São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2000


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AVIAÇÃO
Prejuízo em 99 foi de R$ 91 mi, mas seria maior sem manobras contábeis; dívida passa de R$ 3 bilhões
Auditoria vê falha no balanço da Vasp

THOMAS TRAUMANN
da Reportagem Local

Auditores que avaliaram o balanço de 1999 da Vasp (Viação Aérea São Paulo) fizeram ressalvas nas apresentações dos resultados. O balanço mostra que a companhia teve R$ 91,33 milhões de prejuízo. A dívida assumida da empresa passa dos R$ 3,3 bilhões.
"Nosso parecer aponta duas falhas", disse Roberto Miguel, diretor da Tríade, a empresa de auditoria contratada pela Vasp para avaliar o balanço.
A primeira ressalva foi a amortização por quatro anos da dívida em dólar da empresa. Esse procedimento é legal. Foi autorizado pelo governo depois da desvalorização cambial do ano passado.
Se não usasse essa manobra, o prejuízo da Vasp seria multiplicado por quatro. Aumentaria para R$ 458,7 milhões.
"Tínhamos um direito e o utilizamos. Nosso balanço está tecnicamente perfeito", retrucou o porta-voz da Vasp, Ruy Nogueira.
A Varig também usou esse expediente no seu balanço de 99. Se não o fizesse, o prejuízo de R$ 94,8 milhões aumentaria para R$ 274 milhões.
A segunda falha registrada pela auditoria foi que a Vasp considerou como de longo prazo as dívidas pelo não-pagamento de INSS, FGTS e taxas aeroportuárias. Elas chegam a R$ 834 milhões.
Segundo a companhia, parte dessas dívidas já foi renegociada e, portanto, não vencerá nos próximos meses. Outra parte está sendo discutida na Justiça e só terá que ser paga depois de uma sentença final.
"Essas dívidas foram resultados de negociações e a sua quitação vai ocorrer nos prazos", disse Ruy Nogueira. Para o auditor Roberto Miguel, essa é uma postura "muito otimista".
Essas dívidas que a Vasp considera como de longo prazo já venceram, não foram pagas na data e a empresa está sofrendo retaliações. Ela está proibida de participar de licitações no governo federal e tem que pagar semanalmente as taxas de uso dos aeroportos, enquanto as concorrentes têm prazo de um mês.
Hoje vence uma dessas parcelas semanais, que variam entre R$ 1,3 milhão e R$ 1,5 milhão. A Vasp diz que já tem o dinheiro para pagar.
Se não o fizer, os seus aviões não poderão decolar. Nessa hipótese, um plano de emergência elaborado pelo governo prevê que os passageiros da Vasp serão transferidos para outras companhias.
Uma das surpresas dos resultados da Vasp é o crescimento de quase 50% das dívidas. Elas eram R$ 2,28 bilhões em 1998 e R$ 2,02 bilhões em 1997. Dois terços desse passivo são com órgãos estatais ligados aos ministérios da Previdência, Aeronáutica, Trabalho e Fazenda.

Indenização
No balanço, a Vasp considerou como certo o recebimento de R$ 1,6 bilhão de indenização do governo federal por prejuízos causados pelo controle das tarifas aéreas nos anos 80. Baseia-se em pareceres de seus próprios advogados. A ação, com ganho parcial da Vasp, ainda não chegou ao Supremo Tribunal Federal.
Auditores independentes ouvidos pela Folha consideram que as ressalvas da Tríade terão que ser avaliadas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Isso significa que o balanço passará por um novo crivo de auditores. Isso também ocorreu com a Varig.
O balanço negativo da Vasp não é uma surpresa. Todas as companhias aéreas tiveram prejuízo no ano passado. A TAM teve um resultado negativo recorde de R$ 129,36 milhões. Na Transbrasil foi de R$ 87,66 milhões, e na Rio-Sul, de R$ 9,9 milhões.


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