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BCs criticam protecionismo dos países ricos
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA
Os principais bancos centrais do
mundo alertaram ontem para os
riscos que o protecionismo de
países industrializados pode trazer ao crescimento das economias
globais. O aviso, dado de forma
mais veemente por Jean-Claude
Trichet, presidente do Banco
Central Europeu e porta-voz dos
colegas no G10 (grupo dos dez
países mais industrializados do
mundo), foi ecoado, ainda que timidamente, pelo líder da autoridade monetária brasileira, Henrique Meirelles.
"Bancos centrais de todo o
mundo têm uma determinação
para que as economias tenham a
maior abertura possível. Isso permite crescimento maior e mais rápido, em nível individual e global.
E evita a inflação, pressionando
pela manutenção da estabilidade
de preços. Mas, se você olhar aqui
e ali, vemos tendência de ir em
outra direção", declarou Trichet
após reunião bimestral do BIS (sigla em inglês para Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais).
Como é regra nesses encontros,
ele se negou a citar nominalmente
algum país, mas deixou claro que
se referia aos ricos. "Vemos sinais
vindo de certos países industrializados que são de maneira geral
contrários ao interesse superior,
que é o crescimento sustentado e
sem inflação", afirmou ele, ironicamente nascido na ultraprotecionista França.
As declarações ocorrem em
meio a uma onda de resistência
em países europeus e nos EUA a
investidas do capital estrangeiro
contra empresas de setores que
consideram estratégicos. E ao impasse nas negociações da Rodada
Doha de Desenvolvimento da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), na qual países emergentes reivindicam cortes nos
subsídios agrícolas pelos países ricos, que, por sua vez, requerem
redução de tarifas de importação
em bens industriais e serviços.
Reunião do G6 no último final
de semana em Londres prolongou o interminável novela da Rodada, prevista para ter sido concluída em dezembro passado e
agora sem previsão de desfecho.
Indagado sobre o tema, Meirelles primeiro disse que a discussão
da redução de tarifas (fora do âmbito da OMC) "está sendo liderada pela Fazenda" e que por isso
não se manifestaria.
Depois observou: "No geral,
acredito que, quanto mais abertas
as economias, maior a taxa de aumento de produtividade global".
Exemplo chileno
O presidente do BC estava mais
animado a falar sobre o Chile. Em
cerca de meia hora, citou três vezes a economia chilena como modelo a ser seguido. "Está crescendo a taxas ao redor de 6%, o nível
total da despesa pública é cerca de
17% do PIB, bem menor que o do
Brasil, tem uma política contracíclica, ou seja, em momentos em
que a situação internacional dos
produtos chilenos, principalmente o cobre, é favorável, eles geram
superávits nominais importantes", relatou.
Meirelles citou ainda o fato de o
país andino ter privatizado a Previdência ("o volume de recursos
alocado pela Previdência ao mercado é importante, faz com que a
capacidade de investimento do
país aumente") e de estar se tornando um credor líquido da economia -os ativos do governo são
superiores ao passivo-, além do
sucesso do BC do país na implementação do regime de metas.
Questionado sobre o que o Brasil poderia fazer para que o crescimento do PIB fosse maior do que
os decepcionantes 2,3% de 2005,
declarou: "Passaria a olhar os
exemplos do Chile, que talvez pudesse dar uma indicação".
Diante da evidência de que a
economia chilena é pequena, o
executivo argumentou que há outras menores que não crescem a
6% ao ano. "Muitos países pequenos crescem a taxas muito menores que o Brasil. Muitos justificam
o pequeno crescimento pelo tamanho."
Meirelles vai a Moscou em 11 de
maio para assinar um acordo, cujos detalhes foram discutidos na
Basiléia com seu colega do BC
russo, para troca de informações e
tecnologia entre os bancos.
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