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DIAS DE TENSÃO
Governo defende política econômica e mantém previsão para o PIB
Para Palocci, turbulência
externa não afetará o Brasil
GUSTAVO PATU
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, defenderam
ontem a política econômica e disseram a uma platéia formada majoritariamente por empresários e
sindicalistas que a atual turbulência financeira não prejudicará o
crescimento econômico esperado
neste ano, de 3,5%.
"Não há razão para acreditar
que essa movimentação que ocorre hoje [a expectativa de alta dos
juros nos EUA] possa trazer uma
deterioração das nossas contas e
da nossa retomada de crescimento", disse Palocci, que incluiu o tema na exposição que fez ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
No encontro, cujo tema era "a
retomada do crescimento sustentado", vários dos presentes manifestaram sua preocupação com os
efeitos do aumento dos juros
americanos sobre o setor produtivo brasileiro.
"Nós sabemos o que representa
a economia mundial, sabemos o
que pode significar o aprofundamento da crise para os países
emergentes, mas aqui no Brasil
estamos totalmente tranqüilos e
espero que o Palocci tenha passado essa tranqüilidade para vocês",
disse Lula aos conselheiros.
"Não há nada pior para um político, para um governo, do que o
chamado medo premeditado ou a
tomada de posição em razão de
uma coisa que nem sabemos se
vai acontecer. Nós tomamos uma
decisão, um rumo e vamos seguir
nele até porque até agora ele deu
mais certo do que errado", disse.
A estratégia de convencimento
de Palocci foi comparar sete indicadores atuais com os do ano
2000 -que não foi escolhido por
acaso: foi um ano de alta nos juros
dos Estados Unidos, que não impediu, porém, o crescimento de
4,36% do PIB (Produto Interno
Bruto) brasileiro.
Foram comparados inflação, taxa de juros, superávit primário (a
economia de receitas públicas
destinada a pagar juros da dívida), balança comercial, volume de
títulos indexados à variação cambial, juros pagos pelos títulos da
dívida externa e relação entre dívida pública e PIB.
Segundo o quadro exibido por
Palocci com o título "Uma economia menos vulnerável", o país ostenta números melhores que os
de 2000 em seis dos sete indicadores. O raciocínio, porém, merece
ressalvas. O indicador que apresenta piora é justamente o mais
importante deles: a dívida pública, que passou de 48,8% do PIB,
em 2000, para 57,4% agora. Para
os investidores, o alto endividamento do setor público é o principal fator de incerteza em relação à
solidez da economia.
Ainda na tabela de Palocci, o título mais negociado da dívida externa brasileira, o C-Bond, pagou
no primeiro trimestre juros 5,69
pontos percentuais acima da taxa
dos papéis americanos, contra
7,24 pontos em 2000. No entanto,
o risco-país, calculado com critérios similares, tem subido fortemente neste ano. Ontem, caiu
1,80%, para 763 pontos.
Aos conselheiros, tradicionalmente críticos da política ortodoxa da Fazenda, o ministro disse
que "o Brasil precisa de um período prolongado de ajuste" para
chegar a um equilíbrio permanente. "A ousadia consiste em ser
persistente", afirmou.
Empresários
Os empresários e economistas
que são membros do Conselho
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social estão, diferentemente do governo, divididos
em relação aos efeitos da conjuntura internacional sobre a economia brasileira.
O economista José Carlos Braga, professor da Unicamp, disse
que o Brasil ainda é bastante vulnerável aos choques externos.
"Não podemos deitar falação definitiva sobre o que vai acontecer.
O grau de névoa é muito grande."
Essa também é a opinião do
presidente da Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo), Horacio Lafer Piva. "Tudo
vai depender do desenvolvimento
da economia mundial e da economia americana. Se a economia
mundial não andar com o vigor
necessário, o Brasil vai sofrer."
Embora não tenha comentado
possíveis efeitos sobre a economia
brasileira, o presidente da Confederação Nacional da Indústria,
deputado Armando Monteiro
Neto (PTB-PE), ressaltou o lado
positivo da instabilidade atual.
"Seria pior se fosse um quadro
recessivo. Mas, para enfrentar isso, os fundamentos da economia
brasileira estão mais sólidos."
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