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ANÁLISE
Para banqueiros, governo é culpado pela lentidão da venda do Banespa
VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A ltos executivos de
bancos interessados em arrematar o Banespa estão disparando contra a atuação do governo federal à frente do processo de
privatização.
Os adjetivos escolhidos para
classificar as atitudes do governo
são fortes. Para um desses banqueiros, por exemplo, "só burrice" explica a sucessão de liminares que está paralisando a venda.
Na última semana, uma liminar
de última hora conseguiu impedir
a abertura das salas de informação do Banespa. Para piorar, a nova liminar considerou nula a lista
dos nove bancos pré-qualificados
para participar do leilão.
Tudo por um erro primário do
governo, avaliam banqueiros.
No dia 4 de abril, o Banco Central divulgou a tal lista. Antecipou
em um dia o que estava previsto
no cronograma e driblou outra liminar sob a alegação da não-notificação a tempo. O Sindicato dos
Bancários de São Paulo entrou
com o pedido de nova liminar
usando justamente o argumento
de que o BC havia desrespeitado a
decisão judicial no dia 4.
Os interessados no Banespa não
entendem também por que o governo não mobilizou, logo de cara, um batalhão de advogados para contra-atacar em uma guerra
de liminares que todos sabiam
que iria acontecer. Foi a estratégia
na venda da Vale e da Telebrás.
A avaliação geral é que o processo de privatização, que já se arrasta por cinco anos, é uma sucessão
de erros banais, que poderiam ter
sido facilmente evitados.
Ninguém compreende, também, como o Banespa, administrado pelo governo federal -no
caso, o BC-, conseguiu ser multado em R$ 1,8 bilhão pelo próprio governo federal -no caso, a
Receita Federal. A explicação que
o sindicato dos bancários encontrou é que trata-se de um "jeitinho" para baratear o banco. Pode
ser, mas para muita gente ficou a
impressão de descontrole.
Tantas trapalhadas deixam o
mercado de orelha em pé. Banqueiros ouvidos pela Folha aventam hipóteses como desinteresse
do vendedor, outros acreditam
que o governo está mesmo perdido. Há quem sinta falta da experiência do BNDES na operação.
Mas também há quem lembre
que a privatização do IRB, nas
mãos do BNDES, está tão enrolada quanto a do Banespa.
Todos mencionam que falta alguém com pulso firme à frente do
processo. Um "trator", como foram Sérgio Motta e Luiz Carlos
Mendonça de Barros nas privatizações da Vale e Telebrás.
As queixas são de que o presidente do BC, Armínio Fraga, diz
que quer vender o banco, mas não
se compromete com o processo.
Uma das explicações para esse
comportamento displicente do
governo com o Banespa é que o
ano é eleitoral e existe um risco
real de o leilão não sair. Ou seja,
quem pode tocar essa privatização não quer se expor muito com
medo de sair desgastado na hipótese de um fracasso.
O problema é que, quanto mais
passa o tempo, mais o "ativo Banespa" corre riscos de se depreciar. O banco é federal há cinco
anos, período em que se fez um
trabalho de saneamento, mas não
houve evolução de produtos, tecnologia ou pessoal. É um banco
que não empresta como poderia,
que fica para trás em uma época
de rápidas transformações. Ou,
como diz um banqueiro: "O pessoal lá só faz o feijão com arroz, à
espera de chegar o dia da venda".
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