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São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2003

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SEM FUNDO

Bird atribui indicadores ruins à seca de capitais e à economia fechada

Depois dos elogios ao país, Bird exibe desastre social

David S.Holloway/France Presse
Manifestantes da Coalizão de Solidariedade Latino-Americana fazem protesto em Washington durante o encontro do FMI e Bird


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Toda a chuva de elogios que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial deixaram cair sobre a atual equipe econômica e que valiam também para a anterior não impediram uma constatação humilhante, contida nos Indicadores de Desenvolvimento Mundial, divulgados ontem pelo Banco: o país continua sendo um desastre em termos sociais.
A expectativa de vida ao nascer é de apenas 68 anos, inferior à média (71 anos) dos países da América Latina/Caribe, região que não chega a ser modelo de desenvolvimento.
A renda per capita (US$ 3.070) também perde para a média latino-americana.
A taxa de alunos que completam o ensino básico (71%) é praticamente igual à de Bangladesh, um dos países mais miseráveis do planeta.
A desnutrição infantil, ou seja a porcentagem de crianças com peso abaixo do normal, é de 6%, igual à da Argélia, país que está ainda em uma feroz guerra civil.
As 36 por mil crianças que morrem antes dos cinco anos são mais que as 32/1000 que morrem no Líbano, outro país vítima de guerra civil.

Capitais
Diante dos números, a Folha perguntou a Nick Stern, economista-chefe do Banco Mundial, qual era o problema do Brasil, se maus conselhos dos organismos financeiros internacionais, má qualidade de suas instituições, má sorte ou um ambiente internacional desfavorável.
Stern apontou dois fatores: o fato de o Brasil ter enfrentando, nos últimos cinco ou seis anos, um ambiente internacional "desafiador", representado pela forte inversão do ciclo de investimentos externos.
"Os países mais envolvidos nos mercados internacionais de capitais sofrem com o decrescente apetite pelo risco (de parte dos investidores)", disse.
O segundo fator é o tradicional nas análises do economista-chefe do Banco: economias fechadas, como o Brasil historicamente foi e em certa medida continua sendo, têm mais dificuldades para se desenvolver.
Eric Swanson, principal responsável pelos "Indicadores", apontou a péssima distribuição de renda no Brasil como um dos obstáculos para o desenvolvimento e para a melhoria dos indicadores sociais.
Os dados divulgados ontem mostram o tamanho do problema: os 10% mais pobres no Brasil ficam com apenas 2% da renda nacional. Dos 120 países para os quais há dados, só quatro têm desigualdade maior (Colômbia, Lesoto, Namíbia e África do Sul). Outros quatro empatam com o Brasil (República Centro-Africana, Honduras, Paraguai e Serra Leoa).
O objetivo dos "Indicadores" é monitorar as Metas de Desenvolvimento do Milênio, os compromissos assumidos pelos países-membros da ONU durante reunião de cúpula realizada no ano 2000.
São, a saber: reduzir pela metade o número de pobres (os que vivem com US$ 1 por dia) até 2015; fazer com que todas as crianças completem a educação básica; e reduzir a mortalidade infantil.
A América Latina, como o Brasil, mostra avanços desapontadores. Segundo Stern, se mantiver crescimento econômico superior a 2%, como é a tendência atual, conseguirá cumprir apenas a meta relativa à pobreza. As crianças na escola serão 95%, e não 100%. E a mortalidade infantil estacionará em 30 por mil, quando deveria cair para 17 por mil.

Investimentos em educação
O fracasso social brasileiro não difere do restante dos países emergentes, sobretudo na educação. Segundo dados do Banco, coletados em 2000, a média dos investimentos em educação nos países ricos foi 28 vezes maior que a registrada entre os países em desenvolvimento. Na América Latina, por exemplo, o gasto por cada estudante do ensino fundamental ficou em US$ 403. Nos EUA, a média é de US$ 5.093.

Colaborou a Redação


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