São Paulo, domingo, 14 de maio de 2000


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ANÁLISE

Para banqueiros, governo é culpado pela lentidão da venda do Banespa

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

A ltos executivos de bancos interessados em arrematar o Banespa estão disparando contra a atuação do governo federal à frente do processo de privatização.
Os adjetivos escolhidos para classificar as atitudes do governo são fortes. Para um desses banqueiros, por exemplo, "só burrice" explica a sucessão de liminares que está paralisando a venda.
Na última semana, uma liminar de última hora conseguiu impedir a abertura das salas de informação do Banespa. Para piorar, a nova liminar considerou nula a lista dos nove bancos pré-qualificados para participar do leilão.
Tudo por um erro primário do governo, avaliam banqueiros.
No dia 4 de abril, o Banco Central divulgou a tal lista. Antecipou em um dia o que estava previsto no cronograma e driblou outra liminar sob a alegação da não-notificação a tempo. O Sindicato dos Bancários de São Paulo entrou com o pedido de nova liminar usando justamente o argumento de que o BC havia desrespeitado a decisão judicial no dia 4.
Os interessados no Banespa não entendem também por que o governo não mobilizou, logo de cara, um batalhão de advogados para contra-atacar em uma guerra de liminares que todos sabiam que iria acontecer. Foi a estratégia na venda da Vale e da Telebrás.
A avaliação geral é que o processo de privatização, que já se arrasta por cinco anos, é uma sucessão de erros banais, que poderiam ter sido facilmente evitados.
Ninguém compreende, também, como o Banespa, administrado pelo governo federal -no caso, o BC-, conseguiu ser multado em R$ 1,8 bilhão pelo próprio governo federal -no caso, a Receita Federal. A explicação que o sindicato dos bancários encontrou é que trata-se de um "jeitinho" para baratear o banco. Pode ser, mas para muita gente ficou a impressão de descontrole.
Tantas trapalhadas deixam o mercado de orelha em pé. Banqueiros ouvidos pela Folha aventam hipóteses como desinteresse do vendedor, outros acreditam que o governo está mesmo perdido. Há quem sinta falta da experiência do BNDES na operação. Mas também há quem lembre que a privatização do IRB, nas mãos do BNDES, está tão enrolada quanto a do Banespa.
Todos mencionam que falta alguém com pulso firme à frente do processo. Um "trator", como foram Sérgio Motta e Luiz Carlos Mendonça de Barros nas privatizações da Vale e Telebrás.
As queixas são de que o presidente do BC, Armínio Fraga, diz que quer vender o banco, mas não se compromete com o processo.
Uma das explicações para esse comportamento displicente do governo com o Banespa é que o ano é eleitoral e existe um risco real de o leilão não sair. Ou seja, quem pode tocar essa privatização não quer se expor muito com medo de sair desgastado na hipótese de um fracasso.
O problema é que, quanto mais passa o tempo, mais o "ativo Banespa" corre riscos de se depreciar. O banco é federal há cinco anos, período em que se fez um trabalho de saneamento, mas não houve evolução de produtos, tecnologia ou pessoal. É um banco que não empresta como poderia, que fica para trás em uma época de rápidas transformações. Ou, como diz um banqueiro: "O pessoal lá só faz o feijão com arroz, à espera de chegar o dia da venda".



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