ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

O grupo Pão de Açúcar anunciou ontem a compra de 23 supermercados em São Paulo e, com isso, encosta no Carrefour, o primeiro colocado no ranking do setor na década de 90. Essas novas lojas vão agregar ao faturamento da companhia cerca de R$ 373 milhões anuais.
O Pão de Açúcar, com as compras anunciadas, eleva o seu faturamento de R$ 6,9 bilhões em 99 para R$ 7,2 bilhões. Com as últimas aquisições, o grupo francês é dono de uma receita anual de R$ 8,2 bilhões, segundo analistas que acompanham o mercado.
Só que, se a empresa de Abílio Diniz mantiver os planos de investimento anunciados para este ano -abrir mais 47 novas lojas- pode até ultrapassar o Carrefour e alcançar R$ 8,6 bilhões em 2000, pelas contas do banco Pactual.
Ontem, o Pão de Açúcar anunciou a compra de 21 pontos das redes Nagumo (12 lojas) e Reimberg (9 lojas), localizados na área metropolitana de São Paulo. Juntas, elas faturam R$ 353 milhões por ano. Serão transformadas em lojas Barateiro, rede do grupo.
Com isso, o Barateiro, que em meados de 98 tinha 32 pontos, irá operar com 105 lojas, localizadas no Estado de São Paulo.
A companhia também anunciou a compra de duas lojas da G. Pires, na zona sul da capital, que fatura cerca de R$ 20 milhões anuais. Confirmou também a compra de 9 dos 23 pontos da rede Mercadinho São Luís, em Fortaleza (CE). Essa operação foi fechada no início do ano e as nove lojas já estão operando com a bandeira Pão de Açúcar.
Foi enviado ontem, à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o balanço do primeiro trimestre do Pão de Açúcar. As vendas cresceram 27,7% no período, para R$ 1,64 bilhão.

Passar à frente
"Se o Pão de Açúcar não alterar seus projetos e o Carrefour entrar num ritmo mais estável, o grupo brasileiro pode passar a ser o primeiro do setor de supermercados do país neste ano", afirma Bruno Zaremba, analista de investimento do banco Pactual.
"Não tenho dúvidas de que o ranking pode sofrer uma inversão ainda neste ano", diz Abe Hughes, analista de mercado.
No ranking geral de número de lojas, o Pão de Açúcar dispara na frente, com 378 pontos (incluídos os últimos adquiridos). O Carrefour opera com 70 hipermercados e 113 supermercados.
Neste ano, deve crescer a disputa entre as duas empresas pelos mercados em regiões que têm menor presença, como o Sul do país e Estados do Nordeste. As duas já sondaram cadeias regionais instaladas nesses locais.
"Se alcançarmos a primeira colocação será em decorrência do nosso trabalho, mas não queremos ser a maior, e sim a melhor rede do país", diz Aymar Giglio, diretor de relações com investidores do grupo Pão de Açúcar.

Concentração
Carrefour e Pão de Açúcar detêm juntos entre 26% e 28% do mercado brasileiro de supermercados, estimado em R$ 55 bilhões por ano. As terceira e quarta colocadas, as redes Bompreço, de Recife (PE), e Sendas, do Rio de Janeiro, têm, juntas, cerca de 9% das vendas anuais do setor.
A fatia das duas primeiras colocadas é considerável, segundo os analistas, e a tendência é aumentar mais a concentração no país.
"A concentração resulta em maior poder de negociação com os fornecedores e também em preços mais baixos", afirma Zaremba. "Não há dúvida de que se eles têm mais força para comprar, vão ter mais condições de repassar as vantagens de preços para os consumidores", diz Juliana Chu, analista da corretora Fator Doria Atherino.
Para os analistas de mercado, tudo indica que o Carrefour vai continuar na corrida para manter a liderança. Neste ano, as duas últimas aquisições foram o Big Bom, em Indaiatuba (SP), e o Antonelli, em Mogi Mirim (SP).
A Folha apurou que as cadeias médias que sobraram no mercado, como as redes Zaffari, do Rio Grande do Sul, a Sendas e a ABC, do Rio de Janeiro, continuam sendo cobiçadas pelas líderes. Também estão na mira as redes Sonda, Pastorinho e D'Avó.



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