São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO GLOBAL

Chanceler brasileiro se reúne com Merkel em Berlim para convencê-la a participar de reunião de líderes sobre

Amorim vê líder alemã para discutir cúpula

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O chanceler Celso Amorim encontrou-se ontem, em Berlim, com a chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, em missão encomendada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo premiê britânico, Tony Blair, com o objetivo de engajá-la na cúpula que ambos querem realizar para destravar a Rodada Doha.
A proposta da cúpula foi feita por Lula no fim do ano passado, antes da Conferência Ministerial que a Organização Mundial do Comércio faria em Hong Kong e já antecipando que ela produziria seus magros resultados.
Hong Kong conseguiu apenas estabelecer um prazo (30 de abril) para definir as "modalidades", o jargão comercial para designar o escopo das negociações e os números que a comporão. Mas, passados três meses de Hong Kong e faltando mês e meio para terminar o novo prazo, as negociações ainda não produziram o "clique", como Amorim disse ao terminar, na noite de sábado, mais uma maratona de reuniões entre ministros de seis das principais potências comerciais do mundo (União Européia, Estados Unidos, Brasil, Japão, Índia e Austrália, o G6).
Já sabendo que a reunião de sábado não daria o "clique", Lula e Blair emitiram na quinta comunicado específico sobre comércio, no qual defendem a cúpula como a forma de dar impulso político a uma negociação que, tecnicamente, continua patinando desde que a Rodada Doha foi lançada, em 2001, na capital do Qatar.
Amorim viajou para Berlim para atrair a Alemanha, a principal economia da Europa. Além disso, o país pode funcionar como contraponto liberalizador ao forte protecionismo agrícola francês.
Merkel não se comprometeu com a cúpula, nem era esperado que o fizesse já ontem, mas Amorim avalia que tê-lo recebido já "é extraordinário". De fato, premiês conversam com outros premiês (ou presidentes), não com ministros, qualquer que seja sua pasta.
Mas o chanceler brasileiro não só conversou com Merkel como falou também com o seu "sherpa", como são chamados os funcionários encarregados de preparar as reuniões de cúpula para seus chefes (o nome vem dos guias do Himalaia, que levam a carga para os exploradores).
"Receber-me revela um interesse real pela questão", disse Amorim, que retornou ontem ao Brasil, para, já hoje, receber o chanceler de Zâmbia, um dos LDCs (sigla em inglês para países menos desenvolvidos).
A tese que Amorim vende a seus pares, nos últimos meses, é a de que "o que está em jogo não é só algumas toneladas a mais de carne ou automóveis, sem negar a importância desse comércio. O que está em jogo é a governança global. Vale para a não-proliferação nuclear, para o desarmamento, vale para o comércio".
O chanceler vem insistindo em que o modelo de negociação da Rodada Doha deve mudar. "Há uma crescente clareza de que a abordagem incremental não vai nos levar a um acordo", diz. Significa o seguinte: reduzir um ou dois pontos percentuais ou um pouco mais as tarifas de importação de produtos agrícolas na UE bastará para produzir o que Amorim chama de "grande barganha".
Ela seria uma mexida nas tarifas de importações agrícolas dos países ricos, mas também nos seus subsídios domésticos (aqui o alvo são os EUA), de forma a produzir verdadeira mudança no comércio agrícola mundial, não só os tais "ganhos incrementais".
É claro que países como o Brasil entrariam com a contrapartida, na forma de uma liberalização de seus setores industrial e de serviços, desde que não se peça que façam algo comparável ao que o mundo rico terá que fazer na agricultura, porque o preço da abertura industrial e de serviços já foi pago na rodada anterior (a do Uruguai, encerrada em 1994).
Amorim antevê uma série de videoconferências entre os grandes da OMC, muita conversa dentro de cada grupo e, eventualmente, nova reunião de ministros do G6.
Em maio, na cúpula UE/América Latina e Caribe, poderia haver uma reunião paralela de chefes de governo para tratar especificamente de comércio, até que se faça a cúpula que levou Amorim a Berlim. Afinal, esta terá que contar com a presença de George W. Bush para ser significativa.


Texto Anterior: Serviço Folha - IOB Thomson
Próximo Texto: BCs criticam protecionismo dos países ricos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.