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ARGENTINA
Medidas em estudo devem cortar US$ 300 mi no Orçamento, contra os US$ 4,5 bi previstos pelo ex-ministro López Murphy
Plano Cavallo tem imposto alto e pouco corte
JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES
O ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, pretende cumprir as metas de déficit
fiscal acertadas para este ano com
o FMI (Fundo Monetário Internacional) por meio da combinação de um novo imposto, já em vigor, com um tímido corte nos
gastos públicos.
Há dez dias passou a ser cobrado na Argentina o tributo sobre
movimentações financeiras, inspirado na CPMF brasileira, com o
qual o governo pretende arrecadar US$ 2,7 bilhões este ano. Cavallo agora prepara um pacote para cortar pelo menos US$ 300 milhões do Orçamento de 2001.
Quando do anúncio do pacote
de ajuda de quase US$ 40 bilhões
coordenado pelo FMI, no final do
ano passado, ficaram estabelecidas metas trimestrais -e a
anual- de déficit que a Argentina deveria honrar para ter direito
aos desembolsos (dinheiro).
Na segunda-feira chegará a
Buenos Aires a missão do FMI
que será responsável pela análise
das contas locais no primeiro trimestre e por dar o aval para que
possa ser liberada mais uma cota
do pacote, de US$ 1,26 bilhão, em
maio.
O governo não terá bons resultados para apresentar: a conjunção de baixa arrecadação de impostos (consequência da estagnação econômica) com pagamento
de altas taxas de juros para financiamento e maiores gastos nos setores de saúde e previdência provocou o estouro em cerca de US$
1 bilhão da meta de déficit para o
primeiro trimestre, que era de
US$ 2,1 bilhões. O resultado oficial sairá na próxima semana.
Com isso, os argentinos seriam
obrigados a pedir "perdão" pelo
não-cumprimento da meta do trimestre. Mas, segundo tem declarado insistentemente o ministro,
a meta anual permaneceria sem
mudanças, ou seja, continuaria
em US$ 6,5 bilhões.
O antecessor de Cavallo, Ricardo López Murphy, teve uma passagem-relâmpago (15 dias) no comando da economia argentina e
caiu ao defender um pacote para
redução de US$ 4,45 bilhões nos
gastos nos próximos dois anos.
De acordo com assessores, o
atual ministro pretende ter um
forte controle sobre a Anses, o órgão de seguridade social, de onde
sairia metade dos US$ 300 milhões que pretende poupar.
Entre as medidas que devem ser
anunciadas -não em um pacote,
mas dia a dia- estão a limitação a
no máximo US$ 600 dos benefícios para aposentados que se
mantêm no mercado de trabalho,
novos limites para os pagamentos
de salários-familia e pagamento
em cotas dos retroativos (benefícios que começam a ser contabilizados a partir da abertura do processo) para novos aposentados.
O ministro copiaria de López
Murphy a idéia de diminuir os repasses feitos pelo Tesouro Nacional às Províncias. Para evitar refregas políticas, em vez de US$ 100
milhões, como pretendia seu antecessor, poderia contentar-se
com pelo menos a metade.
Uma reorganização do Ministério da Saúde resultaria em outros
US$ 50 milhões de cortes de gastos -o plano foi confirmado pelo
próprio ministro Héctor Lombardo -que, no entanto, sustenta
que nenhum dos programas em
andamento será afetado.
E, diferentemente de seu antecessor, Cavallo terá, além da promessa de redução de gastos, outro
trunfo: os recursos que o governo
começou a assegurar a partir deste mês por meio da implantação
de um imposto sobre movimentações financeiras, que tem alíquota de 0,25% (contra 0,38% da
CPMF brasileira), mas incide
duas vezes, nos débitos e nos créditos. Por mês, segundo estimativa do secretário das Finanças, Daniel Marx, deverão ser arrecadados US$ 220 milhões.
Por fim, o governo retomou nos
últimos dias conversas com deputados das bancadas governista e
do Partido Justicialista (oposição)
para negociar acordo para a aprovação do projeto de reforma da
Previdência.
O presidente Fernando de la
Rúa determinou a reforma por
meio de decreto, em dezembro.
Como ela foi rechaçada, por meio
de ações na Justiça, tanto pelos
aliados de De la Rúa quanto pela
oposição, o governo preferiu cancelar o decreto e tentar promover
a reforma no Congresso, com
uma lei.
Entre os pontos básicos do projeto, aparecem o aumento da idade mínima de aposentadoria das
mulheres (de 60 para 65 anos) e a
eliminação de um complemento
pago pelo governo para os benefícios que superem os US$ 800.
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