São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

Tristes madrugadas foram aquelas (2)...

BENJAMIN STEINBRUCH

Você lembra. Tristes madrugadas foram aquelas da Olimpíada de Sidney, em 2000. O velejador Robert Scheidt lutou em vão contra covardes manobras do inglês Bem Aislei. As meninas e os meninos do vôlei de praia deram o sangue, mas também não conseguiram medalhas de ouro. O cavalo campeão Baloubet du Rouet recusou-se a saltar os obstáculos na prova que daria o ouro a Rodrigo Pessoa. Voltamos de uma Olimpíada, pela primeira vez desde 1976, sem nenhuma medalha de ouro -nem a do futebol, que parecia certa na final contra os humildes atletas de Camarões.
Vamos de novo para uma competição internacional de grande importância, a Copa do Mundo do Japão/ Coréia do Sul. A seleção que seguiu domingo para o exterior representa um futebol brasileiro incrivelmente desorganizado. Não dá para acreditar muito numa instituição em que os dirigentes não prestam contas de seus atos administrativos e financeiros, os clubes fazem transações fantasmas, alteram documentos de jogadores e os ingressos para arquibancadas numeradas não têm número.
Apesar de tudo isso e do pessimismo generalizado, o penta é possível. Temos um conjunto de extraordinários jogadores, como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Roberto Carlos, Denílson, Cafu, além de jovens promessas como Kaká.
O técnico Luiz Felipe Scolari decidiu deixar fora da lista um desses craques, Romário. Acho que acertou por uma razão elementar: não há hipótese de sucesso esportivo sem disciplina, profissionalismo e determinação. Romário, que também já não é mais nenhum menino, mantêm-se constantemente fora de forma física.
Se quiser ganhar a Copa, a partir de agora nenhuma estrela poderá pretender brilhar mais do que as outras. A seleção tem de ser uma constelação. O fracasso da seleção olímpica se deu exatamente por falta desse espírito coletivo e de determinação. Em Sidney, como definiu na época o ex-jogador Tostão, sofremos de empáfia, comportamento que surgiu com as atitudes do próprio técnico Wanderley Luxemburgo. A seleção parecia se considerar dona de um futebol dourado, invencível, que acabou batido pelos determinados camaroneses, que terminaram a partida com nove jogadores.
É bom que a seleção tenha embarcado sem grandes expectativas, por baixo e sem máscara. A esse comportamento humilde, porém, deve-se juntar o espírito patriótico. O futebol, como outros setores, está precisando recuperar um pouco da velha afirmação nacional.
O sucesso na Copa é importantíssimo para a imagem do Brasil. No total, cerca de 41 bilhões de espectadores deverão acompanhar os jogos pela TV em todo o mundo. O futebol movimenta em nosso país cerca de US$ 7 bilhões por ano, com seus mais de 30 milhões de praticantes (2.000 jogadores profissionais), 3,3 milhões de chuteiras e 32 milhões de camisas vendidas. Além disso, esse esporte é uma opção de lazer para centenas de milhares de pessoas por semana, movimenta a publicidade e cria empregos.
Foi muito triste verificar, nas madrugadas olímpicas de 2000, que o Brasil havia regredido em várias modalidades esportivas por falta de apoio, de organização e de determinação. O time de Scolari poderá alegrar nossas madrugadas de junho. Joga a favor das estatísticas. Nunca uma seleção européia ganhou uma Copa fora de seu continente. Não há nenhum país asiático em condições de chegar à final. Logo, considerado o retrospecto, o título será sul-americano -do Brasil ou da Argentina. Eu confio. Boa sorte, Brasil!


Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br


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