O Fundo (no cenário pessimista) projetou superávit comercial para os EUA em
2003 de US$ 54 bilhões.
Em janeiro, o déficit comercial
americano foi de US$ 41,1 bilhões
-8,4% menor do que o registrado no mês anterior. Ainda assim o
segundo maior da história.
Se os EUA realmente deflagrarem a guerra contra o Iraque, o
déficit do país pode piorar. O petróleo subiria ainda mais, o que
aumentaria os gastos americanos
com o produto.
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