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TRABALHO
Auditoria do TCU questiona metas, beneficiários e resultados do programa de combate ao desemprego do governo
Tribunal vê desvio e ineficiência no FAT
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Desempregados e trabalhadores
ameaçados de perder seus empregos representam menos da metade das matrículas em cursos de
qualificação profissional promovidos com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Tais cursos estão entre os mais
importantes programas sociais
do governo e se propõem a combater o desemprego. O FAT é um
fundo composto de contribuições
das empresas.
A quarta parte dos beneficiários
dos cursos de qualificação é de
trabalhadores com carteira assinada, constatou auditoria feita
pelo TCU (Tribunal de Contas da
União), num dos vários sinais de
desvio no perfil da clientela do
programa. Sua eficiência é considerada duvidosa pelos auditores.
O Planfor (Plano Nacional de
Qualificação Profissional) deverá
investir neste ano R$ 502 milhões.
O Orçamento da União para 2000
destina a maior parcela desse dinheiro à qualificação de micro e
pequenos empreendedores e não
de desocupados.
Trata-se de um sinal de que o
desvio de foco criticado pelo TCU
e reconhecido recentemente pelo
governo federal pode persistir.
Os problemas no Planfor não
param aí. Eles começam, aliás,
nas principais metas definidas pelo governo, diagnosticam os auditores do TCU.
Ao pretender treinar 20% dos
brasileiros acima de 14 anos - a
chamada PEA (População Economicamente Ativa)-, o plano dá
mais importância à quantidade
de matrículas do que à qualidade
do treinamento e à sua eficiência
no combate ao desemprego.
Segundo o governo, durante o
primeiro mandato de Fernando
Henrique Cardoso teriam sido
treinados 5,7 milhões de pessoas,
superando as metas oficiais.
O programa consumiu mais de
R$ 1 bilhão nesses quatro anos.
Mas não há, nesse período, nenhum acompanhamento do grau
de sucesso do programa - a verificação de quantas pessoas treinadas teriam conseguido uma vaga
no mercado de trabalho.
""Fomos informados (pelo Ministério do Trabalho) de que levavam em conta até mesmo o efeito
psicológico da conclusão do curso, elevando o moral dos participantes e aumentando sua produtividade, mesmo que nenhum outro benefício fosse obtido ou que a
área de trabalho não se relacionasse com o curso. Consideramos
inaceitável o argumento", relata a
auditoria.
""A meta deveria incentivar a
qualidade e não a quantidade",
insiste o relatório, aprovado pelos
ministros do tribunal e transformado em recomendação ao governo no mês passado.
Como as análises de desempenho do Planfor feitas pelos auditores do TCU basearam-se em
grande parte nos dados fornecidos pelos parceiros do Ministério
do Trabalho na execução do plano, elas não contabilizaram supostas matrículas fictícias, nem as
pessoas que se inscreveram mas
não chegaram a concluir os cursos de qualificação.
Indícios de irregularidades na
aplicação de recursos do FAT foram detectados em levantamentos preliminares feitos no Distrito
Federal, na Paraíba, no Rio Grande do Sul e em São Paulo.
Um dos exemplos de desvio de
foco do Planfor listados pela auditoria ocorreu no convênio do governo federal com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo) -a entidade privada
que mais recebeu recursos do
FAT para qualificação profissional em 1998 (R$ 14,6 milhões).
A Fiesp aplicou a maior parte do
dinheiro no Telecurso 2000, promovido pela Fundação Roberto
Marinho. Para o TCU, foi um caso
de duplo desvio de foco do Planfor: a maioria dos treinados (66%)
já estava empregada e, além disso,
o programa tenta suprir deficiências de educação básica dos trabalhadores e não promover educação profissional.
Outro detalhe registrado pelos
auditores: nas informações prestadas sobre os cursos, a Fiesp informou que o número de homens
treinados era de 6.829,6 -alguém
deve ter sido treinado pela metade. A Fiesp também gastou quase
R$ 1 milhão num congresso sobre
educação profissional, ao custo de
R$ 760 por participante.
Fernando Carvalho, assessor da
Fiesp para os projetos ligados ao
Telecurso 2000, contesta as conclusões do TCU. "Se há um problema, é no enfoque dado pelo
auditor. Estamos amparados no
no Codefat (resolução nº 194 de
23 de setembro de 1998), que diz
que o Planfor também se destina,
no que se refere às parcerias, à elevação da escolaridade", diz.
"O aumento da escolaridade é
para manter o profissional no emprego. É dessa forma que utilizamos o Telecurso 2000", prossegue
Carvalho. "Se formos notificados
dessas possíveis irregularidades,
temos a nossa defesa."
Entre as principais linhas de
treinamento dos convênios feitos
para a execução do Planfor por
governos estaduais, o TCU também considerou distorcido o programa destinado a servidores da
administração pública. ""Esses
cursos são voltados a funcionários públicos estáveis, que não estão em processo de demissão", registraram os auditores.
Distribuição
O relatório do TCU aponta distorções também na distribuição
de recursos do FAT entre os Estados. O repasse do dinheiro foi vinculado não à quantidade de desempregados em cada Estado,
mas à capacidade de os governos
estaduais aplicarem os recursos.
Embora São Paulo lidere a lista
em volume de gastos, o investimento é baixo se comparado ao
número de desocupados que procuravam emprego no Estado. Enquanto em São Paulo o investimento por desocupado não atingiu R$ 17, no Distrito Federal ele
chegou a R$ 223,51 por desocupado.
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