São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

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VIZINHO EM CRISE

Governo quer tempo para elaborar proposta para credores privados; missão voltará ao país somente em junho

Argentina adia revisão de acordo com FMI

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

O governo argentino pediu ao FMI (Fundo Monetário Internacional) o adiamento da terceira revisão do atual acordo do país com o organismo, que estava prevista para a próxima semana.
A informação foi divulgada ontem pelo porta-voz da instituição em Washington, Thomas Dawson. De acordo com o FMI, o governo argentino pretende dedicar-se à elaboração da proposta que fará aos credores privados de sua dívida de mais de US$ 100 bilhões, em moratória desde 2002.
Atendendo ao pedido, o FMI chegará a Buenos Aires apenas em junho, para analisar as contas públicas e a política macroeconômica do país, o que está previsto no acordo de US$ 13 bilhões assinado em setembro de 2003.
Dessa vez, o FMI vai analisar também as políticas públicas, entre elas o plano anunciado pelo governo para atravessar a crise de energia elétrica, que ameaça a projeção de crescimento econômico (entre 6% e 7% neste ano).
De acordo com Dawson, "a reestruturação da dívida argentina não é um tema menor para o FMI". O Fundo vem insistindo em que a Argentina melhore a oferta aos credores.
A Argentina vem oferecendo pagar a dívida com um desconto de 75% do valor de face, ou seja, dos cerca de US$ 88 bilhões em moratória sem incluir os quase US$ 27 bilhões de juros acumulados, atrasados desde 2002.
Na avaliação do economista Carlos Arbia, da Consultoria Exante, a Argentina escolheu "um péssimo momento" para renegociar a dívida. Segundo ele, desde que o país decretou moratória, há 28 meses, os Estados Unidos estão mantendo a taxa de juros em um patamar historicamente baixo, 1% ao ano. No entanto, o presidente do Fed (banco central americano), Alan Greenspan, já anunciou que os juros vão subir gradativamente.
"Isso fará com que os credores ofereçam piores condições para a Argentina", avalia. Segundo Arbia, o governo já deveria ter concluído a reestruturação. Na avaliação do especialista, o país corre o risco de não renovar o acordo com o FMI em setembro, caso a reestruturação não esteja aprovada pelo SEC (Security Exchange Comission), a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.
Como a maior parte dos títulos argentinos tem jurisdição em Nova York, o sucesso da renegociação depende da aprovação dessa comissão, o que poderá levar até seis meses. "A aprovação pode não sair até setembro", afirma.


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