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OPINIÃO ECONÔMICA
Tristes madrugadas foram aquelas (2)...
BENJAMIN STEINBRUCH
Você lembra. Tristes madrugadas foram aquelas da
Olimpíada de Sidney, em 2000. O
velejador Robert Scheidt lutou
em vão contra covardes manobras do inglês Bem Aislei. As meninas e os meninos do vôlei de praia deram o sangue, mas também não conseguiram medalhas
de ouro. O cavalo campeão Baloubet du Rouet recusou-se a saltar os obstáculos na prova que daria o ouro a Rodrigo Pessoa.
Voltamos de uma Olimpíada, pela primeira vez desde 1976, sem
nenhuma medalha de ouro
-nem a do futebol, que parecia
certa na final contra os humildes
atletas de Camarões.
Vamos de novo para uma competição internacional de grande
importância, a Copa do Mundo
do Japão/ Coréia do Sul. A seleção que seguiu domingo para o
exterior representa um futebol
brasileiro incrivelmente desorganizado. Não dá para acreditar
muito numa instituição em que
os dirigentes não prestam contas
de seus atos administrativos e financeiros, os clubes fazem transações fantasmas, alteram documentos de jogadores e os ingressos para arquibancadas numeradas não têm número.
Apesar de tudo isso e do pessimismo generalizado, o penta é
possível. Temos um conjunto de
extraordinários jogadores, como
Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho,
Rivaldo, Roberto Carlos, Denílson, Cafu, além de jovens promessas como Kaká.
O técnico Luiz Felipe Scolari
decidiu deixar fora da lista um
desses craques, Romário. Acho
que acertou por uma razão elementar: não há hipótese de sucesso esportivo sem disciplina,
profissionalismo e determinação.
Romário, que também já não é
mais nenhum menino, mantêm-se constantemente fora de forma
física.
Se quiser ganhar a Copa, a partir de agora nenhuma estrela poderá pretender brilhar mais do
que as outras. A seleção tem de
ser uma constelação. O fracasso
da seleção olímpica se deu exatamente por falta desse espírito coletivo e de determinação. Em Sidney, como definiu na época o ex-jogador Tostão, sofremos de empáfia, comportamento que surgiu com as atitudes do próprio
técnico Wanderley Luxemburgo.
A seleção parecia se considerar
dona de um futebol dourado, invencível, que acabou batido pelos
determinados camaroneses, que
terminaram a partida com nove
jogadores.
É bom que a seleção tenha embarcado sem grandes expectativas, por baixo e sem máscara. A
esse comportamento humilde,
porém, deve-se juntar o espírito
patriótico. O futebol, como outros setores, está precisando recuperar um pouco da velha afirmação nacional.
O sucesso na Copa é importantíssimo para a imagem do Brasil.
No total, cerca de 41 bilhões de espectadores deverão acompanhar
os jogos pela TV em todo o mundo. O futebol movimenta em nosso país cerca de US$ 7 bilhões por
ano, com seus mais de 30 milhões
de praticantes (2.000 jogadores
profissionais), 3,3 milhões de
chuteiras e 32 milhões de camisas
vendidas. Além disso, esse esporte é uma opção de lazer para centenas de milhares de pessoas por
semana, movimenta a publicidade e cria empregos.
Foi muito triste verificar, nas
madrugadas olímpicas de 2000,
que o Brasil havia regredido em
várias modalidades esportivas
por falta de apoio, de organização e de determinação. O time de
Scolari poderá alegrar nossas
madrugadas de junho. Joga a favor das estatísticas. Nunca uma
seleção européia ganhou uma
Copa fora de seu continente. Não
há nenhum país asiático em condições de chegar à final. Logo,
considerado o retrospecto, o título será sul-americano -do Brasil ou da Argentina. Eu confio.
Boa sorte, Brasil!
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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