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São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2003

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ÁGUIA EM PANE

Cenário pessimista traçado pelo FMI para 2002 se confirma neste ano, com mais perdas; guerra pode piorar situação

EUA adiam pouso forçado, mas estrago cresce

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A temida aterrissagem forçada ("hard landing") da economia americana, esperada por muitos economistas em 2001, não se concretizou no ano passado, mas começa a se confirmar neste ano.
Vários indicadores econômicos dos EUA estão piores agora do que o previsto no cenário mais pessimista traçado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) dois anos atrás, no auge do debate sobre um "hard" ou um "soft landing" (pouso suave).
Se a guerra do Iraque realmente ocorrer, o quadro para a economia mundial pode ficar pior.
Em 2001, no cenário de aterrissagem forçada, o Fundo estimou que o dólar se desvalorizaria 20% em relação ao euro de forma abrupta. Isso ocorreria, fundamentalmente, por conta de um grande déficit em conta corrente (diferença entre todas as trocas comerciais e financeiras de uma economia com os demais países).
"Historicamente, a experiência sugere que déficits em conta corrente do tamanho atualmente existente nos EUA não se sustentam por muito tempo e que um ajuste é geralmente acompanhado por significativa depreciação [da moeda"", escreveu o FMI no relatório de Perspectivas Econômicas Globais de maio de 2001.
De lá para cá o déficit em conta corrente se deteriorou ainda mais e atingiu 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado.
Com receio de que o déficit não se sustentasse, muitos investidores saíram de ativos em dólar e migraram para o euro. Muito provavelmente, o resultado foi pior do que o Fundo poderia imaginar naquela ocasião. Nos últimos 12 meses, a moeda dos EUA perdeu 25% do valor em relação ao euro.
Ante uma perspectiva de queda do dólar, na época, de 20%, o Fundo estimou o impacto sobre o crescimento da economia global e de vários países e regiões separadamente.
Em um período de cinco anos, de 2001 a 2005, haveria uma perda de 3,3 pontos percentuais sobre o PIB global. Se durante esses anos o potencial de crescimento da economia mundial fosse de 10% (num cenário sem desvalorização do dólar), na estimativa do Fundo o crescimento cairia para 6,7%.
Somente neste ano, o crescimento global estaria comprometido em 0,8 ponto, e o americano, em 1,2, segundo o FMI.
Para 2003, de acordo com o representante do Fundo no Brasil, Rogério Zandamela, a instituição tem duas projeções para o crescimento mundial -um com os efeitos da guerra do Iraque e outro sem. No segundo, o mundo cresceria entre 3% e 3,5%. Se a guerra estourar, poderia haver uma diminuição do crescimento de 0,5 a 1,5 ponto percentual.
No quadro pessimista do FMI, as Bolsas americanas também sofreriam bastante. Em 2002, a queda no preço das ações seria de 14,9%. Neste ano, haveria perdas adicionais de 12,1%. No acumulado em 12 meses encerrados no dia 12 deste mês, o Dow Jones, da Bolsa de Nova York, acumulava perdas de 28%, praticamente a queda somada dos dois anos.
Nem mesmo o efeito benéfico que desvalorizações da moeda costumam gerar -saldo crescente da balança comercial- os EUA têm verificado. O Fundo (no cenário pessimista) projetou superávit comercial para os EUA em 2003 de US$ 54 bilhões.
Em janeiro, o déficit comercial americano foi de US$ 41,1 bilhões -8,4% menor do que o registrado no mês anterior. Ainda assim o segundo maior da história.
Se os EUA realmente deflagrarem a guerra contra o Iraque, o déficit do país pode piorar. O petróleo subiria ainda mais, o que aumentaria os gastos americanos com o produto.


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