São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

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INVESTIMENTOS

Cerca de 10% das carteiras registraram retorno negativo na quarta-feira; para associação, oscilações são normais

Fundos voltam a perder com turbulências

Orlando Kissner/France Presse
Operadores durante o pregão de ontem na Bolsa de Mercadorias & Futuros; oscilações voltaram a afetar fundos de renda fixa


ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

As fortes oscilações do mercado financeiro voltaram a afetar a remuneração de fundos de renda fixa anteontem. De um total de mais de 400, 46 desses fundos registraram retorno negativo na última quarta-feira. Segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), oscilações desse tipo na rentabilidade dessas aplicações são normais e podem voltar a se repetir.
"Fundo com variação negativa, eventualmente, é normal em um mercado que faz marcação diária das cotas, como o nosso", diz Marcelo Giufrida, vice-presidente da Anbid.
Giufrida, no entanto, recomenda aos investidores que tiveram perdas nos últimos dias que não fujam dos fundos agora.
"Tirar o dinheiro depois de ter tido uma perda em um dia é como dirigir olhando para trás. É a regra básica do que não se deve fazer quando se investe em fundos", afirma Giufrida.
De acordo com ele, os investidores que mantiverem suas aplicações terão a chance de recuperar a remuneração negativa que sofreram em um dia, já aqueles que sacarem os recursos terão de contabilizar e amargar a perda.

Causas das perdas
As perdas de anteontem foram causadas pela forte alta dos juros no mercado futuro, assim como havia ocorrido na última segunda-feira, quando cem fundos de renda fixa registraram rentabilidade negativa.
Fundos de renda fixa ganham quando os juros futuros recuam e perdem quando essas taxas sobem. Têm em suas carteiras títulos públicos e privados que oferecem retorno prefixado.
Quando os juros sobem, o retorno predeterminado desses papéis fica abaixo das taxas praticadas no mercado. Para corrigir esse ajuste nos juros, o preço desses títulos sofre uma depreciação, o que pode fazer com que as cotas dos fundos fiquem negativas.
Isso ocorreu na segunda-feira, anteontem e voltou a se repetir ontem. Por isso, segundo analistas, é possível que ontem tenha sido outro dia de perda para fundos prefixados. Isso só ficará claro hoje no final do dia quando forem divulgadas as cotas desses fundos.
No entanto, à medida que os gestores mudam as posições das carteiras que provocaram perdas, a tendência é que a magnitude dessas carteiras diminua.
Por isso o retorno de alguns fundos de renda fixa chegou a ultrapassar -1%, na última segunda-feira, mas, anteontem, atingiu -0,56% no pior caso.
De acordo com Giufrida, é normal que oscilações negativas ocorram. Ele diz que 2003 foi uma exceção devido às condições muito favoráveis do mercado com o excesso de recursos aplicados em mercados emergentes.
"O ano passado não é a representação do que serão outros. Talvez o investidor tenha se apegado a uma idéia de que os fundos não podem ter retorno negativo pelo que viram em 2003. Mas ele tem de ser maduro para aceitar que isso pode ocorrer, sim."
Giufrida diz que a oscilação negativa de alguns fundos de renda fixa nos últimos dias ainda não anulou a rentabilidade média positiva de 4,91% que a categoria tinha até o início de abril.
Sobre os rumores de que alguns gestores não estariam cumprindo a regra que os obriga a registrar a variação dos títulos que compõem as carteiras dos fundos todos os dias, Giufrida diz não ter informação sobre isso.
"Isso é assunto da CVM [Comissão de Valores Mobiliários]", afirma ele.


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