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OPINIÃO ECONÔMICA
Surpresa! Agora somos o 15º
PAULO RABELLO DE CASTRO
Uma das principais notícias
da semana passada não foi
novidade, mas foi surpresa. Rendeu vários editoriais, entre recomendativos e consternados, o fato
de se haver atualizado a estatística da posição relativa do Brasil,
em termos de produção e renda
nacional, ante os demais países
do mundo. Feitas as contas
-bingo!-, o PIB brasileiro teria
caído da 12ª para a 15ª posição no
ranking dos países mais robustos.
Só que não há novidade nenhuma no fato. A surpresa está no fato de terem feito a conta, para
conferir o que todos já sabíamos:
que estamos partindo para uma
desclassificação antecipada do
campeonato mundial de países
considerados economicamente
relevantes. A surpresa é antiga.
Antes da eclosão dos chamados
"tigres asiáticos", que crescem a
uma faixa média de 7% a 8% por
ano, o desempenho brasileiro do
pós-guerra (período 1950-1980)
nos dava a chance até de disputar
a liderança mundial do crescimento. Quem não se lembra de
como era fácil (visto de hoje) arrumar um emprego ou empreender um negócio nos anos 60 ou 70?
O crescimento acelerado do país
proporcionava a multiplicação
das oportunidades, mesmo apesar da herança histórica de nossa
péssima distribuição de renda e a
gravosa falta de escolaridade básica. O país funcionava. Até o governo conseguia funcionar. Isso
era PIB crescendo. Com isso, chegamos a encostar na posição da
oitava economia do planeta, posição invejável para um país moreninho, pouco educado, mas alegre, altivo, cordial e trabalhador.
Esse era o Brasil.
A autoconfiança se perdeu. Vimos despencando há bastante
tempo no ranking dos países. Sem
surpresa, o Plano Real, com a provisória valorização da moeda que
propiciou, nos fez sentir que tínhamos reencontrado o pote de
ouro no quilo do frango cotado a
R$ 1 e nas viagens gastadoras dos
turistas brasileiros. Nesse breve
período, chegamos a calcular nosso PIB a US$ 800 bilhões, o que
nos devolvia a nona posição. Por
conta desse "barato", Lula perdeu
sua terceira eleição presidencial.
Mas era mentirinha...
O mundo cresce, em média, cerca de 3% ao ano. O Brasil está
com seu pedal de aceleração ajustado para rodar a 2% ao ano. É
para onde converge a curva do
PIB do Brasil dos últimos dez
anos. A matemática é simples. O
Brasil crescerá menos que a média mundial. A cada ano, um ou
dois países vão passar o tamanho
da economia brasileira até que
nos acomodemos lá pela 30ª posição. Nada de espantoso. É o que
temos feito por merecer.
Nossa definição de políticas econômicas não é voltada para o objetivo de crescer. Nosso compromisso político não é com o crescimento. Quando falo de compromisso, não me refiro a bondosas
declarações de intenção. Ninguém é bobo. Do presidente da
República ao mais modesto chefe
político local, todos sabem reconhecer o papel da esperança coletiva no imaginário de um povo.
Só que está difícil convencer o pessoal. Discursos e promessas desabam diante da fila dos desempregados ou debaixo do cobertor curto do orçamento familiar que não
chega ao final do mês. É a estagnação econômica de largos segmentos da vida nacional, por
benção divina aliviada de ruína
maior graças ao desempenho dos
setores "esquecidos": a agricultura, os serviços pessoais e os pequenos negócios.
Mas a grande verdade é que
não se pode mais falar de uma
"arquitetura do crescimento" no
Brasil, já que planejamento virou
palavrão, e plano de metas o mercado só deixa adotar se forem as
metas inflacionárias! Piada pura.
De mau gosto. Viramos personagens ridículos na cena mundial,
não porque sejamos mais pobres
ou menos dotados, mas por havermos perdido a chama do querer. Quando uma torcida se enraivece diante do time que só decepciona, isso é bom. Mas a torcida
pelo crescimento do Brasil está
abafada pelo mais abjeto conformismo, uma espécie de tolerância
na espera tão absurda quanto a
do solitário passageiro aguardando o trem na velha estação desativada.
Uma notícia financeira, também da última semana, emoldura
e dá o colorido pálido dessa realidade. A notícia boa é que a CPMF
vai deixar de ser cobrada em
transferências realizadas, por um
mesmo investidor, entre distintas
contas de seus investimentos. Ou
seja, o Estado deixa de cobrar o
pedágio da CPMF quando o investidor transfere depósitos na
tentativa de melhorar o desempenho de sua carteira.
Só que há a má notícia junto. A
bondade do fisco de não cobrar o
que jamais deveria ser objeto de
cobrança só começa a vigorar em
agosto e para contas novas. As
contas já existentes, só daqui a
dois anos. Entendeste o porquê?
Se não, é por que compreendeste o
sentido maior da coisa. Não há
aquela urgência em prol da desobstrução dos obstáculos ao crescimento. Não há a angústia pelo
aperfeiçoamento, por exemplo,
dos instrumentos de formação
das poupanças familiares de longo prazo. Outro exemplo. Pela regra atual, o fisco taxa, como se
fosse produto de uma renda
anual, o resultado do pecúlio de
poupança formado por um cidadão de renda baixa ao longo de 10
ou 20 anos de acumulação constante.
Não há o desenho de um mercado de capitais capaz de ajudar o
país a voltar a crescer no seu potencial. Por isso, amargamos, hoje, a 15ª posição. Por enquanto.
Paulo Rabello de Castro, 55, doutor em
economia pela Universidade de Chicago
(EUA), é vice-presidente do Instituto
Atlântico e chairman da SR Rating, agência brasileira de classificação de riscos de
crédito. Escreve às quartas-feiras, a cada
15 dias, nesta coluna.
E-mail -
rabellodecastro@uol.com.br
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