São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIAS DE TENSÃO

Governo defende política econômica e mantém previsão para o PIB

Para Palocci, turbulência externa não afetará o Brasil

GUSTAVO PATU
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, defenderam ontem a política econômica e disseram a uma platéia formada majoritariamente por empresários e sindicalistas que a atual turbulência financeira não prejudicará o crescimento econômico esperado neste ano, de 3,5%.
"Não há razão para acreditar que essa movimentação que ocorre hoje [a expectativa de alta dos juros nos EUA] possa trazer uma deterioração das nossas contas e da nossa retomada de crescimento", disse Palocci, que incluiu o tema na exposição que fez ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
No encontro, cujo tema era "a retomada do crescimento sustentado", vários dos presentes manifestaram sua preocupação com os efeitos do aumento dos juros americanos sobre o setor produtivo brasileiro.
"Nós sabemos o que representa a economia mundial, sabemos o que pode significar o aprofundamento da crise para os países emergentes, mas aqui no Brasil estamos totalmente tranqüilos e espero que o Palocci tenha passado essa tranqüilidade para vocês", disse Lula aos conselheiros.
"Não há nada pior para um político, para um governo, do que o chamado medo premeditado ou a tomada de posição em razão de uma coisa que nem sabemos se vai acontecer. Nós tomamos uma decisão, um rumo e vamos seguir nele até porque até agora ele deu mais certo do que errado", disse.
A estratégia de convencimento de Palocci foi comparar sete indicadores atuais com os do ano 2000 -que não foi escolhido por acaso: foi um ano de alta nos juros dos Estados Unidos, que não impediu, porém, o crescimento de 4,36% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
Foram comparados inflação, taxa de juros, superávit primário (a economia de receitas públicas destinada a pagar juros da dívida), balança comercial, volume de títulos indexados à variação cambial, juros pagos pelos títulos da dívida externa e relação entre dívida pública e PIB.
Segundo o quadro exibido por Palocci com o título "Uma economia menos vulnerável", o país ostenta números melhores que os de 2000 em seis dos sete indicadores. O raciocínio, porém, merece ressalvas. O indicador que apresenta piora é justamente o mais importante deles: a dívida pública, que passou de 48,8% do PIB, em 2000, para 57,4% agora. Para os investidores, o alto endividamento do setor público é o principal fator de incerteza em relação à solidez da economia.
Ainda na tabela de Palocci, o título mais negociado da dívida externa brasileira, o C-Bond, pagou no primeiro trimestre juros 5,69 pontos percentuais acima da taxa dos papéis americanos, contra 7,24 pontos em 2000. No entanto, o risco-país, calculado com critérios similares, tem subido fortemente neste ano. Ontem, caiu 1,80%, para 763 pontos.
Aos conselheiros, tradicionalmente críticos da política ortodoxa da Fazenda, o ministro disse que "o Brasil precisa de um período prolongado de ajuste" para chegar a um equilíbrio permanente. "A ousadia consiste em ser persistente", afirmou.

Empresários
Os empresários e economistas que são membros do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social estão, diferentemente do governo, divididos em relação aos efeitos da conjuntura internacional sobre a economia brasileira.
O economista José Carlos Braga, professor da Unicamp, disse que o Brasil ainda é bastante vulnerável aos choques externos. "Não podemos deitar falação definitiva sobre o que vai acontecer. O grau de névoa é muito grande."
Essa também é a opinião do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva. "Tudo vai depender do desenvolvimento da economia mundial e da economia americana. Se a economia mundial não andar com o vigor necessário, o Brasil vai sofrer."
Embora não tenha comentado possíveis efeitos sobre a economia brasileira, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), ressaltou o lado positivo da instabilidade atual.
"Seria pior se fosse um quadro recessivo. Mas, para enfrentar isso, os fundamentos da economia brasileira estão mais sólidos."


Texto Anterior: Luís Nassif: O MCT esclarece
Próximo Texto: FMI elogia resposta do país à volatilidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.