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COMÉRCIO GLOBAL
Chanceler brasileiro se reúne com Merkel em Berlim para convencê-la a participar de reunião de líderes sobre
Amorim vê líder alemã para discutir cúpula
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
O chanceler Celso Amorim encontrou-se ontem, em Berlim,
com a chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, em
missão encomendada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
pelo premiê britânico, Tony Blair,
com o objetivo de engajá-la na cúpula que ambos querem realizar
para destravar a Rodada Doha.
A proposta da cúpula foi feita
por Lula no fim do ano passado,
antes da Conferência Ministerial
que a Organização Mundial do
Comércio faria em Hong Kong e
já antecipando que ela produziria
seus magros resultados.
Hong Kong conseguiu apenas
estabelecer um prazo (30 de abril)
para definir as "modalidades", o
jargão comercial para designar o
escopo das negociações e os números que a comporão. Mas, passados três meses de Hong Kong e
faltando mês e meio para terminar o novo prazo, as negociações
ainda não produziram o "clique",
como Amorim disse ao terminar,
na noite de sábado, mais uma maratona de reuniões entre ministros de seis das principais potências comerciais do mundo (União
Européia, Estados Unidos, Brasil,
Japão, Índia e Austrália, o G6).
Já sabendo que a reunião de sábado não daria o "clique", Lula e
Blair emitiram na quinta comunicado específico sobre comércio,
no qual defendem a cúpula como
a forma de dar impulso político a
uma negociação que, tecnicamente, continua patinando desde
que a Rodada Doha foi lançada,
em 2001, na capital do Qatar.
Amorim viajou para Berlim para atrair a Alemanha, a principal
economia da Europa. Além disso,
o país pode funcionar como contraponto liberalizador ao forte
protecionismo agrícola francês.
Merkel não se comprometeu
com a cúpula, nem era esperado
que o fizesse já ontem, mas Amorim avalia que tê-lo recebido já "é
extraordinário". De fato, premiês
conversam com outros premiês
(ou presidentes), não com ministros, qualquer que seja sua pasta.
Mas o chanceler brasileiro não
só conversou com Merkel como
falou também com o seu "sherpa", como são chamados os funcionários encarregados de preparar as reuniões de cúpula para
seus chefes (o nome vem dos
guias do Himalaia, que levam a
carga para os exploradores).
"Receber-me revela um interesse real pela questão", disse Amorim, que retornou ontem ao Brasil, para, já hoje, receber o chanceler de Zâmbia, um dos LDCs (sigla em inglês para países menos
desenvolvidos).
A tese que Amorim vende a seus
pares, nos últimos meses, é a de
que "o que está em jogo não é só
algumas toneladas a mais de carne ou automóveis, sem negar a
importância desse comércio. O
que está em jogo é a governança
global. Vale para a não-proliferação nuclear, para o desarmamento, vale para o comércio".
O chanceler vem insistindo em
que o modelo de negociação da
Rodada Doha deve mudar. "Há
uma crescente clareza de que a
abordagem incremental não vai
nos levar a um acordo", diz. Significa o seguinte: reduzir um ou
dois pontos percentuais ou um
pouco mais as tarifas de importação de produtos agrícolas na UE
bastará para produzir o que Amorim chama de "grande barganha".
Ela seria uma mexida nas tarifas
de importações agrícolas dos países ricos, mas também nos seus
subsídios domésticos (aqui o alvo
são os EUA), de forma a produzir
verdadeira mudança no comércio
agrícola mundial, não só os tais
"ganhos incrementais".
É claro que países como o Brasil
entrariam com a contrapartida,
na forma de uma liberalização de
seus setores industrial e de serviços, desde que não se peça que façam algo comparável ao que o
mundo rico terá que fazer na agricultura, porque o preço da abertura industrial e de serviços já foi
pago na rodada anterior (a do
Uruguai, encerrada em 1994).
Amorim antevê uma série de videoconferências entre os grandes
da OMC, muita conversa dentro
de cada grupo e, eventualmente,
nova reunião de ministros do G6.
Em maio, na cúpula UE/América Latina e Caribe, poderia haver
uma reunião paralela de chefes de
governo para tratar especificamente de comércio, até que se faça a cúpula que levou Amorim a
Berlim. Afinal, esta terá que contar com a presença de George W.
Bush para ser significativa.
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