São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2006

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BCs criticam protecionismo dos países ricos

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA

Os principais bancos centrais do mundo alertaram ontem para os riscos que o protecionismo de países industrializados pode trazer ao crescimento das economias globais. O aviso, dado de forma mais veemente por Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu e porta-voz dos colegas no G10 (grupo dos dez países mais industrializados do mundo), foi ecoado, ainda que timidamente, pelo líder da autoridade monetária brasileira, Henrique Meirelles.
"Bancos centrais de todo o mundo têm uma determinação para que as economias tenham a maior abertura possível. Isso permite crescimento maior e mais rápido, em nível individual e global. E evita a inflação, pressionando pela manutenção da estabilidade de preços. Mas, se você olhar aqui e ali, vemos tendência de ir em outra direção", declarou Trichet após reunião bimestral do BIS (sigla em inglês para Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais).
Como é regra nesses encontros, ele se negou a citar nominalmente algum país, mas deixou claro que se referia aos ricos. "Vemos sinais vindo de certos países industrializados que são de maneira geral contrários ao interesse superior, que é o crescimento sustentado e sem inflação", afirmou ele, ironicamente nascido na ultraprotecionista França.
As declarações ocorrem em meio a uma onda de resistência em países europeus e nos EUA a investidas do capital estrangeiro contra empresas de setores que consideram estratégicos. E ao impasse nas negociações da Rodada Doha de Desenvolvimento da OMC (Organização Mundial do Comércio), na qual países emergentes reivindicam cortes nos subsídios agrícolas pelos países ricos, que, por sua vez, requerem redução de tarifas de importação em bens industriais e serviços.
Reunião do G6 no último final de semana em Londres prolongou o interminável novela da Rodada, prevista para ter sido concluída em dezembro passado e agora sem previsão de desfecho.
Indagado sobre o tema, Meirelles primeiro disse que a discussão da redução de tarifas (fora do âmbito da OMC) "está sendo liderada pela Fazenda" e que por isso não se manifestaria.
Depois observou: "No geral, acredito que, quanto mais abertas as economias, maior a taxa de aumento de produtividade global".

Exemplo chileno
O presidente do BC estava mais animado a falar sobre o Chile. Em cerca de meia hora, citou três vezes a economia chilena como modelo a ser seguido. "Está crescendo a taxas ao redor de 6%, o nível total da despesa pública é cerca de 17% do PIB, bem menor que o do Brasil, tem uma política contracíclica, ou seja, em momentos em que a situação internacional dos produtos chilenos, principalmente o cobre, é favorável, eles geram superávits nominais importantes", relatou.
Meirelles citou ainda o fato de o país andino ter privatizado a Previdência ("o volume de recursos alocado pela Previdência ao mercado é importante, faz com que a capacidade de investimento do país aumente") e de estar se tornando um credor líquido da economia -os ativos do governo são superiores ao passivo-, além do sucesso do BC do país na implementação do regime de metas.
Questionado sobre o que o Brasil poderia fazer para que o crescimento do PIB fosse maior do que os decepcionantes 2,3% de 2005, declarou: "Passaria a olhar os exemplos do Chile, que talvez pudesse dar uma indicação".
Diante da evidência de que a economia chilena é pequena, o executivo argumentou que há outras menores que não crescem a 6% ao ano. "Muitos países pequenos crescem a taxas muito menores que o Brasil. Muitos justificam o pequeno crescimento pelo tamanho."
Meirelles vai a Moscou em 11 de maio para assinar um acordo, cujos detalhes foram discutidos na Basiléia com seu colega do BC russo, para troca de informações e tecnologia entre os bancos.


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